A previsão de seca para 2023 é de muita intensidade. A estiagem deve durar mais tempo e com temperaturas mais altas, resultando em consequências mais graves para o homem e para a natureza. Entre os motivos estão a irregularidade nas chuvas, redução na disponibilidade dos recursos hídricos, impermeabilização do solo, entre outros fatores. A saída vital e que pode amenizar eventuais impactos negativos é o uso consciente da água.

Ciência e Tecnologia

O Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) unidade ligada a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad) acompanha os ciclos de chuva e estiagem. As análises feitas pelo Cimehgo causam preocupação.

O Cimehgo faz um trabalho em conjunto com outros órgãos, por exemplo, a Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA). Os dados mostram que há a incidência de uma seca silenciosa, mas que causa grande perigo.

“Parece algo distante de Goiás, do Brasil, mas tem sido uma realidade, e em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento, e esse mapa mostra que na parte Centro Sul do Estado há uma incidência forte de uma seca, que classificamos em uma categoria mais grave, é uma seca relativa, silenciosa, que mostra que as chuvas estão reduzindo e as bacias estão ficando mais secas”, disse André Amorim, gerente do Cimehgo.

Sala de situação do Cimehgo. Foto: Samuel Straioto.

O período chuvoso, cujo término já se avizinha não foi tão bom quanto em anos anteriores. Ao ler esta frase, você pode estar se perguntando: “mas e esse tanto de chuva, inclusive tempestades que destruíram áreas, e até mesmo cidades?”

Bom, é aí que mora o problema, pois as chuvas têm vindo com força, irregularidade e a água não infiltra no solo. Na região metropolitana de Goiânia, o fenômeno resulta em uma “bacia nervosa”.

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Bacia Nervosa

A região de Goiânia é alimentada por uma série de corpos hídricos que compõem a bacia do Rio Meia Ponte. Quando chove a água sobe rapidamente, mas basta ficar alguns dias sem chuva, que o nível fica muito baixo, o que representa um sinal muito ruim.

“Se a chuva der uma parada, o nível começa a cair, como uma montanha-russa, sobe e desce, reagindo a chuva, ela não estabiliza, e aí que mora o perigo. Ela sobe e desce como podemos constatar e a situação é preocupante não só para a administração pública que tem mecanismos para minimizar a situação, mas precisa da união de todos para passar o período de estiagem. Pensar em crise hídrica é pensar no futuro, pensamos pensar com consciência”, disse Amorim.

Rio Meia Ponte na altura da antiga usina do Jaó, em Goiânia (Foto: Samuel Straioto)

El Niño e La Niña

Outra preocupação é quanto a incidência de fenômenos climáticos, como o El Niño e a La Niña. O primeiro é aquecimento das águas do Oceano Pacífico e o segundo se trata do resfriamento. Os fenômenos refletem nas temperaturas e também nos ciclos de chuva. O sul do país, por exemplo, sofre com intensa seca, o que prejudica na produção agrícola.

De acordo com André Amorim o fenômeno que predomina é o La Niña. Mas, a tendência para o próximo ciclo é do El Niño.

“A expectativa é que a seca seja um pouco mais prolongada, estamos com a iminência do El Niño, que traz temperaturas mais elevadas, consequentemente as pessoas vão consumir mais água, como está muito longe do evento, monitoraremos e trazendo as informações. Mas precisamos pensar de uma maneira diferente, fazer o uso racional dos recursos hídricos”, explicou.

Caixa d’água

Uma forma de amenizar efeitos da crise hídrica em grandes centros urbanos é a utilização de reservatórios. Goiânia, por exemplo, conta com a Barragem do Ribeirão João Leite, na região norte da cidade. O local é de responsabilidade da Saneago.

Essa grande “caixa d’água” é responsável por atender 70% da população de Goiânia, Aparecida, Trindade e Goianira, além de uma pequena parte de Senador Canedo (a cidade tem sistema próprio de abastecimento).

