Vinícius Tondolo
Vinícius Tondolo
Vinicius Tondolo é diretor executivo do Sagres Educa, jornalista do Sistema Sagres de Comunicação, Mestre em Comunicação, docente e especialista em Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pelo curso de formação internacional MAIA

Brasil adere a aliança internacional de resiliência à seca

O planeta Terra é formado em sua maioria por água e a vida depende dela para manutenção e sobrevivência. Enquanto nossa percepção se confunde com relatos diversos de secas e enchentes inundando nossas fontes de informação, o estudo do MapBiomas Água identifica aquilo que possa não parecer tão claro assim: Os corpos hídricos naturais do Brasil estão encolhendo. Quando comparada a superfície do território brasileiro coberta por água em 2023, em relação a 1985, a redução foi de 6,3 milhões de hectares, uma queda de 30,8%.

Enquanto a região Sul da América (Brasil, Argentina, Uruguai e Chile) têm registrado casos de inundações similares à catástrofe climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, onde mais de 1,9 milhão de pessoas foram diretamente impactadas pelas cheias. Há pouco mais de um ano, 374 municípios gaúchos decretaram situação de emergência por causa da estiagem. Hoje, eles engrossam a lista de impactados pelas cheias.

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A região equatorial (amazônica), reconhecida pela abundância de águas, hoje sofre com a seca. No Brasil, os estados solicitam apoio. Na Colômbia, a falta de água já impacta a geração de energia. O Equador, que depende do país vizinho, viveu um blecaute total de 40 minutos na última semana.

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Países da região caribenha também entraram no mês de maio em diferentes graus de alerta: o Haiti e Porto Rico têm cidades em emergência pelas chuvas. O México passou a semana com uma onda de calor excepcional que levou a cortes de energia pouco típicos, e a Costa Rica precisou decretar racionamento de eletricidade como consequência da pior seca em 50 anos.

O Reino Unido, reconhecido mundialmente como um dos países mais chuvosos da Europa, corre risco de secas. A agência ambiental local prevê escassez diárias de quase 5 bilhões de litros de água até 2050 se nenhuma ação for tomada. Redução da capacidade do solo reter água, modificações humanas e falta de manutenção são as principais causas identificadas.

Soluções e Sustentabilidade

O Brasil é o mais recente país a integrar a Aliança Internacional para a Resiliência à Seca (IDRA, na sigla em inglês), a coalizão global que mobiliza capital político, técnico e financeiro para preparar o mundo para secas mais severas. A adesão brasileira eleva o total de membros da IDRA para 38 países e 28 organizações intergovernamentais e de pesquisa, demonstrando uma disposição cada vez maior para enfrentar um dos riscos naturais mais mortais e onerosos do mundo.

Lançada pelos líderes da Espanha e do Senegal durante a 27ª Cúpula da ONU sobre o Clima (COP27), a Aliança impulsiona ações contra as secas diante do aquecimento global, reconhecendo que somos tão resilientes às secas e à mudança climática quanto nossas terras. Cerca de 38 milhões de brasileiros de 1.561 municípios são vulneráveis à desertificação e à seca, assim como 1,4 milhão de quilômetros quadrados de terras em 13 estados, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).

Outra iniciativa liderada pela ONU junto ao governo federal, o Ceará é o primeiro estado a implementar o Sertão Vivo, um projeto que permitirá a gestão sustentável da terra no Nordeste do Brasil, em áreas altamente vulneráveis à mudança climática. Originalmente, o projeto deveria ser implementado em quatro estados, com um investimento de R$ 1 bilhão (US$ 217 milhões), mas o escopo foi ampliado para nove estados e R$ 1,775 bilhão (US$ 386 milhões), chegando a 1,8 milhão de pessoas, priorizando a participação de mulheres, jovens e comunidades tradicionais. 

O projeto promoverá a criação de sistemas agroflorestais integrados que aumentem a fertilidade do solo e o conteúdo de carbono; e promoverá práticas de coleta, armazenamento e uso de água que sustentem as plantações e a pecuária para resistirem a padrões irregulares de chuva e secas prolongadas. Essas atividades evitarão a emissão de 11 milhões de toneladas métricas de poluição por dióxido de carbono na atmosfera, o que equivale aproximadamente a 339.000 pessoas voando de São Paulo a Manaus, no Brasil.

Pode até parecer repetitivo – e eu não acredito que seja um discurso que gere algum tipo de comoção popular – porém, dependendo da geração do leitor, a iminência de um colapso climático é uma promessa ouvida desde o nascimento. Com os últimos anos sendo os mais quentes já registrados e 2023 superando as expectativas até dos mais pessimistas, fica claro que essa realidade não é mais um futuro distante, mas um desafio anual que enfrentaremos pelo resto da vida. Seja na rotina das nossas casas, escolas e locais de trabalho, seja no dia a dia das cidades. Esta precisa ser uma pauta das Eleições em 2024.

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[COP À COP]

– FUNDOS VERDES. Técnicos dos países-membros do G20 chegaram ao consenso sobre a prioridade brasileira para a facilitação do acesso aos Fundos Climáticos, principalmente por pequenas e médias economias. Um dos focos do grupo de trabalho de Finanças Sustentáveis, que se reuniu esta semana em Belém, capital do Pará, o tema teve “excelente receptividade” e recebeu uma série de recomendações para implementação da medida já nos próximos meses. 

– ESTRATÉGIA PARA ÁGUA. O Presidente do FIDA e Presidente da ONU Água, Alvaro Lario, lançará a primeira Estratégia para Água e Saneamento de todo o sistema das Nações Unidas, bem como apresentará as conclusões do próximo relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2024. Ao tornar a água uma prioridade estratégica central para as Nações Unidas pela primeira vez, a estratégia para todo o sistema surgiu a pedido dos Estados-Membros, que solicitaram uma abordagem mais ambiciosa e conjunta das Nações Unidas sobre a água. Esta é a primeira oportunidade de ouvir os detalhes desse resultado.

– PODCAST. Como as cidades são determinantes para o futuro do planeta? Como iniciativas desenvolvidas nas principais cidades do mundo podem servir de exemplo para o combate à fome e à pobreza, para uma transição energética justa e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas? Esses são alguns dos temas em debate no grupo de engajamento Urban 20 (U20), presidido pelo Brasil até o fim do ano, e coordenado pelas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Nesse episódio do POD20 Brasil, Lucas Padilha, coordenador do U20 pelo Rio, detalha a prioridade do grupo nas discussões do G20.

– REFLORESTAMENTO AMAZÔNICO. Aprovado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente, projeto prevê investimento de US$5,6 milhões (aproximadamente R$ 27 milhões) em ações para recuperação de cerca de 26 mil hectares de áreas alagáveis na Amazônia. No decorrer de 60 meses de implementação, o projeto deverá evitar a emissão de 10 milhões de toneladas de CO2, e proporcionará benefícios diretos para cerca de 1,6 mil pessoas pertencentes a comunidades locais tradicionais e indígenas.

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