O hip hop é um movimento cultural que se tornou um estilo de vida, ajudando e acolhendo os jovens da periferia que muitas vezes se sentem desamparados pela sociedade. A cultura é um “grito” por igualdade que surge nas ruas das periferias e segue ocupando cada vez mais espaços. O hip hop mostra que o jovem de baixa renda também quer, e precisa ser ouvido.

Um desses jovens é um dos organizadores da Batalha da Lagoa, o Mc Javier Faustino. Conhecido como Jav, ele começou na cena do hip-hop aos 13 anos e se tornou um dos organizadores de Batalha.

“A cultura deu uma direção para minha vida. Hoje em dia eu estudo sobre hip hop, prático e quero mostrar para Goiânia como isso funciona. A verdade é que o hip hop tem o poder de salvar vidas”, conta o jovem.

Assim como o Jav, outro dos organizadores da Batalha, o  Ryan  Felipe de Almeida, começou a rimar ainda na infância. O rap trouxe benefícios para o jovem, como se sentir acolhido por outras pessoas da sua comunidade.

“Isso é muito positivo para a gente, nós recorremos ao hip hop como uma forma de desabafo. O rap traz isso para gente, um lugar de fala e escuta”, afirma Ryan.

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Início do movimento 

E não pense que a cultura  hip-hop é coisa dos jovens dessa geração, o  movimento surgiu em 1970 nos Estados Unidos, no Bronx, em Nova York. A letra é uma conversa intercultural de jovens marginalizados. No Brasil, o hip-hop chegou em 1980, em São Paulo, e depois foi espalhado pelos outros estados.

O rapper Smith Odelic lembra que o preconceito com o estilo de vida do hip hop era muito forte nos anos 80. Com isso, muitos membros desistiram do movimento.

“Foi uma luta para crescer a cultura hip hop em Goiânia. As pessoas não aceitavam que esse movimento é um estilo cultural”, lembra o rapper.

Batalha de Rap organizada pelos jovens no Parque Industrial João Braz (Foto: Palloma Rabêllo)

Hoje em dia, é possível encontrar jovens reunidos fazendo rimas pelas ruas e parques  de Goiânia. A Batalha da Lagoa surgiu em 2018 e é um local de descontração e alegria.

Porém a música também é uma forma do jovem de periferia expressar suas frustrações relacionadas ao governo e sociedade e a experiência urbana marginalizada.

Em 1990 a cultura hip hop saiu de dentro das boates e se espalhou pelas ruas, parques e praças.

“O movimento surgiu como uma forma de protesto e no início a gente só conversava entre a gente. Hoje, o movimento está furando a bolha e indo da periferia para o mundo. É um espaço onde as pessoas se permitem errar. São jovens em formação, usando a cultura como uma forma de expressão”, explica Jav.

Fonte de renda e sustento 

Entre os diversos elementos da cultura hip hop está o grafite, um tipo de arte produzida em locais públicos e caracterizada pela produção de desenhos em paredes, ruas e edifícios. Os grafiteiros têm um grande amor pela arte, por exemplo, o Edson Neto, conhecido como Gob, está na profissão há 7 anos e garante que o movimento transformou sua vida.

“Isso aqui é para adulto, criança, idoso é uma forma de inclusão social para todos. A gente vem de longe para fazer arte na rua e isso ajuda a encontrar uma oportunidade de trabalho e lazer”, diz Gob.

As cores e traços vão dando forma aos desenhos que dão vida à cidade. O grafite começou como passatempo, mas hoje virou profissão e fonte de sustento do jovem.

“Por meio do grafite eu ganho minha vida, ele abriu as portas de um mercado de trabalho diferente e que eu me encaixo. Hoje, eu também sou tatuador, faço trabalhos comerciais com arte nas paredes, isso tudo veio através da cultura hip hop”, explicou o jovem.

Esperança 

Fim de tarde no Parque da Lagoa (Foto: Palloma Rabêllo)

Enquanto o sol se põe, às ruas em torno do parque da Lagoa são tomadas pelo som. As rimas fala sobre esperança de dias melhores. Thiago Felix de Oliveira, é conhecido no meio como Mc Neguim, ele conta que escolheu o hip hop como forma de expressão. 

“O hip hop é a esperança da periferia! A gente tenta lutar por um país melhor e mostrar que a gente também pode estar nos lugares que as pessoas de outras classes sociais estão. Essa cultura me mostrou que eu posso ser eu, falar do que eu gosto e que eu não preciso me calar sempre”, finaliza o Mc.

O tema é alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 10 – Redução das Desigualdades.

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