Uma pesquisa de um grupo internacional de pesquisadores iniciada em 2013 sugere que as bactérias nas árvores da Amazônia podem absorver metano. A informação surgiu da coleta de gases em cascas das árvores da floresta no Brasil em comparação com análises de amostras de florestas do Panamá, Reino Unido e Suécia.

O resultado do estudo até o momento está publicado na revista Nature. Segundo os pesquisadores, havia a ideia de que a floresta amazônica contribui para o aquecimento global por causa das medições de gases da última década. Mas a pesquisa indica, então, que ela pode ser parte da solução. O biólogo brasileiro Alex Enrich Prast lidera a pesquisa em parceria com o biólogo britânico Vincent Gauci.

São dois trabalhos diferentes, porém consonantes: o de Prast observa a capacidade da floresta reter o metano e começou a partir da pesquisa da química Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que analisou um volume de emissões maior do que o esperado na floresta entre 2011 e 2013. “Nós mediamos os fluxos de metano na floresta com baldinhos, enquanto outros faziam monitoramento com aviões”, diz Prast. 

Metano

O metano é um dos principais gases que agravam o aquecimento global e os pesquisadores descobriram dentro da floresta que as bactérias que ficam nas raízes das árvores lançam o gás nocivo na atmosfera. Entretanto, Prast, Gauci e os demais pesquisadores observaram que as árvores também estavam assimilando o gás, funcionando como sumidouros de metano. “Vimos que a assimilação é maior na porção mais alta do tronco”, afirma.

Câmaras com sensores permitiram medir a troca de gases (Foto: Nathalia Bulcão Soares / UFRJ)

Então, os pesquisadores instalaram nas árvores aparatos como câmaras detectores de gases e perceberam que nos troncos e nas várzeas acontece a absorção do metano. “Já identificamos, na microbiota do tronco, algumas bactérias que oxidam o metano”, conta.

A coleta ocorreu na Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, em Rondônia, às margens do rio Madeira e cerca de 130 quilômetros (km) a nordeste de Porto Velho. Em números, os troncos conseguem absorver em média 15% de carbono pela biomassa vegetal da Amazônia. Para a mitigação isso corresponderia a 7% da absorção em florestas temperadas e 12% nas tropicais. 

Importância do estudo

O estudo reforça a importância do reflorestamento para mitigar as emissões de gases do efeito estufa. Jean Ometto, do Inpe, celebrou a indicação da recuperação florestal.

“A redução das concentrações de metano antrópico na atmosfera, por sua dinâmica e tempo de residência, é de enorme relevância para que as metas do Acordo de Paris possam ser atingidas”.

O dióxido de carbono tem vida longa e permanece mais de um século na atmosfera. Mas apesar de permanecer por apenas 10 anos, o metano tem poder de aquecimento maior pela forma como sua estrutura molecular reage com a radiação solar.

Resultado positivo

Os pesquisadores ainda estão com o estudo em andamento, no entanto já veem resultados positivos. As análises surgiram a partir de um resultado negativo, a pesquisa de Luciana Gatti, que indicou uma alta emissão de metano pela floresta. “Essa nova área da ciência não avançaria se não tivéssemos prestado atenção a esse resultado”, diz Alex Enrich Prast. 

Júlia Gontijo, pesquisadora integrante do grupo de estudo, celebrou o resultado. “Considerar que a microbiota das cascas das árvores também consome metano altera significativamente o balanço de gases”.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática.

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