Que a inteligência artificial (IA) não é mais coisa do futuro, ninguém tem dúvidas. Ela está mais presente do que nunca, e até o mercado de trabalho já começa a sentir os impactos dessa presença. 

Um destes impactos é o desemprego tecnológico. Trata-se da perda de emprego causada pela introdução de novas tecnologias no processo produtivo, e a inteligência artificial pode exercer grande influência nessa mudança. 

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De acordo com o professor Edison Spina, do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais e coordenador do Centro de Estudos de Sociedade e Tecnologia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), esse desemprego tem como característica a falta de preparo do trabalhador para o que está sendo introduzido no mercado. Desta forma, o que costuma acontecer é a substituição desse indivíduo. 

Edison Spina (Foto: USP)

“Isso acontece porque a tecnologia traz eficiência, ajuda a baratear a produção, aumentar lucro, criar novos produtos no mercado. A gente tem um histórico muito longo de tecnologia indo para o mercado e abaixando o preço no final. Mas existem os custos desse processo e gente é deixada pelo caminho”, afirma em entrevista ao Jornal da USP.

Chatbots

Ainda segundo Spina, ferramentas de inteligência artificial, como os chatbots, apresentaram um avanço muito rápido, fator que provoca, ao mesmo tempo, fascínio e medo. 

“Coisas que esperávamos que fossem ditas por pessoas muito preparadas começam a ser articuladas, e sintetizadas, a partir de um robô. Temos trabalhos escolares e pesquisas científicas sendo preparadas sem erros de português, apesar de não realizarem essas funções como uma pessoa faria”, pondera. 

Criatividade

Mas e a criatividade? Este é outro tópico levantado quando se aborda o uso de tecnologias associadas ao trabalho. Segundo Spina, a IA é sim capaz de fazer alguns trabalhos criativos, mas é necessário que esteja direcionada, ou seja, as pessoas precisam aprender a fazer as perguntas certas para que funcione da melhor forma. 

“Eu acredito que é aí que o desemprego irá acontecer. Quem não conseguir utilizar novas técnicas como ferramenta não terá a possibilidade de se manter como ferramenta. Eu não pretendo trazer nenhuma solução para essa questão em um horizonte curto”, discorre o professor.

Entretanto, para a professora, mestre em Informática com ênfase em Inteligência Artificial da Uninter, Vívian Barausse de Moura, a criatividade, por enquanto, é fator inerente aos humanos. Ela acredita que as funções operacionais é que deverão ser as primeiras impactadas pela IA no mercado de trabalho.

Ouça a entrevista na íntegra a seguir

“São aquelas funções que não utilizam da criatividade humana, da perspicácia do ser humano. [A inteligência artificial] Não vai nos substituir por completo, mas precisamos sim ter ciência de que as profissões vão mudar, as nossas operações e ações do dia a dia vão mudar e também vão existir novas profissões”, afirma. 

Vívian Barausse em entrevista à Sagres (Foto: Sagres Online)

Atuar de forma colaborativa

Criada por seres humanos, a IA dos chatbots, por exemplo, como o ChatGPT, podem apresentar falhas em suas respostas. Para evitar isso, Vívian Barausse afirma que é preciso ter conhecimento do assunto que se busca pesquisar junto aos bots. 

“Digamos que vou utilizar do recurso da inteligência artificial. Mas se eu não tiver conhecimento daquele assunto, se eu não souber aquele assunto, eu vou ‘comer com farinha’ aquilo e começar a disseminar uma informação que foi errada, que eu extraí de um recurso excelente”, exemplifica.

Desenvolver competências

Por fim, Vívian Barausse afirma que o mercado de trabalho manterá as portas abertas a todos. No entanto, as pessoas devem buscar saber mais sobre inteligência artificial e começar a desenvolver suas competências digitais. 

“Para estar no mercado de trabalho é preciso estar nessa constante evolução, aprendendo. Especialize-se, busque cursos, comece pelo iniciante, aprenda e não tenha medo de utilizar, com os cuidados em relação a seus dados e informações que você irá prestar”, conclui.

Com informações do Jornal da USP

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