Edson Rodrigues de Oliveira morreu hoje, 26, aos 79 anos, vítima de um câncer no pâncreas, descoberto recentemente. Mineiro da cidade Araguari, morreu na manhã desta quinta-feira em casa.

O Edson Rodrigues era meu ídolo. Até 1981 morei em Mineiros. Acompanhava o futebol goiano pelas rádios de Goiânia. A que tinha o melhor sinal em minha cidade era a Brasil Central (RBC) através das ondas tropical e curta.

O rádio esportivo em Goiás tinha grandes narradores. Dois deles me chamaram a atenção: o saudoso Jota Júnior e Edson Rodrigues. Apaixonei-me pelas narrações do Edson. O gol “gritado” por ele era inigualável. Vibrante, Extraordinário! Enaltecia o autor do gol com a tradicional frase: “Camisa número tal”… Na sequência a carinhosa dedicação ao torcedor: “um gol que dá muita alegria para o fulano de tal” … Encerrava fazendo uma advertência para o goleiro: “Fulano de tal, levanta que vem mais”.

José Carlos Lopes e Edson Rodrigues (Foto: Arquivo Pessoal)

O Edson Rodrigues já entrava na transmissão para narrar o jogo em grande estilo com o lema: “Nós abrimos para Goiás o caminho do Rádio moderno”. Ele tinha dezenas de frases de efeito e bordões que marcaram a sua vitoriosa carreira. É a pura verdade. As narrações do Edson revolucionaram o rádio esportivo. A crônica esportiva goiana ganhou projeção nacional e internacional por conta do talento do Edson Rodrigues.

Edson Rodrigues foi, por muitos anos, o melhor locutor esportivo do Brasil, com o devido respeito que outros narradores merecem. A emissora que tinha o Edson ganhava a audiência. Por isso, foi o mais cobiçado profissional do rádio esportivo goiano.

Por conta das inúmeras e vantajosas propostas que recebia mudou várias vezes de emprego. Passou por várias emissoras de rádio. Em 2001, talvez tenha feita a transferência mais polêmica da sua vida. Edson, Roberto Sampaio, Ricardo Lima e eu trocamos As Feras do Kajuru, na então Rádio K do Brasil (antiga Rádio Clube, hoje Rádio Sagres) pela Rede Brasileira de Esportes, locatária do horário de esportes na Rádio Difusora/CBN Anhanguera, através do empresário Gilson Almeida. A saída foi polêmica! Sofremos muitas críticas de ouvintes e até de alguns colegas da crônica esportiva por conta da mudança de rádio. O Edson ficou chateado na época, mas tirou de letra. Não ficou com mágoa de ninguém. Edson tinha um coração generoso. Depois 2 anos na RBE, retornou para as Feras do Kajuru, o seu lugar de aconchego.

Trabalhei por cerca de 30 anos ao lado do Edson Rodrigues, inclusive na Rádio Bandeirantes, onde estava atualmente. Além de ídolo, Edson Rodrigues era um grande amigo. Caseiro como era, poucas vezes foi à minha casa, mas eu fui à dele para reuniões familiares e encontros com amigos dezenas de vezes.

O Edson era muito receptivo como toda a sua família, a sua esposa Leila Ribeiro, os filhos: o brilhante cronista esportivo Edson Júnior, Rafael, Juliani, Adriana e Carla. Convivência extensiva também com os seus irmãos, sobrinhos, cunhados.

Tivemos momentos memoráveis no trabalho e nesta relação familiar. Além da sua casa em Goiânia, me encontrei várias vezes com o Edson, com os familiares e amigos em sua chácara no município de Terezópolis-GO para jogar bola, fazer churrasco, galinhada, enfim, para confraternizações. Também marquei ponto em sua casa na Cidade de Goiás. São lembranças que guardarei por toda a vida.

