Após 13 dias de discussões, a Conferência das Nações Unidas Contras as Mudanças Climáticas (COP 28) terminou com um acordo histórico: afastar os países dos combustíveis fósseis. Representantes de 195 países concordaram em reduzir o consumo global desse tipo de combustível para evitar o pior da mudança climática. O texto final da conferência teve sua divulgação na madrugada desta quarta-feira (13).
Apesar da decisão, que na prática representaria a grande cartada mundial para evitar uma catástrofe climática, o acordo não menciona, como já se previa, a eliminação dos combustíveis fósseis. Isso porque os países reconhecem a necessidade de redução da queima de carvão e petróleo, por exemplo, porém não deixam claro como farão isso.
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O documento final da COP evitou a utilização da palavra “eliminar”, contestada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e pela Arábia Saudita. O termo foi substituído por “transição”, ou seja, deixa aberta a possibilidade de continuidade no uso de combustíveis fósseis.
Repercussão
Nesse sentido, o acordo não agradou a ambientalistas e defensores da justiça climática. A Aliança dos Pequenos Estados Insulares (Aosis). Trata-se de uma coligação de países insulares e de pequena costa como Bahamas, Cuba, Guiné-Bissau e Guiana, que manifestou que o texto ficou aquém do necessário.
“Vemos uma série de lacunas nesse texto que são grande preocupação para nós. Vemos referências à ciência ao longo do texto, mas depois deixamos de fazer um acordo para tomar as medidas relevantes, a fim de agir de acordo com o que a ciência diz”, afirma a Aosis. “Sentimos que o texto não proporciona o equilíbrio necessário para reforçar a ação global para a correção do rumo das alterações climáticas”, acrescenta.
“Demos um passo, mas o que realmente precisávamos era de uma mudança exponencial”, disse Anne Rasmussen, representante das ilhas Samoa, presidente da Aosis.
Já o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, celebrou o acordo. “Pela primeira vez, há um reconhecimento da necessidade de abandonar os combustíveis fósseis – depois de muitos anos em que a discussão dessa questão esteve bloqueada”, publicou na rede social X, antigo Twitter.
Guterres também mencionou que, segundo a ciência, será possível chegar à redução de emissões proposta no Acordo de Paris, de 2015. “A ciência diz-nos que é impossível limitar o aquecimento global a 1,5 graus sem eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis dentro de um prazo compatível com esse limite. O fato foi reconhecido por uma coligação crescente e diversificada de países”, observou Guterres. A era dos combustíveis fósseis deve terminar – e deve terminar com justiça e equidade”, complementou.
Science tells us that limiting global heating to 1.5°C will be impossible without the phase out of fossil fuels.
— António Guterres (@antonioguterres) December 13, 2023
This was also recognized by a growing & diverse coalition of countries at #COP28.
The era of fossil fuels must end – and it must end with justice & equity. pic.twitter.com/4BJThdZNLs
Por fim, Guterres disse que “a eliminação dos combustíveis fósseis é inevitável” e espera, contudo, que o fim desse uso não “não chegue tarde demais”.
O Brasil, por sua vez, pediu aos países desenvolvidos que liderem a transição energética. Além disso, exigiu que esses líderes globais forneçam “os meios necessários” às nações em desenvolvimento. “É fundamental que os países desenvolvidos assumam a liderança na transição para o fim dos combustíveis fósseis”, disse Marina Silva, ministra do Meio Ambiente.
Paz global
Em entrevista à Sagres, todavia, o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (IBPA), Calos Bocuhy, disse que a transição energética, isto é, uma improvável eliminação dos combustíveis fósseis, só será possível com um elemento essencial: a paz mundial.
“Essa possibilidade de mudar a matriz [energética] do planeta demanda primeiro um estado de paz global. Por outro lado, temos que abrir mão de um sistema econômico que se instalou no mundo que se instalou no mundo desde o século 18. Então nós precisamos transformar a economia, é um desafio muito grande”, conclui Bocuhy.
Assista a seguir
*Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 13 – Ação Global Contra as Mudanças Climáticas
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