Governador José Éliton e o ex-governador Marconi Perillo no lançamento do Circuito Cavalhadas, nesta sexta-feira (4), no Palácio das Esmeraldas (Foto: Jerônimo Júnio)

O governador José Éliton (PSDB) tomou posse há um mês e repetiu três vezes na Assembleia Legislativa que era a mudança. Entre as testemunhas de seu compromisso público estava Marconi Perillo, já como ex-governador, o parâmetro para ele se apresentar como mudança, afinal era este a quem sucedia. 

“A política é a arte de não matar o boi e não deixar o freguês sem carne”, segundo a lição desta semana do ex-governador baiano Jacques Wagner (PT), ao tentar convencer seus pares de que seu partido precisa ceder ao PDT de Ciro Gomes a vaga de presidente na chapa presidencial e ficar apenas com a de vice-presidente. Parece ser esta a missão a que se dedica José Éliton: não matar o governo Marconi, seu aliado e principal fiador político, e não frustrar o eleitor que deseja mudança.

Primeiro aos fatos. No discurso na posse na Assembleia, em 7 de abril, Éliton anunciou foco na segurança pública, em educação e na saúde durante seu mandato de exatos oito meses. Quem ouviu suas palavras pode ter pensado que viria algo muito novo, mesmo que fosse um desvio sutil de rota: leia-se mudar delicadamente o caminho adotado por seu amigo e antecessor sem parecer que fazia uma manobra brusca. Ele já tinha pronto um roteiro de ações e nas semanas seguintes dedicou-se a anunciar as medidas em pacotes que ganharam os nomes de + Segurança, + Saúde e + Educação.

Reuniu a nata da Polícia Civil, da Polícia Militar do Corpo de Bombeiros e dos políticos aliados em um grande evento, dia 19, no auditório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) para anunciar seu programa para a segurança pública. A novidade foi a criação do Batalhão Terminal, para patrulhar os terminais de ônibus e oferecer segurança aos usuários do transporte coletivo da região metropolitana.

Isso foi possível com a formatura de 2,5 mil homens na Polícia Militar, em setembro, e claro, com a aquisição de mais viaturas e equipamentos para mais policiais. O governo aproveitou para promover policiais e para anunciar que PMs passariam a lavrar o TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), atividade antes restrita à Polícia Civil. Passados alguns dias, Éliton visitou o Terminal da Bíblia, às 21 horas, para “conferir o policiamento”. Tudo registrado por fotos e vídeos imediatamente espalhado pelas redes sociais.

O passo seguinte foi o + Saúde. Primeiro Éliton e Marconi foram a São Paulo para conversar com o governador Márcio França (PSB) sobre programa de educação do governo paulista e com o ex-prefeito João Dória e o prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB, sobre a realização de exames médicos e de cirurgias eletivas à noite, no chamado terceiro turno. Uma semana depois de “conhecer” os programas paulistas, o governador lançou, em 23 de abril, o 3º Turno na Saúde.

À noite do mesmo dia do lançamento, que ocorreu no Hospital Crer, Éliton saiu novamente em inspeção, agora no Hospital Geral de Goiânia (HGG) para checar o primeiro dia de funcionamento do programa. Conversou com médicos, com pacientes e ouviu depoimentos de quem estava na fila de espera por uma cirurgia há quatro anos. Novamente, tudo registrado por imagens e vídeos e difundido à imprensa e mídias sociais. No sábado (28) outra diligência no mesmo hospital, seguido do mesmo esforço de divulgação.

O lançamento do + Educação, no ginásio do Colégio Militar Hugo de Carvalho Ramos, foi em 25 de abril e produziu uma das cenas mais polêmicas deste primeiro mês de gestão: centenas de estudantes com seus uniformes militares perfilados em uma espécie de corredor polonês batendo continência ao governador, que aparece ao lado de um oficial da PM. Atrás deste, em último plano, é possível identificar o secretário de Educação, Marcos das Neves. Sem o mesmo estardalhaço dos dois outros programas, o + Educação se propõe a ampliar a oferta de vagas no Goiás + Enem, de 2013, e a criar o + Enem na TV, com aulas de 30 minutos aos domingos na TV Brasil Central.

O “mais”, que aparece como sinal nos nomes dos três programas do novo governador, é advérbio que indica aumento de intensidade ou de quantidade. Não significa mudança. Talvez por isso tenha sido escolhido para batizar os programas de um governo com o ambíguo discurso de “continuidade”, mas “sem continuísmo”, de acordo com as palavras próprio Éliton em sua posse.

Neste primeiro mês, o governador deu, portanto, sinais de que aprendeu o estilo de Marconi, que sempre soube formatar programas, promover grandes eventos de lançamentos, utilizar-se bem da estrutura de divulgação e de propaganda e depois reverberar essas ações e programas por meio das redes sociais, da mídia em geral e por meio de discursos políticos de aliados. Parodiando o Éliton, ele fez “+ Governo” até o momento e não o governo de mudança a que se propôs.

Talvez por que “não matou o boi” não desagradou ninguém da base aliada, a começar do próprio Marconi Perillo, presença constante em quase todos os eventos palacianos. Resta saber se o “freguês”, ou seja, o eleitor, vai apreciar esse cardápio com sabor Marconi.