Em tempos em que inovação e responsabilidade ambiental caminham lado a lado, a sustentabilidade no agronegócio brasileiro também é tema da Tecnoshow Comigo 2025, a maior feira de tecnologia rural do país, realizada em Rio Verde, no sudoeste goiano.
Com mais de 130 mil visitantes esperados, o evento serve como vitrine para práticas que aliam produtividade, conservação ambiental e viabilidade econômica. O programa Pauta 2 do Sistema Sagres, trouxe como convidado Rogério Melo, gerente de programas de agricultura sustentável da UPL.
Um dos palestrantes da feira, ele destacou a importância da Tecnoshow na promoção de uma nova visão sobre o campo. “O papel da Tecnoshow na sustentabilidade do agronegócio brasileiro é de uma vitrine técnica. A Comigo trouxe o que há de mais moderno em tecnologia agrícola e em boas práticas de gestão para uma agricultura regenerativa e competitiva”, afirmou.
Exigência
Com o tema da sustentabilidade cada vez mais presente no setor, Rogério reforçou que ela não é mais uma escolha, mas uma exigência de mercado. O Brasil, de acordo com ele, já demonstra liderança ao conciliar produção em larga escala com práticas sustentáveis.
“O Brasil alimenta mais de um bilhão de pessoas mundo afora utilizando apenas cerca de 8% do seu território para a agricultura. E o produtor rural brasileiro tem se notabilizado por práticas cada vez mais sustentáveis, biológicas e digitais”, explicou.
Além disso, um dos pontos centrais da entrevista foi a chamada revolução biodigital, termo usado para descrever o avanço simultâneo de tecnologias biológicas e digitais no campo. Essas inovações têm permitido ao produtor reduzir o uso de insumos e aumentar a eficiência mesmo com limitações de infraestrutura.
“O produtor rural brasileiro preserva um terço do território nacional em áreas privadas. E lideramos entre os grandes agroexportadores em adoção de produtos biológicos e técnicas como o plantio direto”, pontuou Melo.
Produção agrícola e recursos hídricos
Nesse sentido, sobre a relação entre produção agrícola e recursos hídricos, especialmente no cerrado goiano — conhecido como berço das águas — Rogério foi enfático ao defender o papel do agricultor na conservação ambiental.
“Além de racionar o uso da água, o produtor tem um papel fundamental na conservação das áreas de recarga dos lençóis freáticos. A gestão de recursos hídricos se faz, de fato, no campo.”
Outro desafio destacado foi o impacto das mudanças climáticas, sobretudo para os pequenos produtores. Sendo assim, Rogério defende que a agricultura sustentável é uma ferramenta poderosa de resiliência.
“O termo ‘resiliência’ é central. Precisamos garantir que a tecnologia chegue a todos — do pequeno agricultor familiar ao grande exportador. Só assim teremos uma cadeia sustentável e justa”, disse.
Inovações
Ele ainda lembrou que inovações que hoje são padrão, como o plantio direto, começaram com os grandes produtores e foram, ao longo do tempo, adotadas por toda a cadeia.
“O agronegócio brasileiro se faz com ciência e inovação. E é isso que tem feito do Brasil uma potência agrícola com destaque socioambiental no mundo.”
Com a proximidade da COP 30, que ocorrerá no final de 2025, as pressões globais por práticas mais sustentáveis e transparentes intensificam-se. Melo destacou o papel estratégico do evento, ressaltando que o mercado internacional exige mais dados e clareza sobre o desempenho ambiental do setor rural brasileiro.
De acordo com ele, iniciativas como o Pacto Agro Sustentável buscam justamente atender a essas demandas por meio de diagnósticos digitais das propriedades rurais. “São formas de demonstrar na prática como está o desempenho das propriedades da porteira para dentro”, explicou.
Clima
A pauta climática também teve destaque. “Na agricultura brasileira, a principal fonte de emissão é a gestão e o uso do solo”, disse Melo. Ele citou como exemplo positivo a fixação biológica de nitrogênio na soja, que reduz o uso de fertilizantes — uma das principais fontes de gases de efeito estufa.
O Brasil, afirmou ele, já é protagonista na descarbonização, liderando mundialmente o uso de biocombustíveis. “O agro brasileiro representa 16% de toda a matriz energética nacional com biocombustíveis e biomassa”, completou.
Melo ainda enfatizou o protagonismo do agricultor brasileiro. “Por preservar um terço do território em matas e adotar práticas sustentáveis, eu considero o produtor rural brasileiro o maior ambientalista do mundo”.
Impactos das mudanças climáticas
Outro palestrante, Fernando Beltrame, CEO da Ecaplan, abordou os impactos das mudanças climáticas no agro. “Hoje a gente não tem mais garoa, temos tempestade ou seca”, alertou.
Beltrame citou o aumento de eventos extremos, alterações nas zonas de cultivo e novas exigências internacionais, como barreiras comerciais e preferências por produtos sustentáveis.
Ele destacou ainda os riscos financeiros associados à instabilidade climática. “As seguradoras já têm reajustado seus valores, considerando esses riscos”. Para ele, práticas como a agricultura regenerativa e a economia circular são fundamentais. “O Brasil tem potencial para ser o celeiro sustentável do mundo”, disse.
Inteligência emocional no campo
Além disso, Jaqueline Paiva, psicóloga da Amparo RH e também palestrante do evento, trouxe uma reflexão essencial: o papel da inteligência emocional no campo.
“No campo, enfrentamos obstáculos todos os dias. É preciso cuidar da saúde mental, buscar o autoconhecimento e fortalecer o ser, não apenas o ter”, afirmou. Souto defendeu que equilíbrio emocional e gestão das emoções são diferenciais tanto no campo quanto na cidade.
“Se estou bem comigo, isso vai refletir em todos os outros campos da minha vida”. De acordo com ela, o produtor preparado emocionalmente tende a alcançar melhores resultados em seus negócios.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima
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