A devastação em curso no Cerrado é  tema de uma carta publicada por cientistas na Nature Sustainability. A revista britânica publicou a carta  “Reverter o descaso do Cerrado” no dia 17 de julho. O artigo destaca o aumento do desmate no bioma em contraponto à queda na Amazônia.

O contraponto é para revelar o descaso que está ocorrendo com o bioma Cerrado. Na carta, os cientistas ressaltam que o governo brasileiro já se movimenta para relançar o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Cerrado (PPCerrado), mas reforça que “é preciso pressa” nas ações.

“O bioma Cerrado no Brasil é a savana de maior biodiversidade do mundo e tem um papel fundamental na estabilização do clima local e global, armazenando carbono e fornecendo água potável ao país. No entanto, o Cerrado tem pouca proteção e está sendo convertido para a agricultura em um ritmo alarmante”, destaca a carta.

Os cientistas apontam que o desmatamento no Cerrado em 2022 foi  25% superior ao do ano anterior, com 10.689 km² de sua área afetada. Isso representa um aumento pelo terceiro ano consecutivo. A carta é assinada pelos cientistas Michel Chaves, Guilherme Mataveli, Erasmus zu Ermgassen, Rafaela  Aragão, Marcos Adami e Ieda Sanches.

Conversão

O destaque da carta é a ausência de prioridade à preservação do Cerrado nas discussões diplomáticas internacionais, ao mesmo tempo que parte do bioma se torna a zona de desenvolvimento agrícola do país. Os cientistas afirmam que o Cerrado é uma “zona de sacrifício” para o agro brasileiro.

Segundo os cientistas, quase três quartos da conversão do Cerrado para a agricultura ocorreu na fronteira agrícola do MATOPIBA. A região faz parte de um Plano de Desenvolvimento Agropecuário que reúne os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e está em expansão no país. No entanto, os cientistas apontam que esse aumento de desmatamento atual compromete o futuro do bioma e da produção agrícola no Cerrado. 

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“A perda do Cerrado contribuiu para eventos climáticos extremos na última década que aumentaram o fluxo de calor sensível à superfície, reduziram a evapotranspiração e o rendimento das culturas e ameaçaram a viabilidade de sistemas multicultivares, bem como exacerbaram a concentração de terras e a endividamento”, contaram.

Então, destacam os cientistas, metade do bioma já não possui mais sua vegetação natural, área convertida para o agro. Mas o que resta está também fragmentado ao longo do território, o que compromete a sua biodiversidade.

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