O Brasil sediou a 19ª reunião de cúpula do G20 em 2024 e na ocasião foi lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma iniciativa que pretende mobilizar as maiores economias do mundo no combate à miséria. Segundo dados da ONU, cerca de 733 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar severa ao redor do globo. Apenas no Brasil, após a pandemia de covid-19, já se contabilizavam 30 milhões de pessoas que enfrentavam a fome.
Renato Maluf, membro do Grupo de Referência da Cátedra Josué de Castro, já atuou como presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e explica melhor como funciona o projeto que pretende extirpar a fome no mundo.
Longo processo
Maluf explica que na cúpula de novembro os países participantes apenas assinaram o tratado, que é fruto de um longo trabalho de diplomacia: “A proposta foi construída ao longo de 2024 com várias consultas públicas entre os países participantes, e foi apenas lançada na reunião de cúpula do G20”.
A proposta consiste em um conjunto de políticas a serem oferecidas aos países interessados em buscar ajuda da Aliança para acabar com a miséria da própria população: “São opções a serem escolhidas pelos países interessados em implementar estratégias de enfrentamento da fome, com uma visão de ações integradas e com participação social, para o qual receberia o apoio da Aliança. A composição da cesta está baseada na própria experiência brasileira e na de outros países”, expõe o pesquisador.
O grande desafio será entender e planejar os modelos de financiamento que caracterizarão as ações da Aliança, que já nasce com 148 membros fundadores, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social. Outro desafio está em aliar o combate à fome com o desenvolvimento e capacidade institucional dos países em auxílio, visto que o combate não deve ser feito de forma impositiva: “O enfrentamento da fome e da pobreza deve refletir as peculiaridades dos países e exige engajamento local. Não se pode esperar um procedimento impositivo de soluções, porém, é desejável que as estratégias contemplem o enfrentamento das desigualdades estruturais e dos próprios sistemas alimentares geradores de fome e demais manifestações de insegurança alimentar,” argumenta Maluf. Ele também chama atenção para a aliança entre combate à miséria e preservação ambiental: “Da mesma forma, também se espera que sejam consideradas as repercussões dos sistemas alimentares na sustentabilidade ambiental, na saúde humana e nas mudanças do clima”.
E o Brasil se coloca à frente desses desafios, principalmente com atuação do Consea, órgão fundado em 2007 que combina participação governamental e civil para elaborar medidas de combate à insegurança alimentar em nosso país. “O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional apresentou para a força-tarefa responsável por elaborar a proposta um conjunto de sugestões com o enfoque na promoção de direitos, da soberania e da segurança alimentar e nutricional, com programas integrados e participação social. As sugestões também buscam proteger o combate à fome das ações das corporações alimentares” finaliza Maluf.
*Texto de J. Perossi sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo para o Jornal da USP
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 01 – Erradicação da pobreza e 02 – Fome zero e agricultura sustentável.
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