O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou no início de fevereiro que o desmatamento no Cerrado foi de 441,85 km² em janeiro de 2023. Assim, a área devastada do bioma foi mais que o dobro para o mesmo período na Amazônia, que registrou um desmate de  167 km².

O vice-coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig/UFG), Manuel Eduardo Ferreira, explicou que os dados do Inpe foram coletados pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), um programa de monitoramento de desmatamento com sinais diários captados por satélites. “É uma detecção de desmatamento feita em tempo real, ou seja, são detecções que são realizadas a cada três ou cinco dias usando satélites, mas de uma maneira bem rápida”, contou. 

Desta forma, o dado alarmante reflete atividades de um curto período. No entanto, não é o percentual de desmatamento consolidado para o ano todo, analisado pelo Instituto de 1° de agosto a 31 de julho. O professor disse que o Inpe utiliza duas formas de detectar os desmatamentos: pelos programas Deter e Prodes.

“O Deter é um sistema mais rápido que tem um papel fundamental de provocar uma reflexão, porque ele traz alertas. E ele traz um número, que não é o número utilizado oficialmente para computar a área de um ano do ciclo monitorado. Mas para trazer dados diários e alertar o Ibama ou os sistemas de fiscalizações estaduais e municipais quanto ao desmatamento. Ele traz para ONGs, universidades e pesquisadores um alerta para a mudança de direção rapidamente, para a fiscalização atuar enquanto o processo está em curso”, destacou Ferreira.

Desmatamento no Cerrado em 2022

Acesso ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, localizado em São José dos Campos (SP). (Foto: Eduardo Pegurier)

Diferente do Deter, que a cada semana faz um novo mapeamento do desmatamento, o Prodes é o sistema que o Inpe utiliza para contabilizar o desmatamento no ciclo de um ano inteiro. “E aí não há muito o que se fazer, apenas computar as perdas da vegetação”, pontuou o professor em relação aos dados desse programa.

Segundo dados do projeto Prodes Cerrado do Inpe, o desmatamento da vegetação nativa no bioma Cerrado em 2022 foi de 10.688,73 km² no período de agosto de 2021 a julho de 2022. Esse número representa um aumento de 25,29% em relação ao ciclo anterior.

Os números são semelhantes aos do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), um monitoramento realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) em parceria com o Lapig/UFG e a rede MapBiomas, que registrou um aumento de 20% da perda da vegetação do bioma em relação a 2021.

“O desmatamento no Cerrado é bastante preocupante no sentido que ele já ocorre há muitas décadas de forma muito intensa. Pois não é de hoje que pesquisadores que tratam de meio ambiente, dinâmica sócioespaciais em relação a ocupação da terra e temas como recursos hídricos, clima, se preocupam com esses números que são elevados e já estão elevados há muitos anos”, apontou Ferreira.

Dados alarmantes

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Segundo Manuel Eduardo Ferreira, a alta em relação a 2021 representa cerca de 11 mil km² desmatados, conforme dados divulgados pelo Inpe. “Estamos falando de cerca de 10, às vezes 12, 13 mil  km² por ano de desmatamento, que são dados que consolidam as observações e que nos trazem essa ideia de como foi o ano todo”, disse.

Ferreira fez uma paralelo entre os “dados alarmantes” do Cerrado e o “ânimo com a redução” para a Amazônia em janeiro. Em termos gerais, o professor da UFG explicou que o desmatamento no Cerrado está alta desde 2019 e que os dados para o bioma a partir de 2013 a cada ano refletem esse aumento.

“Esse aumento no Cerrado, quando a gente compara janeiro com dezembro, é praticamente um de 100% da taxa. Quer dizer que saímos de 220 km² em dezembro de 2022 e fomos para 441 km² em janeiro, é um aumento significativo”, disse.

Tendência de aumento

“Mas a gente pode falar que o Cerrado fechou 2021/2022 em alta e já esteve bem mais alto. Em 2013, 2014 e 2015, por exemplo, também foram anos mais  altos, e quando caiu chegou a 6 mil km², mas não baixou. Então o mínimo que a gente teve nesses últimos 10 anos foram 6 mil km² e agora volta a crescer com 10. 700 km²”, explicou.

Cerrado
Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

Em relação aos dados alarmantes captados pelo Deter em tempo real no dia 10 de fevereiro, o professor Manuel Eduardo Ferreira disse que são informações importantes para provocar um alerta que há a tendência de aumento no desmatamento no Cerrado.

“Essas informações  trazem alertas da tendência do aumento e devem refletir ainda em algumas políticas que tivemos nos últimos anos. Isso reflete também num reaquecimento da economia, na expansão de áreas agrícolas. Mas de toda forma são preocupantes porque a gente conhece os impactos que esse desmatamento causa.. E existem vários impactos”, afirmou.

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