Um evento do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) vai reunir produtores artísticos, pesquisadores e líderes indígenas. O objetivo é refletir sobre o desenvolvimento de projetos culturais e artísticos entre os povos originários. O encontro ocorre nesta terça-feira (18), das 14h30 às 17h30, presencialmente no IEA, e com transmissão ao vivo pelo link.

“Nosso interesse é gerar discussões sobre o campo da cultura, a partir de suas especificidades, em colaboração com protagonismos em instâncias de participação política”, conta Victor Hugo Neves de Oliveira, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e bolsista no Eixo Cultura e Artes do Programa Eixos Temáticos.

(Victor Hugo Neves de Oliveira explica as reflexões que o evento quer gerar | Foto: Reprodução/Currículo Lattes)

De acordo com os organizadores, os participantes questionarão temas como: há cura para o que dura? E é possível inspirar e transformar um mundo que não respeita nosso chão? “Acreditamos que a partir dessas provocações, cada participante poderá compartilhar e conjecturar teorias e práticas a partir de suas próprias experiências e saberes”, projeta Victor Hugo Neves.

Para o Grupo de Pesquisa Fórum Permanente: Sistema Cultural entre o Público e o Privado, é de suma importância discutir políticas culturais indígenas. De acordo com eles, isso aumenta a necessidade dos povos originários como atores sociais na ambiente público. Além disso, estimula o entendimento da dimensão cultural como arena de luta.

“Nosso interesse é compreender quais os desafios contemporâneos das políticas culturais indígenas. Como a produção artística dos povos originários tem contribuído no agenciamento de políticas e na garantia de visibilidade e direitos”, afirmam os organizadores em entrevista a Camilly Rosaboni do Jornal da USP.

Protagonismo indígena

Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira | Foto: Reprodução/IEA-USP

“A criação de equipamentos culturais como escolas ou museus indígenas, a produção de espaços de visitação nas aldeias e a realização de torés [rituais que unem dança e religião] e grafismos corporais têm consolidado maior visibilidade pública para as demandas dos povos originários e, ao mesmo tempo, fomentado reflexões sobre a importância de valorizarmos as maneiras por meio das quais os povos indígenas organizam e articulam suas próprias formas de conhecimento”, relata Victor Hugo Neves.

A docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e supervisora do Eixo Cultura e Artes do Programa Eixos Temáticos, Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira, conta que a ideia foi reunir pessoas de diferentes áreas.

“Nós buscamos justamente trazer pessoas que estejam tanto no campo artístico, quanto pessoas que estão nas instituições e refletem teoricamente sobre questões ligadas à arte e à cultura, dialogando sobre políticas públicas que são fundamentais na contemporaneidade”, explica.

Dia dos Povos Indígenas

Antigamente, no dia 19 de abril se celebrava o Dia do Índio. Entretanto, a Lei 14.402, de 2022, substituiu oficialmente para Dia dos Povos Indígenas. A mudança atendeu a necessidade de respeitar a diversidade das culturas indígenas e grupos originários. Mas, é importante ressaltar que, os termos índio e indígena, para se referir a nativos, ainda causa confusão na população.

Não Me Chame de Índio referencia um dos versos do poema Índio eu não sou, de Márcia Wayna Kambeba, poeta e geógrafa da etnia Omágua/Kambeba. “O poema alerta para o perigo do uso da categoria índio por considerá-la não apenas uma apologia à colonização, mas também um processo de apagamento da diversidade cultural, política, social e histórica das populações originárias”, explica Victor Hugo Neves.

“O termo índio tem sido indicado pelos povos indígenas como um termo genérico, de caráter colonial, que consolida e expressa violências históricas de dominação e genocídio. A escolha por esse título se deu a partir de um desejo de desenhar geografias artísticas e afetivas sobre o tema”, completa.

*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 10 – Redução das Desigualdades

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