A pandemia do coronavírus afetou diversas áreas da sociedade. Apesar de ser uma crise global ligada a saúde, o vírus afetou o setor econômico e a forma como as pessoas estavam acostumadas a viver, trabalhar e estudar. A frase “o novo normal” foi citada por diversas vezes, enquanto o uso de máscaras e álcool em gel começou a fazer parte do nosso cotidiano.

Essa é a terceira reportagem especial sobre um ano da pandemia da Covid-19 produzida pelo Sistema Sagres. Confira também:

No dia 15 de março de 2020, a Secretaria Estadual de Saúde emitiu uma nota técnica suspendendo as aulas em todos os níveis educacionais, públicos e privados, para evitar a disseminação do coronavírus. A recomendação era que as instituições de ensino realizassem uma paralisação das atividades a partir do dia 16, com tolerância máxima para o dia 18 de março.

Inicialmente, a intenção era que as aulas ficassem suspensas por apenas 15 dias. As atividades continuariam apenas para estudantes universitários dos cursos de saúde.

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Essa primeira ação tomada pela secretaria causou impacto nos estudantes, mostrando que era real e que o vírus tinha chegado ao Estado. Um sentimento de incerteza começou a se instaurar e o “e se?” virou pergunta frequente para as pessoas.

Este foi o caso da, agora jornalista, Ingrid Raquel, que no início da pandemia estava cursando o último período da universidade. “Foi um período bem conturbado, eu tive muitas incertezas, não sabia se ia conseguir me formar e terminar tudo. Ainda hoje eu não tenho certeza do dia de amanhã, se tudo vai fechar novamente ou não”, contou.

O professor e coordenador Pedagógico do ensino médio do Colégio Estadual Jardim Tiradentes, Thierry Augusto Ferreira, lembrou que recebeu a notícia da nota técnica informando a paralisação das aulas com surpresa.

“Inicialmente, nós nos assustamos com a notícia que deveríamos fechar a unidade escolar por 15 dias, mas não imaginávamos que esse prazo se prolongaria tanto”, lembrou o professor.

O coordenador Pedagógico pontuou também as principais inseguranças dos professores com o início das aulas virtuais. “Era difícil porque ficávamos sempre nos questionando, será que esse aluno vai realmente aprender? Será que as disciplinas que estão sendo passadas de maneira remota vão funcionar e eles vão conseguir absorver o conteúdo?”.

Thierry ainda classificou o período de adaptação para o novo método de aulas como complexa. “Nós sabemos que existem professores que não têm conhecimento em tecnologia. Foi difícil porque nós também estávamos longe uns dos outros, então toda essa capacitação foi feita remotamente”, informou o coordenador.

Na noite de 17 de março, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, assinou o decreto determinando a suspensão de atividades no comércio, como shoppings, bares, cinemas, entre outros. Na época, segundo Caiado, a medida era extremamente restritiva, mas contribuiria para diminuir a movimentação da população em tempos de pandemia.

A especialista em direito Trabalhista Juliana Mendonça lembrou qual foi a reação do trabalhador com a chegada deste decreto.

“Foi uma mudança brusca, iniciar o teletrabalho já estava prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), desde 2017, porém as empresas estavam fazendo de forma muito tímida e para casos muito específicos. Com a pandemia e o fechamento das empresas foi um susto, pois os trabalhadores tiveram que, do dia para a noite, iniciar os trabalhos de forma remota em suas residências, sem nenhuma preparação”, lembrou a especialista.

A pandemia trouxe também graves consequências para a economia brasileira e consequentemente para as relações de trabalho, isso gerou adaptações nas leis trabalhistas. “Foram medidas provisórias que vieram para facilitar as férias dos trabalhadores, suspensão do contrato de trabalho até o final do ano e redução na jornada de trabalho. Mas mudanças fixas na CLT, em decorrência da pandemia, não aconteceram”, explicou Juliana Mendonça.

