O cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Francisco Tavares, concedeu uma entrevista exclusiva à Rádio 730 nesta segunda-feira (06), na qual analisou as causas do aumento da descrença nos políticos por parte da população em geral.

No ano passado, milhares de pessoas saíram às ruas para pedir o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Neste ano, mesmo diante das denúncias contra o presidente Michel Temer (PMDB) pelo crime de corrupção, as ruas estão praticamente vazias. Segundo Francisco Tavares, o marasmo pode ser explicado por um certo cansaço por parte da população. “Várias alternativas foram tentadas, no entanto a situação político-econômica parece ter continuado a mesma. Quando isso se dá, a população tende a desistir e a achar que nada pode ser feito. Mas a História mostra que isso é, em geral, temporário na política. Em algum momento novas organizações partidárias vão surgindo”, analisa.

Ainda segundo o cientista político, o advento da internet e das redes sociais aumentou o extremismo na sociedade. “A internet levou a uma hiperpolarização da sociedade. Os extremos ganharam muita força e as pessoas passaram a conversar cada vez mais apenas com seus iguais. Com isso as ideias vão ficando cada vez mais extremas e porque não dizer, odiosas”, pontua.

Além disso, ao ser questionado sobre as perspectivas de formação de lideranças femininas na política, Francisco Tavares disse que uma participação efetiva das mulheres no poder perpassa uma mudança de sistema eleitoral. “A participação política das mulheres no Brasil é comparada aos números de países do Oriente Médio. As cotas ajudam, pois trazem essas mulheres para um protagonismo político. Em segundo lugar, o que ajuda muito a bloquear estruturas historicamente patriarcais é uma mudança do sistema eleitoral. Em países onde há lista fechada, em que as pessoas votam no programa do partido antes da individualidade de um ou outro parlamentar, a participação feminina cresce significativamente”, argumenta.

De acordo com dados do Banco Mundial (Bird) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil ocupa a 115ª posição no ranking mundial de presença feminina no Parlamento dentre os 138 países analisados pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI). 

As nações que apresentam maior percentual de mulheres no Parlamento são Ruanda (63,8%), Bolívia (53,1%), Cuba (48,9%), Islândia (47,6), Suécia (43,6%), Senegal (42,7%), México (42,4%), África do Sul (41,8%), Equador (41,6%) e Finlândia (41,5%). No Parlamento brasileiro, há somente 10% de mulheres. Os Estados Unidos detêm a 74ª colocação, com 19,4% de mulheres no Parlamento. Na comparação, o Brasil se aproxima dos países do Oriente Médio e do norte da África (8,9%) e dos países árabes (9,5%).

Acompanhe a entrevista completa:

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