Erica Karata e Masahiro Higashide estrelam “Asako I & II”, do diretor Ryusuke Hamaguchi. (foto: divulgação/internet)

Sair do eixão cinematográfico de Hollywood significa também sair da zona de conforto. E um dos papéis da Mostra “O amor, a morte e as paixões”, nas palavras de seu próprio criador e curador, Lisandro Nogueira, é construir um olhar cinematográfico no público goiano. Apurar o senso crítico, a análise fílmica, a vontade e o costume de ir ao cinema – principalmente se for para variar o cardápio.

Nesse sentido, “Asako I & II”, do jovem diretor Ryusuke Hamaguchi, está dentre aqueles que vão te deixar um certo desconforto. Porque é cinema japonês – um dos meus favoritos, diga-se de passagem.

Por que o curador colocou esse filme na grade? Bom, “Asako” foi vencedor de melhor roteiro no International Cinephile Society Awards (que é uma organização on-line de críticos de cinema e jornalistas profissionais em todo o mundo), além de ter sido indicado a melhor filme em outros 5 festivais, dentre eles Cannes. Coleciona críticas positivas.

A proposta do roteiro é interessante: colocar o romantismo em perspectiva. O nome da produção, inclusive, faz com que pensemos serem dois filmes! Na verdade, existem mesmo dois contos dentro do mesmo filme, abarcando fases diferentes na vida da protagonista, Asako (Erika Karata).

Ela é uma estudante de 21 anos que mora em Osaka e se apaixona por um cara esquisitão chamado Baku (Masahiro Higashide). Fica completamente apaixonada mesmo! O problema é que ele é imprevisível, e alguns meses de relacionamento depois, some sem deixar pistas. Grosso modo, essa seria a “Asako I”, essa adolescente inocente, aberta a aventuras e que se joga completamente num relacionamento. Corta para vários anos adiante.

Asako agora está em Tóquio, e encontra Ryohei (também o ator Masahiro), um colega de trabalho fisicamente idêntico a Baku. E se apaixona. Aí começa o segundo ato do filme propriamente dito, porque é quando a angústia da personagem começa – a partir daqui, poderíamos dizer “Asako II”.

Veja bem, não estou dando spoilers! Isso está na sinopse oficial do filme. Evito ao máximo comentar detalhes excessivos das obras aqui, mas como esse espaço não é só para mera reprodução dos resumos oficiais, então é preciso destrinchar algumas questões.

asako i e ii interno1Asako e sua dúvida existencial: ficar, ou seguir em frente? (foto: divulgação/internet)

Como dito anteriormente, talvez a intenção do diretor fosse colocar o romantismo em perspectiva. Porque as “diferentes Asako” (na verdade, uma só, em períodos e circunstâncias diferentes da vida) reagem diferentemente com Baku e Ryohei, fisicamente idênticos, mas com personalidades absolutamente diferentes. Estaria ela apaixonada pelo físico, sempre presa a Baku? Ou Rhyohei também roubara verdadeiramente seu coração? De um lado, a inconstância e a adrenalina da paixão. De outro, a segurança e o conforto do amor. Por qual caminho seguir?

Existem certos arroubos incompreendidos do diretor no que diz respeito à fotografia, trilha sonora e escolhas estéticas, que soam um tanto quanto deslocadas e sem propósito na história (temos uma trilha meio retrô/futurista, com sintetizadores; câmeras lentas e quebra de quarta parede – quando os atores olham para a câmera e o espectador; câmera na mão, dentre outras iguarias não plenamente justificadas), mas que não chegam a comprometer o filme.

As atuações também não pecam, mas é preciso dizer que Masahiro se sai bem melhor que Erika. O ator realmente convence interpretando dois personagens distintos, enquanto a atriz exageram um pouco na ingenuidade e “melosidade” da protagonista – o que, pensando melhor, o filme não deixa claro ser uma escolha da atriz ou do próprio diretor.

De todo modo, “Asako I & II” traz um pouco do instigante cinema japonês para a Mostra. No quesito sentimental, soa meio estranho e não chega muito perto de mestres como Ozu e Koreeda (esse último, na grade de programação com o seu belíssimo “Assunto de Família”- assistam!), mas certamente tem a contribuir com o nosso olhar do lado de cá da tela.

*Filme assistido na 12a Mostra “O amor, a morte e as paixões”