A notícia de que Ailton Krenak se tornou o primeiro indígena eleito como imortal para a Academia Brasileira de Letras (ABL), tradicional instituição ligada à língua e literatura nacional, foi publicada nos mais diferentes veículos na última semana. 

Na sessão inaugural da Academia, em 1897, Machado de Assis compôs o discurso. Passados quase 130 anos, a entidade passa a ter entre os seus nomes, a presença de um indígena. Krenak agora ocupa a cadeira de número 5. 

Assim, a chegada à Academia representa um passo importante para a representatividade que, embora tardia, é indispensável.

História

Na sexta-feira (05), aconteceu a cerimônia de posse na capital carioca, em um salão cheio, de imortais e, de modo ainda mais representativo, com outros nomes indígenas. Na introdução, a sequência de marcos da história de Krenak foi narrada durante o evento.

 Em 1979, por exemplo, fundou a União das Nações Indígenas. Além disso, é o autor de discursos que auxiliaram na aprovação de emendas constitucionais importantes para os povos originários.

Ademais, o escritor e líder ambientalista também está diretamente ligado à Aliança dos Povos da Floresta, um dos principais marcos pela reivindicação de demarcação em territórios e criação de reservas extrativistas na Amazônia.

Esses são apenas alguns exemplos que ajudam a explicar a pergunta que pode surgir nas mentes mais curiosas ou desconfiadas: Por quê Krenak? Cultura, educação e valorização de narrativas além daquelas que aparecem no centro. 

Sem dúvidas, ações que levaram a prêmios, reconhecimentos e feitos que dispensam apresentações. Um deles em 2020, o Prêmio Juca Pato, dado aos “intelectuais do ano”.

Entretanto, é certo que ainda hoje, há nomes que parecem demandar mais “justificativas” do que outros. Com sorte, a presença do escritor entre as cadeiras da tradicional ABL é um dos sinais de que caminhamos para uma realidade distinta.

Discurso

Na cerimônia da última semana, um texto escrito por Ailton foi lido em voz alta. Trata-se do posfácio escrito para uma edição do clássico de Carlos Drummond de Andrade, o “Sentimento do mundo”, em publicação recente.

“Só depois de chegar aos 20 anos é que fui ler a nossa literatura brasileira, e Drummond aparece nesse horizonte como ilha de reconhecimento, possibilidades de identificação com a maneira como o poeta estranha o mundo”, escreveu Ailton.

É motivo de esperança saber que há pessoas que conhecem de modo mais profundo a Literatura na “casa” dos 20 anos e ainda assim, chegam à principal instituição do campo em nível nacional. Sinal de que não há “tarde” para formação de leitores.

Depois do longo período de apresentações, chegou o momento de Ailton, ainda se acostumando com o título de “imortal” colado ao seu nome, realizar o pronunciamento autoral. 

“Você não encontra as complexidades que nos constitui em todos os lugares do mundo. Aliás, tem lugar que você entra que ou só tem gente branca, ou só tem gente preta (…) O Português se espalhou por essa terra como uma planta totalmente adaptada”, disse em certo momento do discurso.

Krenak recitou trechos do poema I-Juca-Pirama, escrito pelo poeta brasileiro Gonçalves Dias. Além disso, destacou a pluralidade da Língua Portuguesa, distribuída entre as quatro regiões brasileiras e em outros pontos do mundo.

“Eu não sou mais do que um, mas posso invocar 305 povos que nos últimos 30 anos do nosso país, passaram a ter a disposição de dizer: ‘Estou aqui’”, completou.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.

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