Victor Destéfano durante viagem a Praga, na República Tcheca (Foto: Arquivo Pessoal)

O goiano estudante de mestrado em Engenharia da Construção do Instituto Polítécnico de Bragança (IPB), em Portugal, Victor Destéfano, passou o último aniversário comemorando o retorno a Goiás. Ele, que fez 22 anos na última segunda-feira, dia 6 de abril, chegou da Europa na terça (7), e está em isolamento em casa, na cidade de Goiás, condição na qual permanecerá por 14 dias. Foram 48 horas de viagem, entre voos e tempo de espera em duas conexões. 

Ele embarcou no domingo (5), no aeroporto de Lisboa, e conta que se surpreendeu com a rigidez das medidas de isolamento do terminal na capital portuguesa. 

“No aeroporto de Lisboa, só entrava quem tinha passagem aérea marcada para o dia com três horas antes do voo. Só essas pessoas tinham acesso ao aeroporto. Havia uma restrição muito grande, inclusive nos arredores do aeroporto, para evitar que pessoas que tinham voos cancelados ficassem lá dentro esperando”, afirma. 

Depois de fazer escala em um aeroporto praticamente vazio por conta da pandemia em Londres, na Inglaterra, Victor fez nova conexão no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Lá, ele conta que, assim que saiu da aeronave, passou por uma triagem como medida de prevenção, incluindo o distanciamento entre os passageiros, mas percebeu que as pessoas circulavam livremente pelo terminal. 

“Quando a gente desceu, foi aferida nossa temperatura. Só no aeroporto tinha livre acesso, as pessoas podiam entrar e sair. Estive lá no aeroporto durante 26 horas porque eu tive um voo cancelado, e vi que tinha um fluxo de pessoas muito maior do que nos aeroportos de Lisboa e Londres”, relata. 

Chegando em Goiânia, no Aeroporto Santa Genoveva, ele conta que desembarcou normalmente. “Quando cheguei em Goiânia, não houve nenhum tipo de cuidado. Não sei o movito, talvez por ser um voo nacional. Não houve nenhum tipo de precaução. Foi dito a nós que o avião havia sido bem higienizado durante o voo, o piloto disse isso. Fora isso, não soube de nenhum outro cuidado”, relembra. 

Agora na cidade de Goiás, Victor conta que está apenas com a irmã mais nova em casa, e que toma todos os cuidados para poder rever os pais, depois de um ano e meio na Europa. Ele, que não possui sintomas do novo cononavírus, quer ter certeza de que não foi infectado pela Covid-19. 

“No caminho de Goiânia para cá, fiz questão de não parar em nenhum estabelecimento, de evitar ao máximo a comunicação com as pessoas, sempre usando luva e máscara, durante todo esse processo de viagem, de quando eu saí de Bragança para Lisboa, para Londres, para São Paulo, Goiânia e aqui em Goiás. Estou tentando cumprir o que a Organização Mundial de Saúde diz, estou tentando proteger ao máximo a minha família, até porque meus pais são do grupo de risco. Essas foram as medidas que tomei para proteger as pessoas da minha família e da minha cidade”, conclui. 

A cidade de Goiás, que não possui nenhum caso confirmado de Covid-19, ficou fechada para turistas até às 23 horas deste domingo (12) de Páscoa. Até a tradicional Procissão do Fogaréu foi cancelada, para evitar qualquer tipo de aglomeração. 

Isolamento em Bragança 

A cidade, que fica na região norte do país lusitano, a 486 quilômetros da capital Lisboa, possui pouco mais de 21,8 mil habitantes no perímetro urbano, cuja economia praticamente gira em torno do Instituto Politécnico (IPB). Victor relata que o isolamento em Bragança teve início na semana do dia 2 de março. 

“Durante esse período, a população acatou de maneira espetacular as medidas tomadas pelo governo. Não havia fluxo de pessoas. Tudo foi levado, desde o princípio, com muita seriedade”, relembra. 

Em Bragança, o estudante morava em uma casa com mais quatro pessoas, e disse que o primeiro problema enfrentado por conta da pandemia foi a procura por comida e o esvaziamento dos supermecados. 

“A primeira coisa que a gente enfrentou foi essa histeria por comida. A maioria das pessoas foi às compras e os supermecados ficaram vazios. O governo português fez um esforço enorme para conter essa histeria mantendo comida no supermercado. Logo na primeira semana, essa histeria desapareceu. A gente se tranquilizou como população, e que a gente não iria ficar sem comida”, conta. 

O estudante conta que em todos os supermercados havia funcionários fazendo a higienização de carrinhos e borrifando álcool em gel nas mãos de quem chegava para fazer compras, além de limitar o número de pessoas que podia entrar nos estabelecimentos. 

Farmácias também permaneceram com as portas abertas, por ser considerado serviço essencial. Assim como no Brasil, outros serviços acabaram sendo feitos de casa, via home office. 

De acordo com últimos dados da Diretoria-Geral de Saúde, Portugal possui 16.585 casos confirmados do novo coronavírus e 504 mortes. Desde o dia 1º de março, 161.745 testes para Covid-19 foram realizados, 17.893 deram positivo. 

