O terceiro dia da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), realizado em Baku, tem se destacado como um dos mais impactantes até agora. O evento trouxe uma programação repleta de debates, anúncios de ações climáticas e a presença de autoridades que reafirmaram compromissos e delinearam estratégias para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Com uma abordagem crítica, mas também otimista, este artigo analisa os desdobramentos e a recepção global desse encontro crucial.

Programação do terceiro dia: um encontro de soluções e compromissos

A programação do terceiro dia da COP29 foi marcada por painéis que enfatizaram a colaboração multilateral e a inovação tecnológica como peças-chave para a transição verde. O Summit Climate Action, o ponto alto do dia, reuniu líderes globais, representantes de organizações não governamentais e especialistas em sustentabilidade para discutir ações concretas de combate às mudanças climáticas. A ênfase foi colocada na urgência de transformar compromissos em práticas imediatas e efetivas, destacando desde medidas de adaptação em países mais vulneráveis até grandes investimentos em energia renovável.

Destaque também foi dado às iniciativas de inclusão das comunidades indígenas e tradicionais, reconhecendo seu papel vital na preservação dos ecossistemas. Esse foi um tema amplamente debatido e celebrado, levando a um momento de união entre líderes e representantes comunitários que compartilham experiências e desafios únicos em seus territórios.

Participação das autoridades e partes: um tom de urgência e colaboração

A Cúpula de Ação Climática contou com a presença de figuras proeminentes como presidentes, primeiros-ministros e ministros do meio ambiente de várias nações. Cada autoridade trouxe uma visão sobre como seu país tem enfrentado os desafios ambientais, com muitos destacando o papel da cooperação regional e internacional.

Um dos discursos mais marcantes foi do Primeiro-Ministro da Albânia, Edi Rama, que trouxe uma reflexão contundente sobre a eficácia dos discursos na arena política:

“Decidi deixar de lado meu discurso previamente preparado pois ontem eu estava assistindo à TV sem som na sala dos líderes, onde os organizadores, de forma atenciosa, adicionaram plantas verdes acima dos sofás confortáveis. As pessoas ali comem, bebem, se encontram e tiram fotos juntas, enquanto imagens de discursos sem voz de líderes continuam passando, repetidamente, ao fundo. Para mim, isso parece exatamente o que acontece no mundo real todos os dias. A vida segue com seus velhos hábitos, e nossos discursos, cheios de boas palavras sobre a luta contra a mudança climática, não mudam nada.”

A fala de Rama ecoou entre os participantes, reforçando a ideia de que a mudança real exige mais do que palavras – exige ação concreta e imediata.

Outro destaque foi a fala de líderes de pequenas nações insulares, que comovidamente apontaram para a realidade de que sua sobrevivência depende da rapidez com que os compromissos globais se traduzem em ações tangíveis. O Primeiro-Ministro das Bahamas, Philip Davis, resumiu essa urgência ao dizer:

“Eventos climáticos catastróficos em todo o mundo já levaram a perdas significativas de vidas, propriedades e infraestrutura. E, no entanto, continuamos a responder a esses eventos como se fossem apenas incidentes infelizes, isolados e nacionais. Peço a vocês que olhem além das fronteiras, além das bandeiras: os incêndios que devoram suas florestas e os furacões que devastam nossas casas não são infortúnios distantes, mas tragédias compartilhadas. O que suportamos, vocês suportam. O que perdemos, vocês perdem. E, se falharmos em agir, serão nossos filhos e netos que carregarão o fardo, com seus sonhos reduzidos a memórias do que poderia ter sido.”

A fala de Davis reforçou a ideia de que os desafios enfrentados pelos países insulares devem ser vistos como problemas globais, exigindo solidariedade e uma resposta conjunta.

A repercussão global: recepção e expectativas

A COP29 tem gerado uma ampla repercussão global, com opiniões divididas sobre seu progresso. Enquanto alguns críticos argumentam que o ritmo das mudanças ainda é lento diante da urgência climática, há um senso de que o evento deste ano trouxe discussões mais concretas e um foco renovado em implementar soluções já conhecidas, em vez de apenas debater novas promessas. Observadores destacam que a conferência tem conseguido envolver não apenas governos, mas também setores privados e comunidades, criando uma pressão conjunta para agir.

De uma perspectiva mais otimista, as pessoas ao redor do mundo estão acompanhando a COP29 com um novo senso de participação. Movimentos de jovens ativistas, como o Fridays for Future (também conhecido como Greve Escolar pelo Clima, é um movimento internacional de estudantes que faltam às aulas às sextas-feiras para participar de manifestações que exigem ação dos líderes políticos para prevenir as mudanças climáticas e que a indústria de combustíveis fósseis faça a transição para energias renováveis) e outros grupos ambientalistas têm sido vozes críticas, mas simultaneamente destacam as conquistas e os compromissos assumidos. Redes sociais estão repletas de debates que mostram tanto ceticismo quanto esperança, refletindo um engajamento mais ativo e consciente da população global.

Crítica e otimismo: uma reflexão necessária

É fundamental adotar uma visão crítica sobre a COP29, reconhecendo que ainda há um longo caminho a percorrer para que palavras se tornem realidade. Muitos compromissos anunciados em conferências anteriores não se materializaram de forma eficaz, e a pressão está em transformar essa narrativa. Contudo, a COP29 em Baku traz consigo uma mensagem de resiliência e esperança, com um notável avanço nas parcerias entre nações e um impulso para ações mais ágeis.

Em um mundo onde o tempo para reverter os impactos das mudanças climáticas está se esgotando, ver líderes reconhecendo essa urgência e ouvindo vozes antes marginalizadas já é um avanço. A jornada é árdua, mas a COP29 deixa a impressão de que, com cada passo, por menor que pareça, estamos nos movendo na direção certa.

O terceiro dia da COP29 foi um lembrete poderoso de que a ação climática não é apenas uma responsabilidade de governos e corporações, mas de toda a humanidade. E mesmo com críticas e desafios, o otimismo reside na capacidade coletiva de mudança – algo que nunca deve ser subestimado.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.

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