Jessica Lima
Jessica Lima
Jornalista multimídia, escreve principalmente sobre temas ligados à educação e defesa dos direitos humanos.

Ada Lovelace, a primeira programadora da história

A história de Ada Lovelace, nascida na cidade de Londres, em 1815, ainda é utilizada como referência para a formação de mulheres nos campos das Ciências Exatas.

Apesar das mudanças, ainda prevalece a associação de que esse espaço ainda é um campo em que homens ganham destaque. Basta fazer o exercício mental de imaginar maquinários, softwares, códigos e fórmulas matemáticas — como são as pessoas que imaginamos nos bastidores, responsáveis por colocá-los em ação?

É nesse contexto que podemos citar o nome de Augusta Ada Byron King, mais conhecida por Ada Lovelace, ou até mesmo por Condessa de Lovelace, após se casar com o Lorde William Kind, aos 19 anos.

Entretanto, o título de Condessa não é o que se destaca na trajetória de Lovelace. Na realidade, “A encantadora de números” ou até a “mãe do algoritmo”, parecem se aproximar mais do legado que construiu ao longo dos seus 36 anos de vida.

Família

Ada Lovelace foi filha da matemática Anne Isabella Byron (1792-1860), também conhecida como Baronesa de Wentworth, e de Lord Byron (1788-1824), conhecido como um dos principais nomes do romantismo inglês.

Retrato de Ada Lovelace por Alfred Edward Chalon (1838). (Foto: Wikimedia Commons)

Depois de um mês do nascimento de Ada, seus pais se separaram. Segundo os registros, Byron deixou a Inglaterra e Ada nunca chegou a conhecer o pai. A separação de Anne e Lord Byron exerceu influência na própria formação de Ada. Isso porque sua mãe, temia que Ada puxasse ao pai, com interesse para o lado da poesia e humanidades.

Sendo assim, logo se certificou que Ada recebesse uma formação mais voltada para os números e para a lógica. Assim, a futura inventora recebeu estudo rigorosos voltados para a matemática e a música.

“Se você não pode me dar poesia, não pode me dar ciência poética?”, foram as palavras de Ada escritas em uma carta para a mãe, quando tinha cerca de 30 anos.

Referências

Na trajetória de Ada, aparece o contato com grandes nomes das Ciências. Aos 17 anos, ela conhece Mary Somerville, matemática, cientista e a primeira mulher a entrar para a Sociedade Real de Astronomia.

Assim, Mary se tornou uma amiga e uma espécie de mentora, apresentando a Ada a um contexto promissor, em que grandes ideias inovadoras estavam em curso. Foi nesse período que Ada conhece Charles Babbage que, na época, se empenhava no desenvolvimento da “Máquina Diferencial”, máquina que mais tarde, rendeu a Babbage o título de “pai do computador”.

Não demorou para Ada se encantar com a possibilidade. A promessa apontava para uma máquina capaz de realizar cálculos de polinômios de modo mecânico. Assim, o primeiro contato foi o início de um processo que levaria Ada a construir o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina. Um passo inovador no contexto em que nomes se empenhavam para o futuro da evolução tecnológica.

As notas de Ada

A parceria entre Ada e Charles Babbage não foi instantânea. Algum tempo depois, Ada volta a estudar matemática com o apoio do matemático Augustus de Morgan, nome importante no campo da lógica simbólica.

Nessa época, Charles Babbage se empenhava em um novo projeto, dessa vez, a “Máquina Analítica”, uma evolução da Máquina Diferencial. Mas, o evento que originou a contribuição que levaria ao reconhecimento de Ada pela comunidade científica acontece em 1842.

Um jovem matemático e engenheiro italiano, Luigi Federico Menabrea, publicou em francês um artigo que apresentava uma espécie de resumo de uma palestra dada na Universidade de Turim, na Itália. Charles Babbage estava na plateia.

Então, Babbage pede para Ada traduzir a publicação para a Língua Inglesa. Ada cumpre a tarefa, mas vai além. Nas “notas de rodapé”, Ada acrescenta resultados de seus próprios estudos, material que depois foi reconhecido como primeiro programa de algoritmo de computador do mundo.

Mais do que isso, Lovelace percebeu que a máquina poderia ser útil para além da matemática, mas para criar imagens, arte e música, por exemplo. Ou seja, essa foi a base da descoberta que hoje nos permite ver que computadores podem ser usados para além dos cálculos.

Ada sabia que mais do que resolver cálculos, era possível atingir a programação de símbolos e letras, o bastante para ir além do que Babbage havia idealizado no projeto inicial.

Legado

A visão de Lovelace sobre o potencial da máquina analítica — que derivou no primeiro computador mecânico — possibilitou que escrevesse sobre as possibilidades da máquina ao lidar com letras, símbolos e números.

Um dos processos, chamado de “looping”, é usado por computadores ainda nos dias de hoje. Entre as notas de Ada, a mais famosa é denominada como “G” e nela, aparece o algoritmo que computa a Sequência de Bernoulli.

A Máquina Analítica, principal invenção de Charles Babbage (Foto: Divulgação/Universidade de Minnessotta)

Hoje, grande parte das principais discussões ligadas à tecnologia parecem estar voltadas para os limites e potenciais da Inteligência Artificial. Assim, é possível enxergar parte do legado que começou com Ada, cientista, mãe e dona de uma mente que conseguiu imaginar além do que era comum em seu tempo.

Foram necessários mais de 100 anos para o artigo de Ada ganhar notoriedade entre os grandes nomes da Ciência da Computação. Nesse sentido, parte desse reconhecimento acontece no trabalho de Alan Turing. Um dos grandes nomes da Matemática, que teve sua vida contada na produção “O Jogo da Imitação” (2014).

Mais tarde, “a linguagem de programação ADA” foi oficializada em sua homenagem pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em 1980. Além disso, também na década de 80, foi criado o Prêmio Ada Lovelace, iniciativa da Associação de Mulheres na Computação.

A magia

É certo que, historicamente, para nomes femininos se posicionarem em contextos ocupados majoritariamente por homens, não houve nada parecido com instantâneos “passes de mágica”. Ainda hoje, no contexto brasileiro, mulheres ocupam apenas 16,5% das vagas em cursos de Tecnologia da Informação (TI).

No caso de Ada, sua genialidade lhe rendeu o título de “feiticeira” ou “a encantadora dos números”. Em carta escrita em 1843 por Charles Babbage, ele escreve:

“Aquela encantadora foi quem lançou seu feitiço mágico em torno do que há de mais abstrato nas Ciências, e agarrou com uma força que poucos intelectuais masculinos poderiam ser capazes de exercer sobre o assunto” (tradução própria).

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