Dois projetos voltados para o combate à transmissão da doença de Chagas deverão ser retomados em Goiás no próximo mês de março. São o Integra Chagas e o CUIDA Chagas. Os dois precisaram ser adiados no estado por conta da pandemia de Covid-19, que chegou em território goiano em março de 2020. 

De acordo com a biomédica e responsável técnica pela área de Doença de Chagas em Goiás, Liliane da Rocha Siriano, as ações devem se concentrar inicialmente nos municípios de São Luís de Montes Belos e Paraúna. 

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“Será disponibilizado um teste rápido na atenção primária a todos os pacientes para descobrir justamente se eles têm doença de Chagas, porque 70% das pessoas infectadas não sabem que têm a doença”, afirma Liliane. 

A doença tem como característica o comprometimento cardíaco e/ou digestivo. Liliane Siriano assegura que Goiás não possui uma epidemia da doença. No entanto, uma estimativa aponta que 200 mil pessoas no estado possam estar contaminadas e não sabem.

“Se a pessoa morou em fazenda, em casa de pau a pique, teve contato com o barbeiro, tem parente com a doença de Chagas, tem dificuldade em engolir alimentos secos ou frios, o intestino é preso, ora sente falta de ar ou batedeira; todos esses são sinais de alerta para que o profissional de saúde pense em doença de Chagas”, argumenta.

Transmissão

Uma das formas de se contrair a doença é pela picada do inseto triatomíneo, mais conhecido como barbeiro. Ele é o responsável pela transmissão do protozoário Trypanosoma cruzi ao ser humano. No entanto, a enfermidade não é transmitida pela picada em si, mas sim pelas fezes excretadas após a picada, que penetram na pele ou por orifícios como boca, nariz ou feridas, no ato de coçar.

Foto: Portal mdsaude.com

Todavia, Liliane Siriano afirma que há outros meios de infecção. “Existe a transmissão oral; da mamãe para o bebê durante a gestão; em transfusões de sangue; transplante de órgãos”, enumera a biomédica. 

Ingestão oral

A transmissão oral se dá principalmente pela ingestão de alimentos batidos como caldo-de-cana (garapa) ou açaí [quando processado artesanalmente, sem tratamento térmico], porque os barbeiros acabam sendo triturados acidentalmente junto com as bebidas em situações que envolvam falta de higiene ou de acondicionamento adequado dos produtos.

“Há vários estabelecimentos que respeitam as normas sanitárias para que o açaí seja consumido. Aqui em Goiás, por exemplo, o que vem é pasteurizado, pois o Trypanosoma cruzi não resiste a baixas e altas temperaturas. O açaí passa por um processo de branqueamento que elimina o Trypanosoma cruzi. Então pode comer tranquilo, eu mesmo gosto muito”, acrescenta. 

Prevenção

Os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul, por exemplo inseriram a testagem de Chagas nos exames pré-natais, já que uma das formas de transmissão se dá da mãe para o bebê durante a gestão. “Muitas gestantes descobrem que têm a doença de Chagas nesse momento do exame”, reforça.

Fármacos

Já existem fármacos oferecidos pelo Serviço Único de Saúde (SUS) que são utilizados no tratamento da doença de Chagas, como o benzonidazol e nifurtimox, sendo o primeiro mais utilizado em todo o país. 

“O benzonidazol mata o Trypanosoma cruzi que está na circulação [sanguínea] ou dentro da célula, porque o protozoário pode ficar tanto no sangue, livre, ou dentro das células”, esclarece Liliane Siriano. 

Formas do Trypanosoma cruzi em hospedeiros vertebrados: (A) tripomastigota (forma sanguínea); (B) amastigota (forma em células musculares). (Fonte: Adaptado de Doença de Chagas e seus principais vetores no Brasil. FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2008)

Doença negligenciada

A doença de Chagas é uma das doenças negligenciadas com maior carga de morbimortalidade no Brasil. As estimativas são que a doença atinja de 6 a 7 milhões no mundo. No Brasil, essa estimativa é em torno de 1,9 milhão a 4,6 milhões de pessoas. Calcula-se que 65 milhões de pessoas estejam em risco de contrair a doença e que, no mundo, 14 mil mortes ocorram por ano pela doença.

A doença mata, todos os anos, mais pessoas do que qualquer outra doença parasitária. No Brasil, cerca de 6 mil pessoas morrem anualmente devido às complicações crônicas da doença e, nos últimos cinco anos, foi a óbito uma média de 719 pessoas em Goiás.

Em Goiás, os exames podem ser realizados por instituições públicas, como o Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO), o Laboratório de Chagas do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) ou pela rede privada de laboratórios. 

Dia Mundial 

Em maio de 2019, foi aprovado em assembleia mundial da Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) o dia 14 de abril como o Dia Mundial da Doença de Chagas. A data rememora quando, em 1909, Carlos Chagas identificou, pela primeira vez, em uma paciente, o Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença. 

*Com informações do Jornal da UFG

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