A evolução da Covid-19 em Goiás fez com que o Governo Estadual e as prefeituras se movimentassem e adotassem medidas mais restritivas para diminuir a circulação do vírus. Os decretos mais rígidos entraram em vigor no dia 1º de março e após 17 dias, algumas pessoas começam a questionar a efetividade das ações. O Professor Titular do Departamento de Ecologia & Evolução do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás, José Felizola, explicou, em entrevista à Sagres 730, que a doença tem uma evolução lenta e que, por isso, é necessário esperar para realmente ver os resultados.

Ouça a entrevista completa:

“A progressão da doença é muito lenta, então veja, a gente entrou nesse isolamento em 1º de março, mas a pessoa que se infectou dia 28 [de fevereiro], ela está indo para o hospital agora. Porque a pessoa que se infectou, ela vai demorar de 4 a 6 dias para começar a perceber os sintomas, esses sintomas vão começar a se agravar e aí ela vai procurar um hospital, nisso a gente está falando de 10, 15 dias. Se ela começar a piorar, infelizmente, ela vai para a UTI e depois ela vai a óbito. Então a gente está falando de 20, 25 dias, 1 mês ou mais, isso em média, entre uma pessoa ser contaminada e ir a óbito”.

Outro componente que explica a demora para que possamos notar uma diminuição no número de mortes é que os sistemas de informações sobre a Covid-19 operam com atraso. Alguns óbitos chegam a demorar 10 dias para serem registrados. O professor detalhou que com a lentidão da doença e o atraso dos registros, só em raras exceções, os resultados poderão ser vistos com mais velocidade.

Ele ainda contou que pela facilidade de contaminação da doença, para que haja resultados é preciso que as pessoas aceitem as medidas restritivas, que todos cooperem. “Então não adianta só o prefeito fazer um decreto, a gente precisa que as pessoas entendam o que está acontecendo e vão fazer a sua parte também.”

Pior momento da pandemia

O estágio atual da pandemia é uma combinação de vários fatores, como o abandono do isolamento social, que teve início durante as eleições e continuou nas festas de final de ano e com o carnaval. Além disso, o surgimento de novas cepas, que estudos apontam como mais transmissíveis, levou Goiás ao pior momento da pandemia até o momento.

Nas últimas 24 horas, Goiás registrou 220 mortes causadas pela Covid-19, com mais mais 3.637 novos casos. A última semana foi a mais mortal desde o início da pandemia com 609 óbitos registrados entre os dias 7 e 13 de março. No total, são 440.870 casos e 9.807 mortes. Felizola relatou que não é possível saber se chegamos, novamente, ao pico da doença e que isso depende de qual cepa está circulando com mais incidência em Goiás.

“O que a gente deve resolver nos próximos dias é a prevalência dessa P1 [Cepa de Manaus], quer dizer, qual que é a frequência da P1 aqui em Goiás. A P1 é a variedade dominante ou ela não é dominante? Porque se ela já é dominante, significa que a gente está em uma situação que as coisas estão crescendo muito, mas é onde ela vai chegar e já é suficientemente ruim. Agora, se a frequência for pequena, significa que o problema pode aumentar mais ainda”, alertou.

O professor esclareceu que as mutações dos vírus são comuns e se trata de um processo natural de qualquer organismo vivo. Mesmo que não seja de maneira consciente, o vírus evoluí para melhorar a sua eficácia. Dentre as principais variantes, estão a cepa que foi identificada no Reino Unido, que é mais transmissível, a cepa da África do Sul, que possui maneiras de driblar o sistema imunológico e a de Manaus. “A variante de Manaus, por exemplo, ela tem as duas mutações, ela é mais transmissível e é capaz de reinfectar com mais frequência pessoas que já tiveram Covid”.

Porém, o especialista ainda explicou que não é possível saber se elas são mais letais, pois o recorte ainda é pequeno e o aumento no número de mortes e internações pode ser em função da maior transmissibilidade.

Isolamento social, rastreamento de contatos e vacina

Por ser um vírus respiratório, que se transmite com facilidade pelo ar, com a interação entre as pessoas, o especialista contou que, neste caso, para impedir a transmissão é necessário diminuir o contato entre os indivíduos. É com base nisso que a ciência se apoia para sugerir as medidas de isolamento e distanciamento social.

Sobre o novo decreto de Ronaldo Caiado, que repete o modelo adotado em 2020, com 14 por 14, Felizola detalhou que é necessário juntamente com as medidas de isolamento, a realização em massa de exames, identificação dos infectados e rastreamento dos contatos. Assim, as chances dos resultados, com o fechamento e a abertura dos estabelecimentos são maiores.

Agora, para resolver o problema de forma mais definitiva, só a vacina. “Temos que lembrar que vacina não é só uma coisa do indivíduo. Não importa muito se eu estou protegido, importa se todo mundo está protegido. Porque se eu tenho uma vacina com 60, 70% de eficiência, isso significa que eu tenho uma chance de ficar doente. Agora, se todo mundo toma a vacina, o vírus desaparece, é assim que funciona”.