Terminou na última semana a 29ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 29), realizada em Baku, Azerbaijão. O resultado da conferência mostrou que a comunidade internacional tem limitações para coordenar as negociações de um financiamento, segundo a opinião do especialista em ciência política e professor do Centro Universitário Internacional Uninter, André Frota.

“O que prevaleceu foi uma lógica orientada pelos interesses nacionais, com os Estados priorizando a manutenção de suas posições relativas de poder. Apesar de avanços como o compromisso de US$ 300 bilhões anuais em financiamento climático e a criação de um mercado global de carbono, esses resultados foram estruturados de forma a minimizar custos e proteger a autonomia dos países desenvolvidos”, argumentou.

A maior expectativa da COP 29 era um acordo para financiamento climático de US$ 1,3 trilhão anuais, mas terminou com a meta de US$ 300 bilhões anuais. O acordo gerou muita insatisfação em líderes de países em desenvolvimento. Além disso, recebeu críticas de  entidades ambientalistas por ser insuficiente para dar as respostas que o mundo precisa no enfrentamento à crise do clima.

COP 29

A insatisfação é um legado para a pauta ambiental no próximo ano. Desta forma, o financiamento climático continuará como uma meta importante para ser atingida, principalmente pelos países em desenvolvimento. 

“A insatisfação com o financiamento climático sugere uma tendência de tensão crescente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Para os primeiros, os custos adicionais podem ser vistos como um ônus que enfraquece sua capacidade de competir globalmente. Para os segundos, a ausência de um financiamento mais ambicioso dificulta o cumprimento de compromissos climáticos, agravando as assimetrias globais”, explicou o professor.

Protestos de ambientalistas na COP 29 (Foto: Divulgação/COP 29)
Protestos de ambientalistas na COP 29 (Foto: Divulgação/COP 29)

André Frota acredita que a pauta ambiental irá avançar gradualmente, apesar da tensão. Mas, na visão do especialista, os países ricos provavelmente vão buscar vincular suas contribuições financeiras a mecanismos que aumentem sua influência e assegurem retorno político ou econômico. 

“Para os países em desenvolvimento, a estratégia provável será insistir na ideia de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, pressionando por maior comprometimento dos Estados mais poderosos enquanto demonstram suas vulnerabilidades climáticas como alavancas de negociação”, disse.

Legado da COP 29

De forma geral, o resultado da COP 29 deixou decepções pelo mundo. Nome importante nas discussões climáticas, a sueca Greta Thunberg  teceu críticas ao texto, aos países do Norte Global e ao país-sede da COP, o Azerbaijão. “Não deverá ser surpresa que mais uma COP esteja a falhar. O projeto atual é um desastre completo”, afirmou.

Ao se pronunciar, a ativista destacou que o texto possui “falsas soluções e promessas vazias”. Com a insatisfação com os líderes globais e os negociadores, Thunberg convocou a sociedade civil para lutar por ações que mudem a situação do clima.

“A cada negociação, a cada discurso proferido por um líder mundial e a cada acordo que assinam, torna-se claro que cabe a nós, enquanto coletivo global, tomar as medidas de que tanto necessitamos e mostrar onde verdadeiramente reside a liderança. Eles não vão fazer isso por nós, como prova mais uma vez esta COP 29”.

A opinião do professor sobre o resultado é próxima em relação a ação coletiva. Porém, ele acredita que a COP ainda trará avanços, mesmo que em pequenas doses. 

“A tendência é que a COP continue sendo um espaço de coordenação incremental, onde o progresso dependerá da disposição dos Estados de internalizar benefícios de longo prazo que, no curto prazo, ainda são percebidos como incertos.  O legado da COP 29 é, portanto, menos sobre transformação e mais sobre a reafirmação de que a estrutura do sistema internacional limita a ação coletiva, mas também a torna possível em pequenas doses”, disse.

Combustíveis fósseis (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Combustíveis fósseis (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Transição para a COP 30

Uma das preocupações da COP 29 para o futuro das discussões climáticas é o possível recuo dos países árabes em relação à eliminação gradual do uso dos combustíveis fósseis. Em uma das sessões, o saudita Albara Tawfiq, líder do grupo, afirmou que eles não aceitariam nenhum texto que apontasse contra as energias fósseis.

André Frota afirmou que a declaração é fruto da dependência econômica desses países aos recursos. Portanto, uma transição rápida seria prejudicial à segurança econômica que eles possuem hoje. O recuo afeta no curto prazo o cumprimento das metas do Acordo de Paris e deixa a transição mais lenta. Mas o professor acredita que pode ter um resultado diferente a longo prazo.

Belém é a sede da COP 30 (Foto: Agência Pará)
Belém é a sede da COP 30 (Foto: Agência Pará)

“A longo prazo, há uma probabilidade de que pressões econômicas, avanços tecnológicos e incentivos financeiros levem esses países a uma maior cooperação, especialmente se alternativas como captura e armazenamento de carbono forem incorporadas ao processo”, disse.

Sendo assim, a posição não deve ser uma questão para a COP 30. A conferência ocorrerá em Belém, no estado do Pará, entre 10 e 21 de novembro de 2025. Segundo Frota, o cenário para a COP 30 tem “expectativas moderadas”.

“Com os países mais ricos mantendo a estratégias de comprometimento gradual, oferecendo concessões mínimas que preservem sua posição no sistema internacional. Ao mesmo tempo, países em desenvolvimento, como o Brasil, deverão intensificar suas demandas por financiamento e apoio técnico, buscando maximizar os recursos que podem obter”, observou.

A COP da Amazônia

A edição da COP na Amazônia é um pedido do Brasil à Organização das Nações Unidas (ONU), para que o mundo conheça de perto o lugar que está sempre nas principais discussões climáticas do planeta. No entanto, o professor afirmou que o sucesso da iniciativa dependerá dos países ricos perceberam os benefícios estratégicos de avançar mais concretamente na pauta, sem comprometer a própria segurança econômica.

“As discussões em Belém provavelmente focarão na operacionalização do financiamento climático e na implementação de mecanismos mais transparentes, como o mercado de carbono”, opinou.

A atenção para as florestas tropicais vai aumentar. Mas a soberania e segurança econômica de cada país ainda deve ser a prioridade para eles se colocarem no debate do financiamento. Frota pontuou que o Brasil também tem a tendência de alcançar equilíbrio entre agenda ambiental e crescimento econômico. 

Como resultado geral, ele aponta o que esperar da conferência no Brasil. “A tendência é de que a COP 30 avance em questões simbólicas e normativas, mas com resultados materiais mais lentos, alinhados ao ritmo do cálculo racional dos países desenvolvidos”, destacou.

Dia da Amazônia (Foto: Leonardo Milano/ICMBio)
Dia da Amazônia (Foto: Leonardo Milano/ICMBio)

Interesses do Brasil

Em relação ao Brasil, André Frota acredita que a COP 30 é mais uma oportunidade para o país reforçar sua posição na comunidade internacional, enquanto tenta alcançar seus objetivos nacionais.

“Há uma tendência de que o país priorize demandas financeiras para preservação ambiental, enquanto utiliza o simbolismo da Amazônia como recurso estratégico global para atrair aliados e pressionar os países mais ricos”, afirmou.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.

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