Por conta da pandemia do novo coronavírus, a aplicação do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, foi adiada pelo Ministério da Educação e pelo Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). As inscrições para o exame foram prorrogadas para quarta-feira (27). O reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira, argumenta que o adiamento foi necessário para garantir que os estudantes não fossem prejudicados.

Nós tiramos uma moção do conselho universitário em defesa do adiamento do calendário do Enem. Absolutamente impossível fazer o Enem garantindo minimamente uma isonomia entre os candidatos com a maioria da rede pública paralisada, sem aulas, sem atividades, o que prejudicaria e muito o desempenho aumentando as desigualdades entre os alunos da escola pública e da escola privada”, afirma.

De acordo com o reitor da UFG, o ano letivo e o ano civil não precisam, necessariamente, caminhar juntos. “Em março de 2021, se tudo correr muito bem, nós estaremos no meio do segundo semestre de 2020. E aí, nada mais natural que isso também seja colocado um pouco adiante. Por isso nós defendemos não a anulação do Enem, mas o adiamento do calendário da realização da prova para garantir tanto a isonomia de tratamento aos estudantes como também como essa questão de adequação de calendário acadêmico”, explica.

O estudante do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Jardim América, Marcos Antonio Martins Gondinho, já sente os reflexos do adiamento e da paralisação das aulas. Ele relata que não se sente preparado para a prova.

Não. Sinto um pouco de dificuldade em algumas coisas e esperava melhorar ao longo desse ano. Porém, com o início de pandemia ficou um pouco difícil”, lamenta.

O professor mestre em Educação e especialista em Docência, Ítalo Alessandro Silva, diz que as consequências da pandemia em relação ao Enem aumentam a angústia dos alunos e comprometem a motivação.

Eu percebo por parte dos meus alunos, neste momento, um certo tipo de drama que é totalmente validade, compreensível, porque se trata de um projeto de futuro. Então quando falamos ou não do adiamento do Enem, nós já provocamos nesse aluno um certo tipo de angústia negativa que já está impactando naquilo que nós mais precisamos dele que é a motivação, que é acreditar nele, que é a tranquilidade emocional”, afirma.

Para o especialista, a pandemia traz à tona outro problema: a realidade do ensino público no país. “Eles [os estudantes de escolas públicas] não são motivados para fazer o Enem. Eu cheguei lá, perguntei quem iria fazer e pouquíssimos alunos queriam fazer e a resposta deles foi bem simples: ‘a gente não é capaz, a prova é difícil’. E realmente, é o que eles escutam durante todo o Ensino Médio. ‘A prova é difícil, a escola está sucateada, nós não damos conta’”, complementa.

Ele orienta que os alunos tentem estudar para o Enem visualizando provas dos anos anteriores, o que pode ajudar na hora de encarar a tão esperada avaliação. “Todos os anos o Enem vai cobrar os mesmos eixos cognitivos, que são cinco, e as habilidades de cada área do conhecimento”, recomenda.

Confira também a primeira parte do Debate Super Sábado, com a jornalista Andréa Ramos Bueno, do Timbre, Áudio & Texto.