O aborto foi um dos temas de discussão do Debate Super Sábado #230, em razão da Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência, realizada entre os dias 1º e 8 de fevereiro. Para a enfermeira da Gerência de Atenção Primária à Saúde da Superintendência de Atenção Integral à Saúde, Cláudia Gouveia, a prática jamais deve ser vista como uma solução em casos de gestação em adolescentes.

“Não se enquadra como uma solução, e traria vários prejuízos para essa menina, poderia colocar em risco a vida dela também. Definitivamente não é uma solução”, afirma.

A pesquisa Serviço de Aborto Legal no Brasil aponta que entre 2013 e 2015, mais de 90% dos abortos legais no país ocorreram em gestação resultante de estupro, seguido por anencefalia do feto (5%). Apenas 1% dos casos teve como justificativa o risco de vida para a gestante.

De acordo como o Ministério da Saúde, só em 2020 foram feitos 1.657 abortos legais pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No mesmo ano, também foram realizadas 117.972 internações para curetagens e 11.123 para aspirações, processos necessários para limpeza do útero após um aborto incompleto. Esses 2 procedimentos são mais frequentes quando a interrupção da gravidez é provocada, ou seja: a necessidade é menor no caso de abortos espontâneos. Ainda segundo a pasta, “os dados são preliminares e estão sujeitos a alterações”.

De acordo com Cláudia Gouveia, só em Goiás, no ano de 2019, foram registrados 530 casos de gravidez na adolescência. A psicóloga Ana Flávia afirma que o melhor caminho é a prevenção e a orientação.

“Aquela marca fica para sempre no corpo e na mente daquela adolescente que fez o aborto. É preciso pensar sempre em prevenção, isso em todos os aspectos da saúde. Prevenir é sempre mais fácil, mais barato do que você tentar resolver o problema depois”, avalia.

Para Cláudia Gouveia, faz parte da orientação mostrar aos jovens a disponibilidade de métodos contraceptivos como o uso de preservativos, que evitam uma gravidez precoce e previnem contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)

“Nós disponibilizamos todos os métodos contraceptivos. Se a menina ou o menino já tem uma vida sexual ativa, é importante levar para conhecimento a ação dos métodos contraceptivos, tanto os homonais como os de barreira que vão prevenir infecções sexualmente transmissíveis”, pontua.

Em 3 de janeiro de 2019 foi sancionada a Lei que instituiu o novo artigo no Estatuto da Criança e do Adolescente, criando assim a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência.

No Brasil, 1 a cada 5 mulheres será mãe antes de terminar a adolescência. A taxa brasileira de gravidez nessa faixa etária é de 68,4 nascimentos por mil adolescentes, e está acima da média sul-americana e caribenha.

“Quanto mais informação o jovem tem, mais ele demora a iniciar a vida sexual. Se a gente tem uma família estruturada, que não se tem tabu, que se fala de tudo, o jovem tira as dúvidas com mãe, o pai, a avó, enfim, aquele cuidador, se sente seguro de conversar. A grande questão é que o jovem não tem com quem conversar, acaba escondendo e sofre todas as consequências que a Cláudia falou”, conclui a psicóloga Ana Flávia. Ouça o debate na íntegra