A jovem aprendiz Gisllainy Costa, a ativista Manuela Augusta, a congadeira Valéria da Congada e a atriz Mel Gonçalves nos estúdios da Sagres (Fotos: SagresTV)

“A abolição da escravatura e as ações afirmativas — Vinte de novembro pra quê?” Este foi o tema de uma audiência pública realizada na segunda-feira (18) voltada para debater as ações afirmativas em favor da população negra do Brasil, pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado. 

Para os representantes da luta pela igualdade racial, o país precisa avançar na implementação de políticas públicas e ações afirmativas capazes de reduzir a desigualdade e refletir nos índices sociais e econômicos da população negra. 

Nesta quarta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra, a pergunta que norteou os debates na comissão do Senado deu início ao programa Sinal Aberto – Revista, da Sagres TV, no quadro Papo Reto, com Karla Rady. Para a ativista Manuela Augusta, a data lembra as lutas do passado e, principalmente, as do presente. 

“É para a gente ainda lembrar dos nossos anseios. É um momento de festividade, mas principalmente para reforçar, relembrar todas as lutas que a população negra vem fazendo durante todo esse período. Nós tivemos alguns avanços como os números referentes à quantidade de pessoas negras na universidade, mas em contraponto a isso, ainda tem outros índices muito ruins como o aumento do feminicídio de mulheres negras, a morte de jovens negros, a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho e de permanecer na universidade. A maioria dos desempregados são pessoas negras. 20 de novembro é o momento ainda para correr atrás de tudo isso e para relembrar que racismo é crime, existe no Brasil, e tentar desconstruir essa ideia da democracia racial que, de fato, não existe nesse país”, afirma. 

Na comissão do Senado, ao relembrar o sofrimento e resistência da população negra durante os anos de escravização, a coordenadora da Articulação Nacional de Psicólogos Negros, Marcia Maria da Silva, descreveu o processo de libertação como uma “abolição inconclusa”. Para ela, o fato ocorreu sem qualquer política de integração da população negra na sociedade de classe que emergia, o que levou a exclusão dos negros dos postos de visibilidade e de poder até os dias de hoje. 

“De acordo com dados do Instituto Ethos, ao avaliar dados do perfil social e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil, a população negra soma apenas 4,7% no quadro executivo das empresas de maior destaque nacional. Sendo que as mulheres negras correspondem a 0,03%, ou seja, duas diretoras em 548 diretorias mapeadas. Nessa lógica, a bancada federal eleita para mandatos no período de 2019 a 2022 é composta por 71% de homens brancos. Senado Federal, 14% entre pardos e pretos, Câmara, [somente] 104 [deputados] entre pardos e negros. Nenhum ministro de Estado negro. Nenhum governador de estado negro. Nenhum ministro do Supremo Tribunal Federal negro. No entanto, o país simplesmente naturalizou o abismo que separa brancos de não brancos”, afirmou.

O Congresso Nacional também foi palco de destruição. Nesta terça-feira (19), um deputado do PSL violou uma exposição na Câmara em memória do Dia Nacional da Consciência Negra e combate ao racismo. O parlamentar não concordou com a imagem de um jovem negro morto associada à de um policial e arrancou os quadros da mostra. 

Quem sente na pele essa triste realidade do racismo, desde cedo, é a jovem aprendiz Gisllainy Costa. “A maioria das empresas têm o preconceito com a pessoa negra, e muitas vezes julgam pela cor. Não olham o currículo, e sim a cor da pele”, relata. 

Relatos que corroboram este cenário de preconceito como os da atriz Mel Gonçalves. “A nossa competência não é avaliada. O que define se eu vou ocupar um cargo, se eu vou conseguir fazer uma intervenção artística em uma empresa de grande porte é a cor da minha pele. ‘Não tem alguém mais clarinho?’ Isso acontece muito”, lamenta. 

A congadeira Valéria Eurípedes Oliveira, conhecida como Valéria da Congada, também integrou a mesa de debates do Sinal Aberto – Revista. Ela reforça a condição das congadas no sentido da identidade da cultura negra em Goiás. 

“O 20 de novembro retrata a história da escravidão. A Congada vem buscando isso também, trazendo para a sociedade a história do negro, da escravidão, mas no sentido de liberdade”, afirma. “Falar do 20 de novembro é falar do reconhecimento que nossos ancestrais trouxeram e lutar por nossos ideais, e dizer para as nossas comunidades, para a cultura popular, que nós estamos aqui, viemos para viver e buscar o que é nosso”, complementa. 

Acompanhe as entrevistas na íntegra no Sagres Sinal Aberto – Revista de hoje (20)

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