A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou, no último dia 6, um dado alarmante sobre alimentos vegetais no Brasil. Segundo o Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos (PARA) vinculado à Anvisa, um em cada quatro alimentos de origem vegetal no país contém resíduos de agrotóxicos proibidos ou em níveis acima dos limites legais.
A pesquisa analisou 1.772 amostras de 13 tipos de alimentos coletados em 79 municípios brasileiros durante 2022. Os resultados revelaram que 41,1% das amostras estavam livres de resíduos de agrotóxicos, enquanto 33,9% estavam dentro dos padrões permitidos.
Entretanto, 25% apresentaram irregularidades, incluindo presença de agrotóxicos não autorizados ou em concentrações superiores. Alarmantemente, 0,17% das amostras, ou seja, três delas, apresentaram risco agudo à saúde, indicando possível dano ao ingerir uma grande quantidade desses alimentos em uma única refeição.
Agrotóxicos
O Brasil é um dos principais consumidores mundiais de agrotóxicos, utilizando cerca de 2,6 milhões de toneladas anualmente, o que movimenta um mercado avaliado em quase 28 bilhões de euros, equivalente a aproximadamente R$ 101 bilhões, somente em 2020, de acordo com o Atlas dos Agrotóxicos.
O estudo coordenado pela Fundação Heinrich Böll Brasil evidencia que, em 2021, o Brasil se tornou o maior importador global dessas substâncias, registrando um aumento significativo de 384.501 toneladas em 2010 para 720.870 toneladas em 2021, um incremento de 87%.
Esse impacto se reflete na saúde de crianças e adolescentes, com aproximadamente 15% de todas as vítimas de intoxicação por agrotóxicos no Brasil pertencendo a esse grupo etário. Entre os bebês, houve 542 casos de intoxicação no período de 2010 a 2019. Gestantes também enfrentaram essa realidade, com 293 casos de intoxicação no mesmo intervalo de tempo. Essa situação não apenas afeta o corpo das mães, mas também pode impactar a saúde de seus bebês por meio do leite e até mesmo antes do nascimento.
Exposição prolongada
O relatório indica uma ligação entre a exposição prolongada a agrotóxicos e o aumento na incidência de doenças crônicas. Há evidências que apontam para uma elevada probabilidade de desenvolvimento de enfermidades como Parkinson, leucemia infantil, câncer de fígado e mama, diabetes tipo 2, asma, alergias, obesidade e distúrbios endócrinos.
A curto prazo, a exposição aguda a esses produtos está associada a vários sintomas debilitantes, como fadiga extrema, apatia, intensas dores de cabeça e dor nos membros. Em casos críticos, existe o risco de falha em órgãos vitais, incluindo coração, pulmões e rins. Aproximadamente 11 mil pessoas morrem anualmente em todo o mundo devido a envenenamentos não intencionais por agrotóxicos.
O Atlas revela que no Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) despende 150 reais por caso de intoxicação por agrotóxicos, totalizando um custo anual de R$ 45 milhões. Estudos compilados nesta publicação destacam que o uso excessivo desses defensivos agrícolas representa um mau negócio. O custo para o SUS pode chegar a US$ 1,28 para cada US$ 1 investido em pesticidas, dependendo do tratamento necessário.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 02 – Fome Zero e Agricultura Sustentável
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