CLAYTON CASTELANI / SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Juros altos podem levar parte da população a ver os bancos como grandes beneficiários da alta do custo do crédito. Essa até pode ser uma verdade sob determinados pontos de vista, mas a realidade é diferente no mercado de ações
O setor da Bolsa de Valores composto por instituições bancárias perdeu em novembro o posto de segmento com maior participação na composição do Ibovespa, no qual se mantinha desde 2013, segundo levantamento do TradeMap.
No dia 11 do mês passado, dois dias após o maior tombo em duas décadas das ações do Bradesco, os papéis ligados à mineração pularam para o primeiro lugar entre os setores com maior peso no índice de referência do mercado acionário brasileiro, com participação de 19,6%.
Os bancos caíram para a segunda colocação (17,6%). A terceira posição permaneceu com o ramo da exploração e refino de petróleo (14%).
A queda de quase 18% da ação preferencial do Bradesco, motivada pela divulgação de um resultado decepcionante no terceiro trimestre, espalhou pessimismo entre investidores quanto às ações de todo o setor, mas a perda de espaço desse grupo no Ibovespa é constante desde 2019, ainda no início do governo de Jair Bolsonaro (PL).
É fato que a situação piorou com a chegada da pandemia de Covid-19, mas afundou mesmo a partir de março deste ano, quando o Banco Central iniciou uma agressiva elevação da taxa básica de juros para conter a inflação. A Selic pulou de 2% para 13,75% entre fevereiro e agosto.
O levantamento de Einar Rivero, gerente do TradeMap, mostra que o setor de bancos atingiu o pico dos últimos 20 anos em dezembro de 2018, quando representava 31% do Ibovespa.
Em fevereiro de 2020, antes do início da crise sanitária, já havia caído para 24%. Finalmente, em novembro passado, escorregou para 17,85% e, com exceção dos 17,75% registrados em dezembro de 2021, chegou ao menor patamar desde dezembro de 2013, ainda no primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Entre as crises políticas e os solavancos econômicos que enfraqueceram a fé de investidores nas ações dos bancos, a alta dos juros foi o fator determinante para os afugentar, segundo Acilio Marinello, coordenador do MBA em digital banking da Trevisan Escola de Negócios.
“Por um lado, os juros altos beneficiam os bancos porque eles são grandes compradores de títulos do governo e, se os juros sobem, também aumentam os retornos desses títulos”, diz Marinello.
“Mas essa mesma alta dos juros não é benéfica na relação dos bancos com pessoas físicas e empresas do setor privado porque faz crescer o risco de inadimplência e, além disso, o custo do crédito reduz o potencial de expansão da oferta de empréstimos”, completa.
Ou seja, mesmo que os bancos possam ganhar mais cobrando taxas de juros mais altas, o público para o qual eles podem oferecer empréstimos e financiamentos fica reduzido quando o contexto é de aperto monetário, segundo o especialista. Análises descuidadas na concessão podem resultar em crescimento dos calotes.
Marinello recorda que o pânico gerado pelo balanço do Bradesco estava, justamente, relacionado à revelação de que houve aumento das provisões para lidar com devedores considerados duvidosos quanto à capacidade de pagamento. “É uma situação que reduz lucros e diminui o pagamento de dividendos, afastando investidores”, disse.
Sobre o dia em que o mercado reagiu ao balanço do Bradesco, o TradeMap levantou que o segmento de bancos perdeu R$ 54,2 bilhões de valor de mercado no pregão do dia 9 de novembro.
Só o Bradesco caiu R$ 30,7 bilhões. O Itaú perdeu R$ 13,1 bilhões e o Santander, R$ 6,22 bilhões.
A ação preferencial do Bradesco recuou 17,38%, a segunda maior queda diária do papel desde o início do Plano Real, em junho de 1994.
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