Logo na primeira semana de janeiro, a pressa em saber o que eu iria ler nos próximos meses emitiu os seus primeiros sinais. Fiz então uma lista, seriam em torno de 15 livros até o mês de julho. Assim, a lista estava pronta. Isso é o bastante?

A quantidade é alta, se comparada à média nacional, mas baixa, se o parâmetro seguir os vídeos que piscam no feed em algumas das minhas redes sociais. 

Veja os “top 3 dos 8 livros que li nesse mês”, dizem alguns títulos. Às vezes, rolo a tela com um pouco mais de pressa, um jeito para o cérebro não ser tão impactado com a informação. Mas, ele é.

A plateia

Esse sentimento que tende a quantificar leituras é vivenciado por um grupo bem específico, é preciso deixar claro. Posso arriscar dizer que atinge com mais frequência um público mais jovem, mas não de forma exclusiva. Afinal, é arriscado pensar que apenas os representante das últimas gerações têm sido afetados pela lógica estabelecida pelo mundo conectado e apressado.

É claro que ao pensarmos em leitores diferentes, naturalmente podem existir ritmos de leituras distintos. Pode ser tranquilamente possível para alguém ler 8 livros ao mês, e com isso, chegar a média de 2400 páginas lidas.

Por outro lado, esse número pode parecer inegavelmente fora da realidade para outra pessoa que talvez, tenha apenas o tempo no transporte público para engatar leituras mais longas. E isso parecia tranquilo e satisfatório até que… essa mesma pessoa é fisgada pelo título “esses são os meus 60 livros lidos no ano”.

Não há problema algum na publicação e nem estou questionando a qualidade da leitura que foi realizada, mas, a questão principal para mim é o modo como a mensagem pode ser recebida por muitos. De repente, é possível ouvir o barulho do relógio. Passamos a ler para uma plateia.

O que é ler bem?

Ainda estou trabalhando na lista que citei lá no primeiro parágrafo. Nada contra listas, sou uma grande amiga delas e acredito que podem mesmo ajudar na formação de hábitos, não me entenda mal. Porém, alguns títulos mudaram de lugar, não me parecem mais tão urgentes, e outros surgiram para assumir o posto.

A leitura é a forma como escolho me relacionar com algumas partes do mundo, por isso, ela não deveria ser “contaminada” por um raciocínio puramente quantitativo. Da mesma forma, escolho não fazer uma relação direta entre “número total” e “selo de bom leitor”. Parece injusto, então escolho não dar força ao senso de pressa.

Ler mais ou ler melhor?

Ainda poderíamos acrescentar outros tantos fatores que se relacionam com esse contexto todo, e por isso, esse é justamente parte do tema central do episódio 2 do programa Literando para a Sagres TV (canal 26.1). 

Nesse episódio, não falo sozinha, o que torna a reflexão mais completa. Até o conceito de “autoestima intelectual” aparece em algum dos momentos. Nunca ouviu falar sobre? Já adianto que o termo pode ajudar a entendermos uma parte da origem da sensação de que é necessário provar algo a alguém, ou a nós mesmos.

No fim, espero que você se sinta a motivado a ler bem, já o “quanto”, não preciso saber.

Assista ao programa na íntegra:

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.

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