Foto: Isac Nóbrega/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) se envolveu em mais uma polêmica. Na manhã desta segunda-feira (29), na saída do Palácio da Alvorada em Brasília, o peselista criticou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. 

“’Se o presidente da OAB quiser saber como o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, afirma. 

Felipe Santa Cruz é filho de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, que desapareceu durante a ditadura militar. Ele foi preso pelo governo em 1974 e não foi mais visto desde então. O motivo da crítica é sobre a atuação da OAB em relação às investigações a Adélio Bispo, autor da facada contra o então candidato à presidente da República Jair Bolsonaro, em setembro de 2018. 

“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados (de Adélio)? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB?”, questiona Bolsonaro. 

De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, é falsa a informação de que a OAB estaria protegendo o sigilo telefônico de Adélio. Trata-se de uma fake news. Em 2016, Felipe Santa Cruz pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o mandato do então deputado federal, Jair Bolsonaro, fosse cassado, pelo motivo de apologia à tortura. 

À época, ao declarar o voto no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Bolsonaro homenageou Carlos Brilhante Ustra, comandante do Doi-Codi, em São Paulo, centro de tortura durante o período ditatorial. 

Por meio de nota, o presidente da OAB disse que as declarações de Jair Bolsonaro são “inqualificáveis”, e que o peselista “deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia”.

“Como orgulhoso filho de FERNANDO SANTA CRUZ, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro. O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão. Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos.
Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por “vivência”, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber.
A respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente. Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas.
O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram – e sempre estarão – sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil.
Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente.”

Garimpo

Ainda ao falar com jornalistas nesta manhã (29), Jair Bolsonaro disse que tem a intenção de legalizar a atividade de garimpo, e que povos indígenas poderiam executar a função dentro de suas reservas. 

“É intenção minha regulamentar o garimpo, legalizar. Inclusive para índio. Índio tem que ter o direito de explorar o garimpo na tua propriedade, que a terra indígena é como se fosse propriedade deles. Lógico, ONG’s e outros países não querem. Querem que o índio continue como preso em um zoológico, como se fosse um ser humano pré-histórico lá dentro”, conclui.

Atualizada às 17h11