“Temos que aproveitar esse conhecimento [científico] e temos que aumentar a consciência das pessoas para a importância de promovermos práticas que não estressem o meio ambiente. Lembremos que se você fechar a torneira enquanto escova os dentes, não vai resolver o problema do planeta. Depende muito mais de questões políticas. Pequenas gotas de ação individual são importantes, mas não bastam”.

A fala é do presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, em entrevista ao Jornal da UFG. Professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Educação no governo Dilma Rousseff, Ribeiro abriu o 20º Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conpeex) da Universidade Federal de Goiás (UFG) nesta semana. O evento tem como tema “Ciências básicas para o Desenvolvimento Sustentável”, que repete a proposta da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023.

Na ocasião, Ribeiro falou sobre como a ciência pode e deve permitir o desenvolvimento de forma sustentável, mas com a diminuição da desigualdade social. Ele destacou ainda as diversas áreas da ciência e como cada uma tem seu próprio modelo de trabalho. Além disso, abordou também a importância de promover o encantamento dos estudantes dos ensinos fundamental e médio para o conhecimento científico e de ensinar coisas práticas a eles.

Nesse sentido, Ribeiro foi questionado sobre como a pesquisa científica pode contribuir para o desenvolvimento sustentável no cotidiano. “A universidade como geradora de conhecimento tem a responsabilidade – e tem conseguido – gerar resultados científicos, mostrando como nós podemos melhorar a vida das pessoas. Faz 400, 500 anos que vivemos sob a sombra da ciência moderna. O avanço da quantidade de procedimentos é enorme. Vamos pegar só um exemplo: 100 anos atrás a expectativa de vida no Brasil era menor que 40 anos. Hoje a expectativa de vida é de 75 anos. Porque cada geração tem uma expectativa de vida maior. Nós dobramos essa expectativa em um século”, exemplificou.

Desafios

No entanto, há desafios na hora de levar conhecimento científico para a sociedade. Para Ribeiro, não basta divulgar ciência, é preciso promover o que chamou de alfabetização científica.

“Assim como hoje a gente espera que as pessoas saibam ler e escrever e fazer operações aritméticas básicas, é importante que as pessoas também saibam alguns princípios da ciência, da Química, da Física, da Biologia, da História, da Filosofia – tudo isso é muito importante. Isso não é só divulgação, que muitas vezes é até curiosidade. Eu não vejo problema na curiosidade porque ela desperta a atenção, desperta criatividade, mas é preciso que as pessoas tenham uma formação em que elas saibam fazer algo com isso”, afirmou.

Um  exemplo, segundo Ribeiro, é o da Química, que tem uma aplicação importante na culinária. “Você aquece o óleo, você cozinha os alimentos, tudo isso produz reações químicas. Como isso ocorre na culinária, ou explicando melhor para as pessoas que a culinária já é química, nós temos uma forma melhor de ensinar uma ciência que às vezes é tão árida e de mostrar às pessoas o que elas podem fazer com isso”, discorreu.

Acesso ao conhecimento

Questionado sobre como a universidade pode melhorar o acesso ao conhecimento, o presidente da SBPC defendeu a liberdade de pesquisa. “A universidade não deve ter medo de colocar as coisas em discussão e isso é uma algo complicado, porque estamos com discussões um pouco abafadas. Nós vemos hoje que, na discussão de certos temas, se alguém discorda de uma determinada posição, a pessoa pode ser ofendida e agredida. A universidade não pode ter isso, ela tem que ser o lugar que você tem liberdade de pesquisa. Liberdade significa que é preciso que a gente pesquise coisas que podem ser antipáticas, como foi, por exemplo, falar de sexo, um século atrás, como falou Freud e era mal visto. Deixando claro também que universidade não é espaço da liberdade de opinião, porque opinião é quando cada um fala o que quer. Na universidade você precisa falar coisas com base em conhecimento científico”.

*Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 13 – Ação Global Contra as Mudanças Climáticas

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