O imaginário simbólico dos povos indígenas no Brasil ainda constrói imagens ora estereotipadas, exóticas e românticas, ora violentas. Além disso, ignora que os conhecimentos e tradições dos povos originários podem contribuir para o desenvolvimento cultural e econômico brasileiro.

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“Essas imagens fortalecem preconceitos, incentivam a violência física e o desterro da população indígena no país. É justamente para contrapor essa construção histórica que este projeto se faz importante”, argumenta a artista visual e pesquisadora goiana Sophia Pinheiro.

Patrícia Ferreira Pará Yxapy (Foto: Sophia Pinheiro)

Sophia coordena o “Sentir, pensar e agir”. O projeto, que contempla canais no YouTube, e o lançamento de uma websérie, buscam mostrar, por meio do cinema, a importância da valorização dos povos originários no Brasil.

Protagonistas

Graciela Guarani, Patrícia Ferreira Pará Yxapy e Flor de María Alvarez Medrano são mulheres indígenas. Elas utilizam o cinema como expressão de suas culturas e fortalecem o movimento anticolonial na América Latina.  

Para colaborar nesta contraposição, Sophia Pinheiro busca evidenciar o discurso contido na produção audiovisual destas três mulheres indígenas. Elas, entretanto, são protagonistas do “Sentir, pensar e agir” e de sua tese de doutorado, pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Portanto, o projeto “Sentir, pensar e agir” busca fortalecer a tradição oral, os saberes e fazeres das manifestações identitárias na América Latina. A ação busca ainda ampliar a aproximação da sociedade não-indígena com uma narrativa mítica fora dos padrões convencionais da ciência, da história e dos livros. Ou seja, entre outros aspectos relevantes, promove o intercâmbio entre etnias indígenas. 

Graciela Guarani (Foto: Sophia Pinheiro)

Cineastas indígenas

Da etnia Guarani Kaiowá, Graci vive na aldeia Pankararu, em Pernambuco, e Patrícia que é Mbyá-Guarani, na aldeia Ko’enju, no Rio Grande do Sul. Flor Medrado, porém, é Maya e residente na cidade da Guatemala, na Guatemala. Com trabalho de campo realizado em 2021 e 2022, no entanto, a pesquisa foi realizada a partir da relação da artista com as suas parceiras de trabalho.

Portanto, as imagens não cumprem apenas a função da documentação da presença da pesquisadora in loco.

Contudo, se constituem na matéria de estudo em si, incitando questões como: o que deseja filmar a mulher indígena, o processo criativo delas, qual a importância disso para elas e o que esta produção audiovisual pode causar, combater, afirmar.

Espiritualidade

A espiritualidade, orienta a trajetória fílmica de Flor Medrado, com especial interesse no diálogo entre ancestralidade e contemporaneidade. Para Patrícia Pará Yxapy, a imagem é “flecha, é nossa arma, que aprendemos usar assim como o papel”. As questões sociopolíticas, porém, também ancoram as escolhas feitas por Graciela Guarani na hora de filmar.

Flor Medrado (Foto: Sophia Pinheiro)

“O cinema tem muito a contribuir com a educação. A possibilidade real de mexer as estruturas de um país de mentes ignorantes, levar luz a realidades, a imaginários que são difíceis de desconstruir. Mas não queremos ficar em lugares opressores, genocidas, que matam o diferente. [É preciso] abrir a consciência para além do branco e preto, começar a enxergar o colorido que se tem.”

Inclusão

Acessível para pessoas cegas e surdas, a websérie com três episódios é um convite a conhecer um pouco mais do perfil destas cineastas indígenas.

Além disso, a parceria com a Rádio Yandê e a distribuição estratégica de postais impressos, com fotos e desenhos, reforçam os caminhos de acesso a todo o projeto. O material inclui ainda artigos acadêmicos e a tese de doutorado que inspirou o trabalho apoiado pelo FAC-GO.

O projeto “Sentir, pensar e agir” conta com financiamento do Fundo de Arte e Cultura (FAC) de Goiás.

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