Acontece nas melhores famílias. Nenhum leitor está imune. A ressaca que vem depois de um “porre”? Não exatamente, mas a sensação pode ser parecida. Do que estou falando? Caso não conheça o termo, é simplesmente o nome que se dá para quando um leitor não consegue engatar nenhuma leitura. Trágico, mas comum.
O “fenômeno” é mais frequente do que se pensa, afinal, são vários os motivos que podem estar associados a ele, como por exemplo, o cansaço e a dificuldade para mantermos níveis mínimos de concentração. Encaramos o livro, na terceira tentativa de lê-lo, mas sem sucesso. Podemos resgatar aquele clichê: “o problema não é você, sou eu”.
A busca pela cura
Falando por experiência própria, penso que parte da cura é justamente não buscar a cura. Calma, já explico. Não se trata de aceitar a situação de forma resignada e deixar os livros de lado, mas saber que — levando em conta que você lê porque gosta — estamos enfrentando algo provisório. Assim, você não será “menos leitor” porque não leu o montante que está acostumado.
Acredito que um bom primeiro passo é refletir um pouco sobre o que vem à sua mente no momento em que pega o livro e não consegue se prender às páginas. Pode ser que seja apenas uma história que não está se encaixando ao seu momento atual e, sendo esse o caso, pode funcionar ler algo de outro gênero literário.
Por outro lado, quando percebo que depois de poucos parágrafos começo a pensar em outras coisas ou a sentir um certo desconforto físico, geralmente é porque o meu nível de concentração está mais baixo do que o normal.
O cérebro se desespera por algo rápido, luminoso e cheio de estímulos. Aqui, as redes sociais aparecem como uma solução perfeita. Porém, ao pegarmos o celular, estamos apenas enchendo as nossas mentes com mais distrações e informações.
Ou seja, vamos deixando as coisas ainda mais difíceis para o nosso “eu leitor”. Infelizmente, o que achamos que é descanso, é na verdade um modo de sobrecarga mental.
Busque pelo movimento
Você não imaginaria que em uma coluna literária, a autora te indicaria exercícios físicos, mas… é exatamente esse o meu ponto. Estamos a todo tempo em busca de estímulos e, em condições normais, o livro faz isso com aqueles que leem por prazer.
Entretanto, na ressaca literária, as condições não são as comuns. Nenhum livro parece bom o suficiente. Já vimos que o celular não é a fonte de estímulo mais útil nesse momento, então, que tal se colocar em movimento?
É possível combinar o tempo do exercício físico com outros estilos de narrativa, inclusive. Existem diversos podcasts que cumprem esse papel. Uma alternativa é dar play nas produções de ficção — algo que o mercado de áudio vem investindo nos últimos tempos, até mesmo atores como Selton Mello aparece em certos títulos.
Outro caminho é investir em episódios no formato de conversa. Os livros vão continuar lá, esperando pelo momento em que os encontre de novo, enquanto isso, existem diversos outros tipos de mídias prontas para serem consumidas.
Step by step
Ou na boa Língua Portuguesa, passo a passo. Depois de um tempo, você pode sentir que a ressaca literária está indo embora. Nesse momento, cuidado. Não tente ir “com muita sede ao copo”, tenha certeza de que os “enjoos” e azia estomacal deram adeus.
Que tal ler uma crônica? Ou contos, existem vários deles cheios de bons personagens, mas que podem ser lidos em menos de 60 minutos. A hora dos livros maiores irá retornar, mas quem está com pressa?
O prazer da leitura é mesmo um deleite quando sabemos apreciá-lo e não é exagero dizer que ele passa a ser um traço do que forma a nossa identidade.
No entanto, se somos leitores, isso não é roubado com facilidade. Encare a pausa com calma e depois, você irá se sentir mais do que pronto para doses frescas de novas histórias.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.