Pode copiar, mas não faz igual! Quem já não ouviu esta frase em escolas e faculdades? Evitar o plágio continua sendo um desafio para educadores. Em tempos modernos de inteligência artificial, facilidades tecnológicas como o Chat GPT, como fica o aprendizado? Especialistas ouvidos pela reportagem da Sagres defendem reflexão e revisão de métodos nas avaliações de ensino.

Plágio e o ChatGPT

Em trabalhos escolares, professores há tempos já conseguem detectar plágio por meio de ferramentas de inteligência artificial, mas e com o Chat GPT?

O Chat GPT é um robô desenvolvido pela empresa OpenAI que usa inteligência artificial (IA) para interagir com os usuários, por meio de texto apenas.

A ferramenta é capaz de responder questionamentos de forma coesa, até mesmo os mais complexos, por exemplo, redações, entre outros conteúdos.

Para gerar as informações pedidas pelos usuários, o software recorre a um vasto banco de textos disponíveis na Internet. Diferente do Google, o Chat GPT não informa a fonte das informações. O Chat GPT foi treinado com informações disponíveis na Internet até 2021.

Alguns locais já resolveram proibir o uso do Chat GPT, como a cidade de Nova York, que bloqueou o acesso à ferramenta em todas as escolas públicas.

A Universidade Sciences Po, na França, também proibiu o uso do Chat GPT para evitar plágio e fraudes. Isso porque a inteligência é facilmente capaz de escrever redação, fazer resumos, resolver exercícios de matemática, dentre várias outras funções.

Reflexões

A professora e pesquisadora na Universidade Federal de Goiás/UFG e na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Unirio, Heloísa Bezerra, avalia que a questão do plágio não é atual, mas vem sendo atualizada com novas tecnologias.

Para a educadora, o importante é uma avaliação que leve o aluno a uma reflexão e não que seja um processo automatizado, apenas na base de decorar conteúdo. Heloísa Bezerra defende que ocorra inovação nos processos de atividades educacionais. Na avaliação dela os atuais modelos de atividades são obsoletos.

Heloísa Bezerra em entrevista ao Sistema Sagres. Foto: Samuel Straioto.

“O que estou propondo? É um decoreba? Que ele replique textos que vai compilar de vários lugares ou estou propondo que ele seja inovador? Acho que isso vai de encontro também de como os professores estão desenvolvendo os seus processos avaliativos. As provas são processos avaliativos são para mim processos obsoletos”, analisa.

A professora avalia que não faz muito sentido o estudante passar alguns meses decorando conteúdo para depois fazer uma avaliação. Outra reflexão que ela apresenta é quanto a dissertações de mestrado e teses de doutorado que poderiam se tornar colaborativos, podendo a ajudar na redução de plágios.

Para ela, a tecnologia não poderia ampliar o plágio. “A tecnologia não vai ampliar o plágio, ela está ali oferecendo as oportunidades, as ferramentas e nós que vamos ter que lidar com isso, e é muito bom porque precisamos parar para pensar que processos avaliativos nós estamos propondo”, argumentou.

A professora entende que o momento é de aprendizado para os educadores e da introdução de novas práticas de ensino e de avaliações.

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Sem paranoia

Rossandro Klinjey, é psicólogo, especialista em educação e desenvolvimento humano, cofundador e embaixador da plataforma Educa. Ele também reflete sobre novas formas de avaliação. Para, ele as novas formas de ensino passam pelo fortalecimento de competências socioemocionais.

Ele argumentou que durante a pandemia da Covid-19 ficou muito claro que não basta apenas a oferta de tecnologia e o uso dela para transmissão do ensino, mas que os ambientes educacionais como escolas e universidades, por exemplo, devem ser um espaço para construções emocionais e não apenas cognitivas.

“A sala de aula precisa ser uma construção de saberes e a escola um espaço de construção de emoções, pois a sala de aula não é apenas um espaço de construção cognitiva, mas de construção afetiva e na pandemia, vimos que só na tecnologia houve profundo decréscimo cognitivo”, destacou.

Para ele, ficar simplesmente querendo saber quem está plagiando ou não conteúdo não é algo benéfico e pode se tornar uma paranoia que nada contribui para o desenvolvimento do aluno. Segundo Rossandro Klinjey, a oportunidades pode ser em atividades dinâmicas que levem a reflexão.

“ Depois de tudo isso vai ficar uma paranoia tão grande que até alguém que entregar um texto original vai ser questionado. Minha sensação é essa, vai todo mundo ficar duvidando do que as pessoas produzem. Onde é que vai ser o tira-teima? Vai ser no ao vivo, na hora que você chegar junto e pedir para falar sobre o conteúdo. A ideia de você voltar a gerar discussões na sala de aula pra você ver se realmente os alunos aprenderam aquilo, aí não tem plágio, você entendeu?”, disse.

Rossandro Klinjey é cofundador da Educa. Foto: Reprodução Facebook.

Ressignificação

Rossandro Klinjey entende que é difícil detectar uma ferramenta que seja capaz de identificar plágio no Chat GPT, pelo fato de o conteúdo passar por ressignificações.

“Eu acho muito difícil pelo que já dei uma olhada no Chat GPT e pelo que tenho lido a respeito, que a gente consiga criar algum tipo de aplicativo ou site que consiga detectar plágio, porque você pode refazer o texto infinitamente” relatou.

Para o psicólogo, seria interessante a prática do educador deixar de ser um entregador de conteúdo e ser um estimulador de discussões.

“E nesse momento, os alunos vão crescer, mostrar pro que vieram, mostrar se tem conteúdo e não vai dar pra ficar com o celular ali fazendo uma colinha, é estimular uma discussão muito mais que ficar nessa paranoia de saber o que é ou não é plágio”, disse.

Rossandro entende que o modelo mais tradicional de educação é destruído pela tecnologia, mas se a sala de aula for um local de debates, troca de ideias e construção de saberes, a situação pode ser diferente.

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