Dados de um levantamento da Organização das Nações Unidas de Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) mostram que o Brasil é o país com o maior consumo de agrotóxicos, seguido pelos Estados Unidos e pela Indonésia. Em 2021, 719,5 mil toneladas de agrotóxicos foram utilizadas em lavouras nacionais, o que mostra que o Brasil utiliza mais químicos sintéticos que os Estados Unidos e a China juntos. Além da quantidade, o Brasil é reconhecido por utilizar agrotóxicos de forte intensidade e proibidos internacionalmente, como o tebuconazol, por exemplo, inseticida proibido na Europa porque pode provocar alterações no sistema reprodutivo e malformação fetal.

Agrotóxicos, além de impactos às plantações, geram sérias consequências para aqueles que os manuseiam diretamente, como trabalhadores rurais e moradores de regiões próximas às plantações. De maneira geral, a Organização Internacional do Trabalho contabiliza mais de 300 mil mortes anuais devido ao envenenamento por pesticidas e, destes, os trabalhadores são os mais vulneráveis. De acordo com Rafael Buralli, professor do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, intoxicações, câncer, alterações neurológicas, respiratórias, cardiovasculares, malformações e outros são algumas das principais consequências geradas pelos agrotóxicos.

“Os pequenos e médios agricultores familiares, mas também o trabalhador do agronegócio, que, embora empregue menos gente, usa uma enorme quantidade de agrotóxicos. Esse grupo ainda costuma viver em áreas rurais, o que resulta em uma dupla exposição. As pessoas que vivem nessas áreas, mesmo que não estejam envolvidas na produção de alimentos, estão expostas a uma carga elevada”, explica o professor.

Efeitos diversos

Segundo Buralli, o consumo de agrotóxicos pode ter efeitos diversos e específicos, dependendo do tipo de produto químico utilizado e da dose ingerida. Para ele, a utilização de agrotóxicos já banidos internacionalmente é um intensificador do problema, pois podem ser especificamente nocivos para grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos.

Para o meio ambiente, apesar de supostamente favoráveis às plantações em eliminação de pragas e na regulação do crescimento da vegetação, agrotóxicos possuem uma alta taxa de contaminação dos seus arredores, segundo o professor. “Na realidade, mais da metade do que é aplicado não vai parar onde deveria, nas plantas e pragas, contaminando nosso ar, solo, a água dos rios, nascentes e até os aquíferos.”

Além disso, agrotóxicos possuem químicos intensos e persistentes que ficam acumulados por muito tempo no meio ambiente, o que pode causar empobrecimento do solo e comprometer a qualidade e disponibilidade da água, alterando os ecossistemas locais e, ainda, construir resistência em insetos e pragas, o que, consequentemente, exigirá a utilização de uma quantidade cada vez maior de químicos.

“Ainda assim, parece que a indústria química ao desenhar, aprovar e comercializar seus produtos está sempre alguns passos à frente da ciência, que vem atrás para provar seus efeitos negativos à saúde e ao ambiente, tornando o caminho para conseguir influenciar políticas e alguma restrição muito longa e demorada”, alerta o professor.

Entretanto, visando a maiores complicações, é importante lavar produtos alimentares, assim removendo a camada mais externa de agrotóxicos. De acordo com Buralli, ainda não há um método capaz de remover 100% dos químicos presentes nos alimentos; para ele, a melhor alternativa são os alimentos orgânicos, entretanto, ele ressalta que o acesso a eles não é facilitado. “Esses alimentos não são mais baratos e disponíveis por falta de incentivo e, portanto, os governos são os principais responsáveis por promover a agricultura sustentável e reduzir o uso e a disponibilidade dos agrotóxicos.” Outras maneiras de se proteger incluem lavar e esfregar bem frutas e vegetais em água corrente; descascar vegetais e descartar folhas externas das folhosas; retirar a gordura da carne e a pele de aves e peixes.

*Texto de Yasmin Teixeira sob supervisão de Cinderela Caldeira para o Jornal da USP

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 02 – Fome zero e agricultura sustentável e o ODS 03 – Saúde e bem-estar.

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