“Estamos numa fase de planalto, no entanto todos os resultados são muito preliminares e devem ser interpretados com cautela”, adiantou no sábado (11) a Ministra da Saúde, Marta Temido, pedindo a colaboração de todos “no sentido de reduzir a transmissão” do novo coronavírus e na “correta transmissão” das mensagens de saúde pública.

ipb

O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) (Foto: Google Street View)

Aeroportos brasileiros 

Sobre os relatos a respeito do aeroporto de Goiânia, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) disse em nota que segue deterinação da Agência Nacinal de Vigilância Sanitária (Anvisa). No Santa Genoveva, a Infraero diz que o terminal adotou todos os protocolos de higienização e segurança de passageiros e funcionários, intensificando a limpeza de áreas comuns do aeroporto, e que o local teve ampliada a disponibilização de itens para higiene das mãos, sempre com orientações sobre a importância sobre o distanciamento entre as pessoas. 

A Anvisa disse, também em nota, que o procedimento nos aeroportos em relação aos passageiros é correto, e que a agência está focada em três pontos: 

1) dar encaminhamento aos casos sintomáticos,

2) adotar as medidas para encaminhamentos destas pessoas ao serviço de atendimento;

3) tornar possível o rastreamento dos demais passageiros em casos de confirmação, mediante solicitação das secretarias de saúde.

Ainda na nota, Anvisa acrescenta que o trabalho da agência “é voltado para os viajantes internacionais assim os nossos procedimentos são focados nos locais de entrada internacinal de viajantes.

Ainda segundo a Anvisa, “com a alteração da situação da doença e o início da transmissão comunitária no Brasil, as ações da vigilância sanitária de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados estão voltadas para medidas de orientação. Essas informações incluem a indicação de isolamento de pessoas com sintomas e os cuidados de proteção, como higienização frequente das mãos e etiqueta respiratória.” 

A estratégia do Brasil nos aeroportos, segundo a Anvisa, inclui:

1) monitoramento das comunicações feitas pelos comandantes de aeronaves sobre a saúde a bordo;

2) investigação de denúncias;

3) divulgação intensiva de orientações e cuidados aos trabalhadores aeroportuários; e

4) inspeção da intensificação de limpeza e desinfecção das aeronaves, entre outras atividades.”

Também por meio de nota, a GRU Airport, que administra o Aeroporto Internacional de Guarulhos, informou que “segue todas as recomendações do Ministério da Saúde e da Anvisa e coopera com os órgãos federais e companhias aéreas no enfrentamento ao COVID-19 a partir das seguintes medidas: 

– Aferição da temperatura corporal de todos os passageiros que desembarcam de voos domésticos e internacionais, em posto médico avançado implantado nestas áreas exclusivamente para este procedimento pré-hospitalar.

– Análise constante dos procedimentos de higienização, em atenção às exigências da vigilância sanitária, aumento da frequência de limpeza nas áreas comuns do aeroporto;

– Reforço no abastecimento de papel higiênico e papel toalha, sabonete, álcool gel e a disponibilização de lixeiras dedicadas ao descarte de materiais infectantes, como máscara e luvas;

– Implantação de 72 novos dispensers de álcool gel em pontos com maior movimentação de passageiros;

– Desinfecção, por meio de nebulização, em áreas comuns dos terminais e, 2 e 3, incluindo corredores, balcões, escadas fixas, elevadores, piso, sanitários e todas as superfícies passíveis de contato;

– Acionamento do protocolo de remoção de passageiros e funcionários com suspeita da doença para hospitais referenciados, quando necessário;

– Envio periódico de comunicados aos colaboradores e comunidade aeroportuária (empresas terceiras prestadoras de serviços no aeroporto e lojistas) com informações sobre a doença, dicas de educação preventiva, incentivo ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), conforme recomendações da Anvisa;

– Veiculação de avisos sonoros e vídeo informativo oficiais nos canais de comunicação localizados em pontos estratégico do Aeroporto, acessível a todos os passageiros e colaboradores;

– Divulgação de QR Code com recomendações da Anvisa para combate ao COVID-19 nos ônibus que circulam entre os terminais do Aeroporto, bem como nos ônibus fretados para transporte de funcionários, e por meio de adesivos instalados ao longo do complexo aeroportuário;

– Implantação de adesivos no piso, a fim de orientar a manutenção da distância de 2 metros entre as pessoas nos locais de inspeção para embarque (raio-X) e imigração;

– Reforço de orientação para prevenção, conforme recomendações da Anvisa, nos perfis da GRU Airport nas mídias sociais;

– Divulgação de FAQ no site da concessionária para esclarecimentos de dúvidas recorrentes sobre andamento das operações do Aeroporto e procedimentos de apoio aos órgãos oficiais para combate à doença.” 

Quer saber mais sobre o coronavírus? Clique aqui e acompanhe todas as notícias, tire as suas dúvidas e confira como se proteger da doença