Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,6% no trimestre encerrado em maio de 2021, isso representa um contingente de 14,8 milhões de pessoas buscando por uma oportunidade no mercado de trabalho no país. Mas é possível perceber que há vagas sendo disponibilizadas. A questão agora é: se existem vagas disponíveis, por que ainda há uma taxa tão alta de desemprego? A resposta está ligada à falta de qualificação do candidato.


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Yara Nunes, gerente de Intermediação e Recolocação no Mercado de Trabalho na Secretaria da Retomada

Segundo a gerente de Intermediação e Recolocação no Mercado de Trabalho na Secretaria da Retomada, Yara Nunes, semanalmente a Secretaria disponibiliza para a população cerca de 3 mil vagas de trabalho.

“Nós já encaminhamos mais de 53 mil pessoas para vagas de trabalho, sendo que o total de vagas supera esse número. É importante lembrar que o número é de pessoas encaminhadas e todas as semanas eu tenho novas vagas, sendo que raramente são inferiores a 3 mil vagas semanais”, afirmou.

Yara esclarece que infelizmente muitas das vagas não são preenchidas por falta de qualificação. “O que os empresários nos informam é que nós encaminhamos pessoas, mas como muitas delas não tem capacitação ou qualificação profissional acabam não conseguindo as vagas”, esclareceu.

Haysllim Ferreira de Azevedo, tem 20 anos e está a procura de emprego há cerca de um ano. “Eu saí do ensino médio e não tinha nenhuma profissionalização. Presenciei aquela velha história de que para conseguir emprego precisa ter experiência, mas para ter experiência eu preciso do meu primeiro emprego. Quando eu percebi que não ia conseguir encontrar facilmente uma vaga, decidi me matricular em um curso de auxiliar veterinário e agora estou bem otimista quanto às minhas chances no mercado de trabalho”, contou a jovem.

A especialista em carreira e bem-estar financeiro, Rebeca Toyama, explicou que uma das medidas para conter o problema da falta de qualificação no mercado são as parcerias entre o empregador e os futuros empregados. “A aproximação das empresas do sistema de formação ajudaria bastante. As empresas precisam ficar mais antenadas em preparar os profissionais para os desafios futuros. Muitas vezes vejo empresas qualificando seus profissionais para competências que não serão tão relevantes daqui a dois anos. Essa atitude acaba gastando dinheiro e deixando a desejar para competências futuras e realmente necessárias”, explicou.

Rebeca Toyama, especialista em carreira e bem-estar financeiro

Para Rebeca, os cursos técnicos são extremamente necessários para a formação de mão de obra de qualquer país, seja aqui, na Europa ou na Ásia. “Essa é uma iniciativa que funciona. O cidadão em um menor tempo consegue ficar apto para ser inserido no mercado de trabalho”.

A orientadora de Carreira do Mercado de Trabalho e analista de Perfil Comportamental, Ana Cláudia, explicou o por quê é tão complexo preencher as vagas que já estão disponíveis no mercado.

“Muitas vezes as pessoas olham muito para uma formação da graduação, um curso mais demorado e acabam não olhando para essa questão do curso profissionalizante, que hoje é muito necessário no nosso país. Falta conhecimento técnico. Muitos pensam que um curso profissionalizante não remunera bem e que a graduação sim. Isso é um erro, porque é possível que um profissional que atua na área técnica ganhe tão bem quanto uma pessoa que investiu na graduação”.

Ana Cláudia, orientadora de Carreira do Mercado de Trabalho e analista de Perfil Comportamental

Falta de vontade de estudar

Ana Cláudia ressaltou também que outro fator que dificulta no preenchimento das vagas em aberto é a falta de interesse nos estudos. Os cursos técnicos e profissionalizantes podem ser uma solução por terem curta duração.

“Chega em um momento da vida que as pessoas já formaram família, têm filhos e acreditam não possuir tempo para estudar. Os cursos técnicos e profissionalizantes são opções mais rápidas. Eles são alternativas para as pessoas que já estão com uma idade mais madura e acreditam não ter paciência para cursos longos. Cursos rápidos que capacitam para o mercado de trabalho e desenvolvem as habilidades e competências”, ressaltou.

Desencontro entre os jovens e os programas de formação

O gerente de Educação Profissional do Senai Goiás, Weysller Matozinhos, expôs que há um desencontro entre os jovens e os programas de formação, o que acaba refletindo no mercado de trabalho.

“Falta levarmos essa informação que a indústria hoje é tecnológica para os jovens. Isso é necessário para alinhar interesses tanto dos jovens quanto dos empresários”, explicou.

Os cursos técnicos e profissionalizantes são portas de entrada no mercado de trabalho, e podem gerar renda para continuar os estudos e melhorar a vida acadêmica.

“A formação profissional coloca, rapidamente, no mercado de trabalho um profissional qualificado, ou seja, os jovens já saem preparados para trabalhar. As qualificações também oferecem uma base para verticalizar a carreira e ingressar em um curso superior, realizando com maior qualidade e na área que o indivíduo realmente tiver interesse”, pontuou.

Weysller Matozinhos, gerente de Educação Profissional do Senai Goiás

Existe uma diferença entre cursos técnicos e cursos profissionalizantes. “Cursos profissionalizantes seriam como um guarda-chuva, é um gênero, e dentro dos cursos profissionalizantes nós temos várias modalidades. O curso técnico é uma habilitação técnica de nível médio, ou seja, a pessoa que tem o ensino médio pode fazer esse curso e depois da conclusão, terá uma habilitação que permite se afiliar a um conselho profissional”, explicou Matozinhos.

Realizar um planejamento estratégico desde cedo é importante. Isso significa desenhar a carreira e verificar o que de fato vai funcionar a curto, médio e longo prazo.

“Muitas vezes o jovem poderia ter uma melhor remuneração, fazendo um curso técnico e desenhando uma carreira diferente, mas por uma fantasia ele vai para um lado que a longo prazo não será sustentado. A gente tem pessoas com formações longas que não conseguiram seguir na carreira que escolheram e isso muitas vezes é devido à falta de um olhar estratégico”, disse a especialista Rebeca Toyama.

Estou desempregado como proceder?

Rebeca ainda orientou quais ações devem ser tomadas pelas pessoas que estão desempregadas.

“É preciso olhar com mais atenção para as áreas que demandam mão de obra neste momento. Saúde, tecnologia e as áreas comerciais que sempre estão em alta. A gente pode até ter crise de emprego, mas uma crise de trabalho jamais. Acredito que nunca antes na história humana tivemos tantas necessidades a serem atendidas, então se a pessoa está desempregada ela deve começar olhar para essas necessidades que existem”.

Ana Cláudia explicou como saber em que curso investir. “Primeiramente, é preciso se conhecer. O autoconhecimento é muito importante para saber suas competências, suas habilidades, sua força e seu talento. Outra coisa é o seu propósito, é preciso ter em mente o que você quer para você. Também é bem importante fazer uma análise e um estudo do que a pessoa realmente quer buscar. Ao fazer uma capacitação ou concurso, busque aquilo que esteja alinhado com seu propósito”, alertou.

A analista afirma que a falta de qualificação profissional também é devido à falta de conhecimento sobre esses cursos mais acessíveis.

“O problema é a falta divulgação. As empresas que oferecem essa capacitação devem trabalhar isso na cabeça das pessoas, justamente para quebrar esse paradigma. É preciso abrir a cabeça sobre essas formações e as oportunidades que elas abrem no mercado de trabalho”.

As vagas que estão em alta mudam de acordo com o momento e com a necessidade, porém é possível realizar um ranking das áreas que estão demandando mais profissionais.

“Saúde, tecnologia, área de vendas, desenvolvimento de negócios, pessoas que se especializam em e-comerce pois hoje nós temos o mercado virtual que aumentou bastante em função da pandemia. Também os profissionais autônomos que vão desenvolver conteúdos, com destaque para os jornalistas e publicitários que desenvolvem conteúdo para o marketing digital, especialista em marketing digital, profissionais de finanças, telemarketing, cargos de apoio à saúde e serviços criativos que são os profissionais que vão trabalhar com design gráfico, figurinista com 3D e analista de dados”, explicou.

Rebeca Toyama pontuou que carreira deve ser pensada com cautela. “Carreira não deve ser olhada como um jogo de truco, fazendo movimentos sem olhar para frente. A carreira deve ser cuidada desde cedo, independente da classe social, como tabuleiro de xadrez, jogo que realiza movimentos prevendo o que vai acontecer no futuro”.