Junior Kamenach
Junior Kamenach
Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Criado o primeiro comprimido contra a depressão pós-parto

Foi desenvolvido o primeiro comprimido destinado ao tratamento da depressão pós-parto, conhecido como Zuranolona. Anteriormente disponível somente em sua forma injetável nos Estados Unidos, esse medicamento enfrentava barreiras de acessibilidade devido ao seu elevado custo. Além disso, evidências provenientes de estudos clínicos do produto revelam que ele exerce ação mais rápida na mitigação dos sintomas depressivos, comparado a outros antidepressivos. No entanto, ainda não há um cronograma estabelecido para sua introdução no mercado brasileiro.

A depressão pós-parto afeta cerca de 10% a 15% das mulheres e é uma condição que pode persistir até um mês após o parto. De acordo com o Dr. Joel Rennó Júnior, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e líder do programa Saúde Mental da Mulher no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HCFMUSP), diversos fatores de risco contribuem para o desenvolvimento desse tipo de depressão. “60% dos quadros de depressão pós-parto são oriundos de depressão não diagnosticada ou abandono de tratamento já durante o período da gravidez”, explica em entrevista ao Jornal da USP.

Nesse sentido, o professor também esclarece que há distintas categorias de depressão pós-parto. A variante mais prevalente, conhecida como “baby blues”, afeta aproximadamente 70% das mulheres, embora geralmente se manifeste em uma forma mais suave. “O blues é um quadro autolimitado e que dura em média cerca de dez a 14 dias e cessa espontaneamente apenas com algumas medidas de suporte a essa mulher”, diferencia.

Contudo, determinados casos de quadros de blues podem desenvolver-se em direção a uma forma mais severa e duradoura de depressão pós-parto. “A depressão pós-parto preenche critérios do que nós chamamos de depressão maior, que tem dois sintomas cardinais: humor deprimido e também a anedonia, que seria a perda de prazer ou interesse por atividades habituais acompanhada de outros sintomas, como alterações do padrão de sono, apetite, pensamentos de conteúdo negativo, alterações de atenção, concentração, memória, energia, disposição, uma série de sintomas que persistem por pelo menos duas semanas”, afirma Rennó.

O remédio

Rennó elucidou que atualmente as razões por trás da depressão pós-parto estão mais bem compreendidas, o que desempenhou um papel significativo no avanço do tratamento medicamentoso para essa condição. “Hoje a gente sabe que há uma molécula chamada alopregnanolona, que é um derivado metabólico da progesterona, o hormônio feminino. Essa alopregnanolona está envolvida na questão da depressão pós-parto. A alopregnanolona atua no sistema nervoso central em um receptor chamado Gaba, esse receptor gabaérgico é um receptor que é depressor do sistema nervoso central”, afirma.

Apesar de ter a aprovação da FDA, o valor do medicamento não foi estabelecido ainda. Contudo, é conhecido que seu efeito demonstra uma notável velocidade. “Os antidepressivos atuais de uma forma geral começam a fazer efeito entre 15 dias a 30 dias. Esse antidepressivo específico para depressão pós-parto em três dias já começa a fazer efeito e a duração do tratamento tem em torno de 15 dias.”

Joel Rennó - Foto: Currículo Lattes
Joel Rennó – Foto: Currículo Lattes

Entretanto, é importante destacar que o medicamento é especificamente ao tratamento da depressão pós-parto e não é eficaz para tratar a depressão em outras fases do ciclo reprodutivo da mulher. Os ensaios conduzidos com relação a este medicamento não abrangeram mães que estivessem no período de amamentação. Portanto, será necessário realizar estudos adicionais para estabelecer a segurança e compatibilidade do comprimido durante a amamentação.

“Como é um tratamento de curto prazo e o efeito dele ocorre já nos primeiros três dias, a ideia é que nos quadros mais graves depois você continue com os antidepressivos comuns que nós temos hoje e que são eficazes também na depressão pós-parto. Esses antidepressivos comuns, a maioria deles é totalmente compatível com a amamentação”, diz Rennó.

Vulnerabilidade

Além disso, o professor indica que a susceptibilidade durante the gravidez pode manifestar-se em múltiplas ocasiões ao longo da vida da mulher. “Há um subgrupo de mulheres que pode ter outros episódios futuramente, se tornam mais vulneráveis inclusive a terem quadros de depressão em outras gravidezes ou períodos de pós-parto, e também até lá na frente, no que a gente chama de perimenopausa, que antecede de cinco a sete anos o início da menopausa. São esses períodos de flutuação hormonal onde a mulher é mais vulnerável”. O ideal, nesses casos, é um diagnóstico precoce. “Quando você diagnostica precocemente o quadro é leve e muitas vezes só com a psicoterapia você resolve o quadro.”

Adicionalmente, é crucial reduzir os estigmas sobre a depressão pós-parto, de modo a encorajar um maior número de mulheres a buscar apoio durante esse período.

“No pré-natal é importante que se faça uma avaliação também da saúde mental. (…) Essas mulheres muitas vezes são infelizmente diagnosticadas tardiamente e, quando não diagnosticadas corretamente, 20% delas podem ter um risco aumentado de suicídio, então é importante o diagnóstico precoce e o tratamento, já que a depressão pós-parto ainda é alvo de muitos preconceitos. Quanto mais a gente for falando sobre o tema, menos estigma essas mulheres vão tendo em relação a essa doença”, conclui Rennó.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem Estar

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