Uma pesquisa conduzida pelo World Resources Institute (WRI) destacou que, caso não ocorram mudanças substanciais nos padrões de consumo de recursos primários em alguns países, é plausível que até o ano de 2050 cerca de um bilhão de pessoas possam enfrentar escassez de água. Segundo o relatório, os países que já enfrentam sérios desafios de escassez de água incluem Bahrein, Chipre, Kuwait, Líbano e Omã. O Brasil, por sua vez, é classificado como tendo um risco baixo ou médio nesse cenário, mas a pesquisa ressalta a importância de que medidas governamentais sejam implementadas para assegurar a preservação desse recurso no país.

Ana Paula Fracalanza, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, esclarece que a escassez de água em uma região está intrinsecamente ligada à utilização desse recurso, considerando tanto a quantidade disponível quanto sua qualidade apropriada. “Esse fator está também relacionado ao contingente populacional nessa região, então é uma questão relativa”, explica. 

A professora pondera sobre a relevância da poluição dos recursos hídricos como um fator crucial na avaliação desse debate. Quanto mais contaminados esses recursos estão, maior se torna a escassez de água. A atual posição do Brasil nesse contexto varia de acordo com a região considerada. Portanto, a pesquisadora observa que, apesar das frequentes discussões sobre o papel privilegiado do país nessa temática, há áreas onde a escassez de água, tanto em termos de qualidade (devido à falta de tratamento adequado) quanto em quantidade, é evidente.

Um exemplo notável é a região metropolitana de São Paulo, que abriga uma população considerável e possui rios tão poluídos que não podem ser utilizados como fonte de abastecimento. Nesse cenário, a escassez de água se torna mais evidente e preocupante. “Mesmo quando se considera a região do rio Amazonas e a região Norte do País, existem localidades em que essa quantidade de água para abastecimento é poluída, até em razão de questões como a população não ter esgotamento sanitário adequado”, acrescenta.

Direito essencial

Além dessas considerações, é importante ressaltar que a crise hídrica acarreta impactos ambientais, uma vez que a priorização do abastecimento humano resulta na redução dos níveis de água nos reservatórios, causando danos aos ecossistemas. A especialista também destaca que essa questão possui dimensões sociais, pois as comunidades socioambientalmente vulneráveis enfrentam maiores desafios no acesso à água durante essas situações.

Desde 2010, a Organização Mundial da Saúde (ONU) reconhece o acesso à água potável e ao saneamento básico como um direito essencial, fundamental e universal para a vida. “Dessa forma, ele é uma base para todos os outros direitos humanos, sendo possível dizer que a sua falta é um risco para a segurança destes”, afirma.

Portanto, é evidente que os Estados nacionais têm um papel crucial na regulamentação do uso equitativo da água pela população, e é igualmente importante que os setores agrícola e industrial participem ativamente desse processo. “É importante incentivar o reúso da água para que não se use a água tratada e potável, por exemplo, para o esgotamento sanitário”, pontua.

Por último, Ana Paula enfatiza que a participação da população desempenha um papel crucial na gestão desses recursos limitados. Portanto, é fundamental que o Estado seja transparente na divulgação de informações sobre a qualidade da água e sua postura diante da crise atual. “É fundamental uma maior distribuição de água para a população que não tem acesso a água em quantidade e qualidade adequadas, ou seja, para a população socioambientalmente vulnerabilizada”, finaliza, em entrevista a Julia Galvão, do Jornal da USP.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 06 – Água Potável e Saneamento

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