Desde o início da temporada, divergências financeiras alteraram o status do relacionamento entre a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão dos Campeonatos Brasileiro e Carioca com o Flamengo. O rubro-negro e emissora não chegaram a um acordo para a transmissão das partidas do clube no estadual, diferente do que aconteceu com os demais times do torneio.
O conflito ganhou forças com o retorno da competição em junho, depois que o presidente Jair Bolsonaro assinou a Medida Provisória 984 e alterou as regras do futebol, permitindo que o clube mandante negocie de forma unilateral os direitos de transmissão. Apesar de tramitar no Congresso, a MP já está em vigor e deu liberadade para que o Flamengo transmitisse seus jogos através de seu canal no Youtube.
A atitude do clube fez com que a ‘briga’ fosse parar na Justiça e a Globo optasse por não mais transmitir as partidas do Campeonato Carioca. Mas se engana quem pensa que o impacto dessa ruptura seria só no Rio de Janeiro. Clubes do Brasil inteiro passaram a repensar os modelos e as formas de negociação pelos direitos de transmissão.
Em entrevista à Sagres 730 o presidente do Atlético Goianiense, Adson Batista, não ficou surpreso com o rompimento do Flamengo com a emissora responsável pelas transmissões e não descartou que essas questões possam ser discutidas de forma coletiva a partir de agora para que não haja um monopólio.
“Eu enxerguei isso (conflito) com naturalidade, acho que o futebol brasileiro está caminhando para muitas adequações como grandes centros do futebol mundial. Precisamos melhorar as arrecadações dos clubes, e equipes emergentes como o Atlético Goianiense é inegável que vai negociar em bloco. Entretanto isso não quer dizer que não poderemos também negociar todos os 20 clubes das séries A e B. Então eu vejo como bons olhos para que não tenha monopólio”, disse.
“Acho que a Globo é a maior parceira do futebol brasileiro, mas pode-se criar situações para novos parceiros e também preservando o que for interesse de todos. Mas sempre valorizando a Globo que investiu muito no futebol brasileiro e que pode continuar também porque sempre foi uma grande parceira”, completou o dirigente.
No entanto, mesmo valorizando a parceria de muitos anos com a Globo, o presidente rubro-negro entende que a forma como as receitas são distribuídas precisa ser repensada e passar por algumas adequações.
“É uma relação respeitosa e sempre nos trataram bem. Porém acho que eles precisam, no futuro, evoluir na foram de trazer mais competitividade. Como? Fazendo com que tenha mais igualdade na distribuição. Os 20 clubes disputam o campeonato, os 20 tem que receber no final um percentual porque todos disputaram, independente se foi rebaixado ou não. Precisamos ter um equilíbrio nesse sentido e até a Globo reconhece isso”, explicou.
Na visão de Adson Batista o futebol brasileiro deve começar a se espelhar nas competições europeias e como essas verbas são dividias por lá. Ele chegou a citar a Premier League, onde os direitos de transmissão pertencem ao mandante, são negociados pela Liga de Clubes e veta o comprador único. Além disso, no Campeonato Inglês 50% do dinheiro é divido de forma igualitária para todos os clubes da primeira divisão, 25% de acordo com a posição na tabela e os outros 25% de acordo com o número de jogos transmitidos.
“Nós precisamos aprofundar e entender que é muito importante a gente chegar ao nível da Premier League e da La Liga porque eles estão à frente e já enxergaram que é importante todos poderem investir. É claro que Real Madrid, Barcelona e Liverpool, vão ter um momento que vão ganhar mais, mas já entenderam que é importante o contexto geral para vender um produto de alto nível. Acho que tem que ser decidido na competência de cada, respeitando a grandeza de alguns clubes, mas nossa divisão é muito aquém do necessário”, analisou.
Esse formato beneficiaria, inclusive, rubro-negros e esmeraldinos que não estão entre as maiores receitas da Série A do Brasileirão. “Acho que hoje Atlético e Goiás estão mais ou menos equilibrados, não vejo uma disparidade nesse novo modelo. O que eu acredito é que deve-se copiar o que está dando certo. A Premier League (Campeonato Inglês), por exemplo, tem uma igualdade de condição numa parte distribuída e só depois leva-se em consideração o ranking. Precisa ter uma forma mais justa de distribuição”, afirmou Adson.
Todavia o mandatário atleticano ponderou que times como o Flamengo, que têm grande apelo popular no país, merecem receber um valor maior se analisadas algumas questões. Ao mesmo tempo, ressaltou que o clube carioca não entrará em campo sozinho e as outras equipes também precisam ser ‘ouvidas’.
“É justo (Flamengo receber mais). Em algumas situações eu enxergo que é justo. 50% tem que ser divido em igualdade de condições, depois busca o valor da marca e algum histórico que cada um tenha. Mas eu vejo que pode melhorar, até mesmo para que tenhamos poder de investimento e o nível do futebol brasileiro cresça num todo. Temos que enxergar que o Flamengo não joga sozinho e sempre teremos clubes menores disputando os campeonatos”, pontuou.
Além dessa mudança nas regras de diretos de transmissão, Adson Batista também aguarda novos formatos para as leis que resguardam direitos e deveres dos profissionais envolvidos com a prática esportiva.
 “Essa adequação será aprimorada sempre. O futebol precisa de uma legislação própria porque o jogador não é um trabalhador comum. Tem grandes salários, trabalha à noite, aos domingos e o Governo precisa entender isso. Precisa partir desse princípio”, pontuou o presidente executivo do Dragão.
Ouça na íntegra o presidente Adson Batista comentando os direitos de transmissão: