A grande maioria dos recursos hídricos disponíveis vem do subsolo. A água da superfície permeia o solo e se acumula em grandes bolsões de umidade, os aquíferos. O Brasil está sob um território afortunado em recursos hídricos e se utiliza bastante dessa característica. Segundo dados do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (Cepas USP), 52% dos 5.570 municípios brasileiros dependem total ou parcialmente das águas subterrâneas para o abastecimento público. Mais além, 35 milhões de brasileiros que não têm acesso a água encanada dependem exclusivamente das águas subterrâneas para a sobrevivência. 

 Nos últimos anos, porém, a contaminação dessa fonte por ações humanas vem aumentando. Segundo dados da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a contaminação de áreas com água subterrânea cresceu cerca de 28% entre 2015 e 2022. Para mitigar os danos desse cenário, uma equipe do Centro de Pesquisa de Água Subterrânea da USP desenvolveu a patente Eucalyremediation, que utiliza  árvores de eucalipto para drenar a contaminação do solo. 

Nascentes
Nascentes/águas subterrâneas (Foto: Arquivo/Prefeitura de Anápolis)

Ricardo Hirata, um dos desenvolvedores da patente, explica que o projeto é “um processo para tratar águas subterrâneas contaminadas devido à atividade humana na superfície”. Utilizando-se do grande potencial das árvores de eucalipto, a equipe se preocupou em desenvolver um método de manejo da espécie economicamente viável e com alta efetividade em seu objetivo. 

“Geralmente, os métodos tradicionais envolvem altos custos, são muito demorados e são muito complexos em termos de engenharia. Então, durante os nossos estudos com áreas de eucalipto, nós descobrimos que essa planta tem a capacidade de colocar raízes a 5 metros abaixo do nível do freático. Com isso, as raízes, no seu processo fisiológico, retiram essa água, juntamente com os nutrientes e contaminantes, e levam ela para a planta. A planta precisa fazer isso para evapotranspiração”, detalha.

Ricardo Hirata (Foto: Bruno Balboni/Esalq)

Eficiência

A patente consiste em um conjunto de medidas que visam induzir os eucaliptos a cumprir a função de retirar a contaminação da água. “Nós plantamos em distanciamentos melhores para provocar melhor eficiência desse sistema, desenvolvendo uma forma de evitar que o solo se umidifique, para que a planta procure água cada vez em maior profundidade. Então, temos uma série de técnicas e tudo isso no seu conjunto, otimizando a eficiência do eucalipto em retirar contaminantes da água subterrânea, isso que foi patenteado.”

Como público-alvo e potenciais consumidores desse método, o desenvolvedor enxerga administradores de lixões e aterros, grandes fazendas, produtores agropecuários, regiões industriais, entre outros. “A exemplo de um lixão ou de qualquer outra fonte contaminante, a água contaminada percorre o solo e corre o risco de atingir as reservas subterrâneas. Se você plantar uma sequência de árvores, jusante, ou seja, na direção do fluxo, então a água infiltrada iria para a região de jusante. Justamente nessa região você poderia implementar nosso sistema, de forma barata, impermeabilizando o solo para que provocasse a maior quantidade de raízes em profundidades necessárias, de tal sorte que toda a contaminação que porventura pudesse sair desse aterro, desse lixão, seria capturada pela árvore e seria incorporada na matriz da árvore”, explica.  

*Texto do Jornal da USP

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 06 – Água limpa e saneamento.

Leia mais: