Gosto de pensar sobre o tempo das coisas. Mas, não nego que a nossa geração tende a limitar de um modo um tanto quanto exagerado a noção do “cedo” ou “tarde”. Uns podem dizer que é “cedo demais” ensinar um novo idioma para crianças, enquanto que outros, um pouco depois da casa dos 30, já pensam que o cérebro está cheio e incapaz de memorizar palavras de um universo distinto.

Hoje é meu aniversário e talvez, posso estar sendo influenciada pelo “espírito” da data, mas penso que perdemos muito quando estipulamos um “prazo” para sermos, ou nos tornarmos, algo diferente do que vemos sendo até então. Dito isso, repito a pergunta do título: quando podemos nos tornar leitores?

Pequenos começos

Gosto muito de uma frase de C.S Lewis, o autor dos livros “As Crônicas de Nárnia”, que diz: “Nenhum livro realmente vale a pena ler na idade de dez anos que não valha igualmente – e muitas vezes muito mais – na idade de cinquenta anos”.

Ou seja, um livro “feito para criança”, também precisa ser passível de ser apreciado por “gente grande”. Por quê? Pois antes de tudo, ele precisa ser uma boa história. E isso não está relacionado ao uso de palavras difíceis, metáforas mirabolantes ou a citação de palavras enigmáticas. A narrativa precisa ser envolvente.

Por isso, se você é, ou conhece alguém, que não possui o hábito da leitura, cogite começar com os livros “feitos para crianças”. Existem títulos excelentes no mercado e o movimento da Literatura pode começar a ser ativado na sua rotina por meio deles.

Leitor ideal?

Você gosta de filmes? De séries? Animes? Existe uma quantidade enorme de livros que foram a matéria-prima inicial para essas narrativas. Além disso, mesmo que seus filmes favoritos não tenham sido adaptados diretamente de livros, há com certeza histórias semelhantes e, por ser um ambiente conhecido por você, é provável que a leitura seja mais prazerosa. E, é isso que o livro precisa fazer nesse momento: gerar prazer. Não existe sentido em desejar ler um título apenas porque você viu em algum lugar que é o que os “leitores de verdade” estão lendo. 

Esqueça aquela imagem de leitores plenamente concentrados, a garoa da chuva aparecendo pela janela ao lado, e o chá bem posicionado em uma pequena mesa de centro ao lado da poltrona acolchoada. 

Claro, se essa é a sua visão de ambiente ideal, sinta-se à vontade. Mas, falando por experiência própria, eu não teria lido metade dos livros que já li na vida se não tivesse enfiado um deles na mochila durante as viagens diárias no transporte coletivo para ir à escola.

Não existe um modelo de leitor ou leitora. Existem leitores. Pessoas que não ganham essa carteirinha à medida que leem uma quantidade determinada de livros por mês ou por quantos sonetos de Camões conseguiram decorar. 

A Literatura nos encontra de formas diferentes, basta permitir-se achar.

O tempo

Comecei a coluna escrevendo sobre o tempo e para ser sincera, não imagino uma resposta melhor do que esta palavra:  hoje. Não teve contato com livros na infância? Nunca conviveu com ninguém que carregava livros “embaixo do braço”? Tudo bem, pelo o que você se sente interessado em saber mais agora?

Pode ser que a sua experiência não comece com literatura de ficção (ou seja, as histórias baseadas em fatos não reais), mas você pode gostar de biografias ou livros sobre a mente humana, por exemplo. 

Eu sempre vou incentivar pessoas a, mais cedo ou mais tarde, se permitirem conhecer os livros de ficção, mas não tenha pressa. Existe tempo para todo leitor. Não tenha medo de fazer perguntas, de não entender de primeira o que o autor está querendo dizer. Na verdade, tenho para mim que o bom leitor nunca deixa as perguntas de lado. Com o tempo, elas só vão ficando mais complexas, vamos pegando o jeito do “não saber” e fazemos perguntas mais elaboradas. 

No fim, a pergunta do título da coluna é uma das fáceis de responder. Preparados ou não, é sempre tempo para começar a ser leitor, porque sempre existe um livro que já foi impresso pronto a ser lido.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.

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