Você já viu, aqui mesmo no Sistema Sagres de Comunicação que o Etanol é mais vantajoso do que a gasolina na hora de abastecer o seu carro. Não só na questão econômica, na autonomia do seu veículo, mas também no impacto ao meio ambiente. Além deste combustível encontrado nas bombas nos postos de gasolina, os automóveis possuem outras alternativas menos poluentes, como os elétricos, por exemplo.

Mas e os aviões? Como o transporte aéreo pode ajudar na diminuição da emissão de gases do efeito estufa? A resposta para essas perguntas está no projeto de pesquisa coordenada pelo professor do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG), Christian Gonçalves Alonso, que busca a produção de um petróleo sintético a ser utilizado nas aeronaves.

“Do ponto de vista econômico e social, ele (petróleo sintético) permite que a gente fale e se insira na Agenda 2030, Agenda 2050 (da ONU), numa Agenda de descarbonização e de baixo carbono”, explicou o professor Christian.

Professor Christian Alonso, coordenador do projeto de pesquisa da UFG (Foto: Nathália Freitas/Sagres Online)

Projeto recebe investimento milionário

A pesquisa para a produção de petróleo sintético aqui no Centro-Oeste será impulsionada por uma parceria entre a Universidade Federal de Goiás (que receberá os recursos), a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH (GIZ) (responsável pelo investimento financeiro), com o apoio da Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultural (RTVE).

Os estudos receberão 760 mil euros (mais de R$ 3,7 milhões) de investimento, sendo que cerca de 425 mil euros (R$ 2,1 milhões) serão utilizados apenas para a aquisição dos mais de 20 equipamentos que estão chegando de forma gradativa em um dos laboratórios da UFG no Campus Samambaia.

A pesquisa coordenada por Christian teve início em março deste ano e tem dezembro de 2023 como prazo final para ser concluída.

“Não temos um segundo planeta”

A Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas) é um plano global para se atingir em 2030 um mundo melhor para todos os povos e nações. E para se atingir essa meta no ano determinado, é preciso seguir e atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visam acabar com a a pobreza, proteger o clima e o meio ambiente, além de garantir um futuro melhor, em todos os aspectos, para a população mundial.

Este é o propósito principal da pesquisa e que atraiu Guilherme Botelho, formado em Engenharia Química pela UFG, Pós-Doutorando e um dos integrantes da equipe do professor Christian.

“Com certeza uma das principais vantagens da nossa pesquisa é a vertente ambiental. A gente vai conseguir produzir um combustível que tem um impacto (ambiente) muito menor quando comparamos com combustíveis de origem fóssil”.

Guilherme Botelho (Foto: Nathália Freitas/Sagres Online)

Já a Isabela Dias, outra integrante do projeto de pesquisa, viajou recentemente à Alemanha para conhecer de perto o anseio de países da Europa por produções mais sustentáveis.

“Os europeus estão bem preocupados em cumprir com os compromissos das ODSs, então realmente tem um apelo para que essas tecnologias sejam implementadas e no futuro nós tenhamos processos que não produzam tanto CO2 (carbono). no caso a descarbonização da atmosfera. Isso tem impacto direto no efeito estufa e no aquecimento global, por isso essa preocupação”.

“Isso deve fomentar e produzir na sociedade um multiplicador de conscientização e entendimento da importância de estarmos reduzindo a emissão de carbono, o consumo de combustíveis fósseis. Nós não temos um segundo planeta, tudo pode esperar, mas o planeta não”, enfatizou o professor Christian.

Isabela Dias em entrevista à Sagres (Foto: Luciano Morais/Sagres TV)

Descarbonização do transporte aéreo

Neste ano, os países da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) fizeram um acordo para conquistarem até 2050 a neutralidade da emissão líquida de carbono. Esse e outros tratados assinados por empresas e a indústria aeronáutica no geral motivaram a pesquisa encabeçada pelo professor Christian Alonso para a produção de petróleo sintético, já que outros tipos de transporte já possuem outras alternativas menos poluentes.

“É muito fácil a gente trabalhar visando a descarbonização, por exemplo, automotiva. Nós temos os carros elétricos, a bateria, carros a hidrogênio, mas como fazer isso no setor da aviação? Na aviação não temos para onde correr. Usar baterias? O avião seria extremamente pesado, a eficiência cairia substancialmente; utilizar hidrogênio, queimá-lo diretamente nessas máquinas teria um problema de densidade”, pontuou.

Mas a criação de um combustível alternativo para o transporte aéreo, seja o petróleo sintético ou não, precisa atender a demanda do setor nos quesitos segurança e autonomia.

“O grande empecilho é a tecnologia. A aviação precisa de um motor muito potente para tirar o avião do chão. Se formos utilizar um motor elétrico ou semelhante neste sentido, a autonomia da aeronave reduziria muito. Então não posso pegar um avião que vai voar de São Paulo para Paris com um combustível que não tenha a autonomia suficiente. O desafio que a gente tem é compatibilizar a eficiência desses combustíveis, o seu consumo e a duração do vôo”, explicou o professor de Ciências Aeronáuticas da PUC Goiás, Salmen Chaquip Bukzem.

Apesar das dificuldades em diminuir a emissão de gases do efeito estufa na aviação, Salmen ponderou que o setor já vem buscando soluções para a poluição gerada. “Isso já vem sendo feito. Os motores hoje poluem muito menos e conseguem transportar mais carga, mais peso e mais pessoas com muito menos emissão de poluentes”.

Repense

Esta reportagem integra a série Repense Energia desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 07 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Energia Acessível e Limpa”.