O impeachment de Fernando Collor de Mello é fato único na história da política brasileira, principalmente porque foi o maior escândalo do período democrático e causou grandes manifestações pelo país. O movimento Fora Collor e os Caras Pintadas, organizados em sua maioria por estudantes engajados e indignados com os casos de corrupção descobertos no Governo Federal.

Vinte anos depois, mais casos de corrupção na política nacional vêm constantemente à tona, mas a reação popular é bem diferente. São mínimos os movimentos de rua e a impressão é de que o povo está apático e indiferente. O exemplo mais claro e próximo é o da cassação de Demóstenes Torres do cargo de senador.

O professor de ciências sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Pedro Célio, afirma que esta impressão é falsa. Segundo ele, as reações populares continuam e são mais efetivas.

“A gente viu aquela imagem da mobilização de massas, em que grandes multidões tomavam as ruas das cidades e se manifestavam politicamente. Vimos isto no movimento das Diretas e depois no movimento Collor. Hoje, este tipo de imagem não é o que predomina, mas, nem por isso, a gente pode dizer que a mobilização é menos efetiva. Se procura, além da demonstração da indignação, a efetivação de canais de ação que sejam pra valer. A Ficha Limpa é uma primeira solução para isto”, destacou Pedro Célio.

Até por esta mudança na manifestação do povo, depois de 20 anos, as consequências para políticos flagrados em situações ilegais e, evidentemente, em casos de corrupção tendem a ser mais duras e irreversíveis. Além da mudança de pensamento e julgamento das pessoas, a diferenciação dos casos Collor e Demóstenes é óbvia pela distinção entre a consciência política do povo goiano e do alagoano. O segundo é muito mais ligado ao domínio familiar regional e até a grande mídia no estado é controlada por este grupo.

O ex-presidente renunciou ao mandato em 1992, mas ficou inelegível por oito anos, devido ao processo de impeachment sofrido no congresso nacional. Em 2007, foi eleito senador pelo PTB de Alagoas e hoje é uma das lideranças políticas de Brasília.

O professor Itami Campos avalia que Demóstenes Torres tem poucas chances de repetir o processo de Collor e voltar a ser eleito depois de perder o mandato. “Collor pode formatar uma opinião pública em Alagoas, diferente do que o Demóstenes poderia. Ele teria que fazer um esforço muito maior para poder marcar uma presença e conseguir não ficar no ostracismo. Vejo uma situação mais difícil”, destaca.

O ex-senador Demóstenes Torres foi cassado por decisão da maioria dos senadores no plenário da casa. Ele voltou para a função de procurador do Ministério Público Estadual de Goiás e está inelegível pelos próximos 15 anos.

Quem canta, seus males espanta

No início do mês de agosto, o ex-senador foi gravado cantando em uma churrascaria de Brasília a um público formado, em grande parte, por advogados dos réus do processo Mensalão, que ainda está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). O mais interessante foi a escolha musical: Let Me Try Again, cantada originalmente por Frank Sinatra. A tradução literal do título é: “Deixe-me tentar de novo”. Fica o registro.

Ouça: {mp3}stories/audio/2012/setembro/DEMOST-CANTA-LET-ME_TRY-AGAIN{/mp3}

 

 

@rubenssalomao