França 1998

No trabalho tivemos grandes jornadas e viagens inesquecíveis. A melhor delas foi à França em 1998, para a cobertura da Copa do Mundo. Com o comando de Jorge Kajuru e a coordenação de Charlie Pereira, Edson narrou todos os jogos do Brasil. Realizamos o melhor trabalho do rádio esportivo. Foi sensacional, incomparável. A Seleção Brasileira perdeu a final para a França, mas com o Edson no microfone ganhamos a Copa do Mundo.

Em Paris passamos 40 dias juntos. Eram dois apartamentos grandes. Ficavam perto da Torre Eiffel. Deu para acomodar bem o nosso time com grandes feras. O Edson Rodrigues, além das narrações dos jogos, apresentava programas dentro do Centro de Imprensa na capital francesa. Retornava ao apartamento para preparar, em quase todos os dias, o jantar.

Foi uma coisa fantástica. O melhor narrador esportivo do rádio brasileiro virou Chef em Paris. Quantos jantares foram preparados pelo Edson, com o auxílio do nobre José Pereira dos Santos, pai extraordinário do jornalista Charlie Pereira, hoje um dos gestores do Sistema Sagres de Comunicação. O Zé Pereira era o chefe da equipe técnica.  Os jantares eram apreciados como banquete, por todas as Feras: Jorge Kajuru, Evandro Gomes, Ricardo Lima, Luiz Gama, Alípio Nogueira, Graça Torres, Dante Keller, por mim e pelos convidados, o cantor Ivan Lins e o empresário José Paiva.

O Edson cuidou de todos nós com todo zelo e carinho, como se fôssemos os seus filhos. Gratidão para sempre!

Após o fim da Copa do Mundo, o Edson Rodrigues e o Evandro Gomes saíram de férias com os familiares para um passeio pela Europa. Tenho certeza de que viagem à França foi a realização de um sonho.

Família

O Edson Rodrigues foi um marido carinhoso. Era apaixonado pela Leila. Tinha respeito e admiração pela inteligência, talento e liderança da esposa. Curtia com emoção todas as músicas interpretadas pela sua querida Leila. Os conselhos dela eram lei. Ele seguia à risca.

O Edson tinha devoção pelos filhos e netos. Vibrava com as conquistas de cada um. Amava a todos sem distinção. Era fã do Edson Jr herdeiro intelectual do seu talento no rádio esportivo.

Agora, durante da Copa do Catar, ele me enviou uma mensagem e a foto da neta Núbia Raffaella trabalhando como comissária de bordo na companhia aérea que transportou a delegação do Brasil para a disputa do mundial. Ele estava orgulhoso da conquista da neta.

O Edson era assim, um paizão, um vozão, um maridão e um amigão, inclusive dos milhares de fãs que tinha. Como respeitava os seus ouvintes, tinha até um bordão: “Sem o meu ouvinte não estou com nada”.

Amor ao futebol goiano

O Edson Rodrigues, mineiro de Araguari, amava o futebol goiano. Manteve debaixo de 7 chaves o sigilo sobre o time do coração. Dizia que gostava de todas as equipes. Quando era entrincheirado, declarava amor pelo Goiânia. Para mostrar a sua independência, vestia com a mesma cara de felicidade a camisa de todos os times.

Edson Rodrigues com as camisas dos clubes de Goiânia (Foto: Arquivo Pessoal)

Todos os dias trocávamos mensagens motivacionais ou orações. Veja está oração que ele me passou na véspera do Natal:

“Deus,

Encha o meu coração de paz, restaura minhas forças, renova a minha fé, cubra-me do seu amor…!

Liberta-me das aflições, das angústias, das preocupações e das desilusões!

Guia os meus pensamentos.

Descanso em Ti porque sei que o Senhor nunca me abandonará!”

À amada família do Edson Rodrigues, especialmente à esposa Leila Ribeiro, e ao grande amigo Edson Jr., manifesto os meus sinceros sentimentos de tristeza. A dor que vocês sentem também dilacera o meu coração.

Peço a Deus que conforte os nossos corações, de todos os familiares, dos amigos, fãs, especialmente de todos os cronistas esportivos.

Descanse em paz, meu amigo irmão!

Leia mais