A especialista em carreira e bem-estar financeiro, Rebeca Toyama, afirmou que a principal dificuldade dos trabalhadores em relação à pandemia foi a adaptação no novo cenário.

“As pessoas estavam acostumadas com outra rotina, estando em escritórios e com deslocamento e, de forma repentina, foram colocadas dentro de casa. Mas junto com o nosso trabalho, a rotina familiar também foi transformada. Ainda existem crianças fora da escola, fora todo esse desgaste por causa da pandemia. Foi um cenário, não especificamente, de home office, mas onde a rotina de trabalho passou a acontecer no mesmo espaço físico da vida familiar. E junto com tudo isso vieram demandas tecnológicas que não faziam parte dessa rotina” explicou.

Rebeca Toyama ainda pontuou quais são as principais dicas para ter um bom desempenho no home office.

“A primeira coisa que devemos fazer é não acreditar que tudo vai voltar a ser como era antes, nós não sabemos com vai ficar essa situação do trabalho, mas é certeza que não vai voltar a ser como era. Uma segunda dica é ter disciplina, pois como não temos mais o espaço que nos diferencia da rotina pessoal e profissional, é necessário ter uma relação melhor com o tempo”.

Segundo Rebeca, essa disciplina vai demandar alguns indicadores e algumas regras tanto com a equipe de trabalho, quanto com os moradores da família. A especialista ressalta também a importância de se aliar a tecnologia. “É importante também buscar o máximo de recursos tecnológicos, não podemos ignorar o apoio da tecnologia para melhorar a qualidade, agilidade e o nosso bem-estar”.

Em meio à pandemia vem se evidenciando o crescimento do empreendedorismo, mas segundo a especialista em carreira e bem-estar, esse movimento começou bem antes desse novo normal.

“Antes da pandemia nós tínhamos algo em torno de 60% de pessoas com carteira de trabalho assinada. Esse fenômeno da extinção do trabalhador assalariado não é somente uma consequência da pandemia e nós já vínhamos observando isso. Empreender é uma tendência e existem formas de aprender a fazer isso, de entender o que a sociedade precisa e colaborar com essa necessidade a partir de um negócio”, concluiu.

A criatividade para manter a renda também se destacou neste momento. É o caso da Emanuella Moda Íntima, que se reinventou durante a pandemia. O sócio-administrador, Jhonatan Pereira de Paula revelou que ao receber a notícia do Lockdown, já começou a pensar em como continuaria trabalhando.

“No primeiro momento ficamos muito apreensivos, porque nossas despesas são muito altas com funcionários e galerias. Então tivemos que pensar em uma outra forma de trabalhar e empreender mesmo em meio a tantas incertezas”, disse.

Antes da pandemia o empreendedor tinha 2 lojas na 44, em Goiânia, e uma em Brasília. Após o aplicativo da loja ficar pronto, o empresário fechou as portas das três unidades físicas e manteve as vendas exclusivamente pelo app.

“Nosso aplicativo Emanuella Moda Íntima ficou pronto em 2020, bem no começo da pandemia e como a 44 fechou em um decreto do governador, nossas vendas ficaram exclusivamente online. Mesmo assim continuamos vendendo e trabalhando de forma remota, realizando entregas nas residências” contou o empresário.

O sócio-administrador da loja ainda ressaltou que depois da pandemia as vendas aumentaram. “Nossas vendas dobraram e conseguimos um maior lucro pelo aplicativo do que nas lojas físicas. Foi uma forma de reeducar o cliente a comprar mais”.

Acompanhe amanhã a quarta e última entrevista da série Um Ano Covid. O repórter Rafael Bessa vai abordar como a pandemia afetou a área cultural, eventos presenciais e jogos de futebol.

Palloma Rabêllo é estagiária do Sistema Sagres de Comunicação, em parceria com o Iphac e a PUC, sob supervisão do jornalista Denys de Freitas.