O coordenador do Sistema da Barragem do Ribeirão João Leite, Ivaltemir Carrijo, relatou que hoje a água do represamento é importante para dar segurança hídrica.

“Esta água aqui do reservatório atende 70% aproximadamente da população e o restante é atendido pelo Meia Ponte. No futuro, a gente tirará três vezes mais água que tiramos hoje, a gente vai atender, o Meia Ponte continua atendendo a área que atende hoje e o sistema do João Leite pode atender até 3 milhões de pessoas, e a projeção para esta população é para 2055, o que for além disso é preciso construir outro sistema de abastecimento”, disse.

Paredão da barragem do Ribeirão João Leite. Foto: Samuel Straioto.

Planejamento

Os projetos para construção da barragem começaram a ser pensados ainda na década de 1960. Há 13 anos o lago começou a ser enchido e hoje abastece grande parte da cidade.

Outro problema é que as chuvas têm sido irregulares, chove numa região, mas não em outra e além disso, a água vem com força e vai embora, não recarregando os rios e o solo.

O Sistema João Leite ainda não está completo, resta o término de ramais de distribuição de água. A previsão é de segurança hídrica até 2055. De toda forma, o importante é preservar e usar o recurso com consciência, para não faltar água no presente e no futuro.

A outorga, ou seja, a autorização para uso da água da barragem é de 6 mil litros por segundo. Atualmente são utilizados desde 2 mil litros por segundo.

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Recarga

Quanto ao enchimento da barragem, Ivaltemir Carrijo, explica que a recarga depende da alimentação de córregos e riachos tributários, um total de 18 na região. Ivaltemir relatou que a chuva na área de 14 km do espelho d’água ajuda, mas não é suficiente.

“A recarga funciona assim: muitas pessoas imaginam que se chover em cima do espelho, que é tudo isso, 14 km de reservatório, ajuda, pois diminui a evaporação, e é perda de água, hoje estamos num nível muito bom quase 100% e tivemos um período razoável de chuvas, e a água chega pelos tributários, que são os rios e riachos que chegam no reservatório, e se você tem muitas chuvas na região dos 18 tributários que nós temos, vai somando tudo isso e tendo mais água no reservatório”, destacou.

Lago da Barragem do Ribeirão João Leite. Vídeo: Samuel Straioto

Preservação Ambiental

Outra preocupação é quanto ao futuro da área da barragem. Mudanças no Plano Diretor de Goiânia podem influenciar de forma negativa na pressão imobiliário. Outra preocupação é quanto ao uso recreativo do lago. Ivaltemir ressalta que o uso do lago deve ser restrito ao abastecimento de água.

“As pessoas olham muitas vezes a questão da beleza do reservatório. Isso aqui precisa ser preservado, é a maior joia, seria um diamante para a população de Goiânia e áreas conurbadas. É uma água barata, ou seja, é a questão de gastar menos na estação de tratamento para potabilizar essa água, é uma água de excelente qualidade”, destacou.

Ribeirão João Leite após passagem pela barragem. Foto: Samuel Straioto.

Ivaltemir defende que o uso deve ser contemplativo, apenas para admirar a beleza do local, no sentido de preservar a qualidade da água para as gerações futuras.

“E para a gente manter isso, antes da potabilização, é imprescindível que você tome conta de tudo o que está em volta deste reservatório, e aí a população tem que ter essa consciência. Esse reservatório precisa ser preservado, só contemplativo, não ter outros usos, recreação, lazer, pesquisas somente com muito critério. O certo é preservar, e não ter outro uso que não seja contemplativo”, destacou.

Repense

Esta reportagem integra a segunda temporada da série Repense desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Renapsi e da  Fundação Pró CerradoAo longo de 48 episódios abordamos temas relativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da Organização das Nações Unidas ONU. Nesta reportagem a temática inclui os ODS: 06 – Água potável e saneamento, 11 – Cidades e comunidades sustentáveis, 12 – Consumo e produção sustentáveis e 13 Ação Contra a Mudança Global do Clima.

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