Quando você é julgado pela cor da sua pele, pelos traços que herdou dos seus pais e avós ou pelo seu cabelo? Quando isso acontece, é que você é vítima de racismo. Questões raciais acabam por excluir milhões de brasileiros por questões raciais. Parcela da população enfrenta uma dura realidade. A consciência negra é importante para combater o racismo. O combate a práticas racistas é a base para uma sociedade melhor e mais igualitária.

O racismo é uma maneira de preconceito e discriminação baseada na cor da pele. A estudante Isadora Alves dos Santos relata que para diminuir os casos de preconceito, primeiramente, é preciso que as pessoas entendam o que são e conheçam sua ancestralidade.

O processo de identificação da Isadora como uma mulher negra aconteceu já na fase adulta da vida. Ela estava na faculdade, aos 25 anos de idade, em uma disciplina do curso de Ciências Sociais que falava sobre raça, etnia, gênero e sexualidade.

“Nessa aula as pessoas contavam relatos do cotidiano e eu me identificava com muita coisa. Foi aí que eu comecei a pensar… Será que sou preta, preta mesmo”, lembra a jovem.

Segunda Isadora esses questionamentos chegavam porque era nítido que eu vivia situações de racismo na escola. A estudante conta que sabia que estava sofrendo racismo, mas não se entendia como uma mulher preta. 

“Era um sentimento estranho, porque eu escutava de amigas na infância, que queriam ter filhas bonitas, e não parecidas comigo, com a minha pele ou cabelo”, explica a jovem.  

A estudante Isadora Alves dos Santos conta que se reconheceu como mulher negra aos 25 anos (Foto: Palloma Rabêllo)

Falta de pertencimento 

Negros e indígenas ocupam em sua maioria, as posições operárias da sociedade e enfrentam mais dificuldades para alcançar posições de destaque. Os grupos indígenas e negros são também as principais vítimas da pobreza e da violência.

O racismo divide e separa as pessoas. Essa divisão pode gerar a falta de pertencimento, foi o que aconteceu com a mãe da Isadora que tem dificuldade de se aceitar como uma pessoa negra. O Brasil ainda é um país racista.

“Minha mãe só se vê como uma mulher preta quando o assunto é cultura pop, cantoras e artistas negros, mas só. Fora isso, ela não vê racismo quando alguém olha estranho ou trata de maneira diferente. Ela não consegue enxergar o racismo por não se identificar como negra”, pontua. 

O racismo tenta a imposição e o julgamento de características do preto, muitas classificadas como feias e estereotipadas. Com isso, a sociedade tende a ver os atributos do branco como belo e objeto de desejo, diferente do negro. Essa visão traz consigo obstáculos de aceitação.

Muitas barreiras de se sentir pertencente à cultura negra veio de casa. Isadora argumenta que a mãe tem dificuldade de se ver como uma mulher bonita por causa de seus traços, como cor da pele e cabelo.

“Meus avós não sabiam lidar com cabelo crespo e cortavam os cabelos da minha mãe por não saber cuidar. Com isso, minha mãe nunca aprendeu a cuidar do formato do nosso cabelo e optou por alisar, pela facilidade. Sempre que ela vê fotos dessa época se acha feia”, explica. 

Situações cotidianas 

Existem diferentes tipos de racismo pois, sendo um ato baseado na convicção de predominância, é cometido em diversas situações, como: institucional, estrutural, individual, internalizado, recreativo, cultural e comunitário. 

Para a advogada Sarah Fogaça da Silva as situações cotidianas são as que mais machucam, devido a sutileza que diz que aquele não é seu lugar.

A advogada Sarah Fogaça da Silva (Foto: Palloma Rabêllo)

“Eu namoro um homem preto e quando entramos em alguma loja é visível que existe um alerta entre os vendedores e não é para te dar atenção é para mapear o que você está fazendo”

A advogada percebe que nessas sutilezas interfere em comportamentos. Afinal, a sociedade enxerga de forma diferente e que o racismo é visto em todos os espaços. 

Diferente de Isadora, a Sarah sempre se percebeu como mulher preta. A advogada estudava em uma escola onde a maioria das crianças eram pretas, mas conforme as turmas foram avançando os alunos negros viraram minoria dentro da escola.

“Foi na adolescência que eu percebi que coisas que eram normais na minha casa não eram para as minhas amigas brancas. Minha mãe me ensinou a ter nota fiscal de tudo que eu comprar, mesmo que seja uma balinha, e sempre colocar na sacola. Já as minhas colegas não tinham essas preocupação”, ressalta Isadora.

Educação antirracista

Situações como essa acontecem todos os dias com milhões de brasileiros que são vítimas de racismo. O caminho para mudar essa dura realidade passa pela educação. 

A Lei nº 10.639/2003 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. (Foto: Palloma Rabêllo)

A Lei nº 10.639/2003 prevê a obrigatoriedade do Ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira nas escolas. Segundo a determinação, professores de Língua Portuguesa, História, Matemática, Educação Física entre outros componentes curriculares devem trabalhar em conjunto para uma educação antirracista.

A estudante, de 14 anos, Isadora de Souza pontua que combater o racismo é papel de todos nós. Um ato que precisa ser realizado todos os dias.

“É preciso compensar o passado e não deixar que mais casos assim aconteçam, porque essa história foi um momento muito triste para as pessoas. Essa luta precisa persistir. Até hoje existem muitos casos de racismo, mas no Brasil essas pessoas costumam disfarçar falando que é liberdade de expressão, quando não é. Infelizmente é puro preconceito”, explica.

O estudante do 8° ano do ensino fundamental, Gabriel Gomes, de 14 anos de idade, conta que é preciso ter mais empatia com o próximo e que não basta não praticar racismo, precisamos ser antirracistas.

“Isso é essencial para que as pessoas não precisem sentir dor, sofrer e se sentir diferente das outras”, pontua Gabriel.

Ensino na prática

Dados da ONG Todos Pela Educação revelam que o total de escolas públicas com projetos para combater racismo, machismo e homofobia caiu ao menor patamar em dez anos. Essa escola localizada no Setor Cândida de Morais tem um currículo próprio, baseado na educação antirracista.

Escola Municipal Coronel José Viana Alves onde existem os projetos sobre consciência negra. (Foto: Palloma Rabêllo)

De acordo com a professora de história da Escola Municipal Coronel José Viana Alves, Maria Isabel Cardoso, existem os projetos sobre essas temáticas e a lei garante essa necessidade de trabalhar a histórias dos povos afro-brasileiros e indígenas com os alunos.

“É muito importante a gente trabalhar esse conteúdo em sala de aula, justamente, para que a eles tenham uma educação mais diversa e antirracista. Precisamos desenvolver esse conteúdo dentro de sala de aula, pois a gente está preparando os cidadãos do futuro”, ressalta a professora.

Dá para perceber que os estudantes estão focados na aula. O momento é pensado para atrair a atenção dos adolescentes.  Um ponto importante, é que as aulas precisam ser trabalhadas ao longo do ano, não apenas em datas como o Dia da Consciência Negra. 

“Temos trabalhado sobre essas questões, principalmente, no conteúdo do 8° Ano, com apresentações, trazendo personalidades, fazendo jogos e dinâmicas de grupo de modo que esse conteúdo seja aprendido pelos alunos”, explica a professora.

O tema integra o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), ODS 4 – Educação de Qualidade e 10- Redução das Desigualdades.

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