Desde o dia 2 de maio, escolas e Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) de Goiânia iniciaram o uso de detectores portáteis de metais na entrada dos alunos. A ideia é aumentar a segurança após os ataques a escolas que aconteceram nas cidades de São Paulo e Blumenau (SC) que foram seguidos de disseminação de fakenews nas redes socais.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, as 371 instituições de ensino da Capital receberam cerca de R$ 370 mil em recursos para aquisição dos detectores e manutenção de outros itens de segurança.

“Sabemos que vivemos um momento muito difícil sobre a segurança. É uma discussão internacional, inclusive. Além dos detectores, os recursos servem também para colocação de câmeras de monitoramento, cerca elétrica, concertina e aumento de muros”, detalhou o secretário Wellington Bessa.

Segundo o secretário, todos os alunos, inclusive do 5º ano ao 9º ano, poderão utilizar novamente as mochilas que estavam suspensas enquanto as medidas de segurança eram implantadas.

“Devemos ficar atentos, pois temos cerca de 110 mil alunos. Sempre temos agir de maneira rápida. Claro que com essas medidas, o diálogo e a responsabilidade dos pais também são importantes. Eles devem estar mais atentos, sobretudo com a rotina do filho e o que carrega na mochila ou não, além de uma comunicação não violenta em casa”.

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Opiniões dos pais

E o que acham os pais sobre os filhos passarem pelos detectores de metais? Feirante e cuidadora de idosos, Alessandra Magalhães Coelho, tem uma filha de 6 anos no Cmei Parque Primavera, e apoia a iniciativa.

Foto: Laís Borges/Prefeitura de Goiânia

“Nesse momento, acho super útil. Não só os detectores de metais. Os pais também devem olhar as mochilas e orientar os filho. O que é certo é certo. O que é errado é errado. Não podemos deixar só na responsabilidade da escola”, ponderou a mãe, que fez questão de destacar que não considera a medida invasiva.

“De maneira nenhuma nesse momento que estamos vivendo e necessário”.

Psicóloga e pedagoga, Cleide Neves, disse que é “a favor de tudo o que favorece a proteção”, mas também demonstrou preocupação com a saúde mental das crianças e dos jovens.

“É necessário que haja uma psicoeducação através de palestras. Esclarecimentos para cada faixa etária dentro da temática”, disse a profissional, que também tem uma filha estudando em um Cmei de Goiânia.

Reflexos na sociedade

Embora os pais entrevistados e o secretário de educação do município, valorizem as novas medidas de segurança, também tem quem deixe um alerta sobre os reflexos que tais ações podem causar. Assim como a pedagoga e psicóloga Cleide Alves – que defende uma ação piscoeducacional entre professores e alunos – o sociólogo Cézar Bueno Lima, professor da PUC, do Paraná, considera necessário o dialogo dentro das escolas.

“Desafio é sempre instigar as crianças e todas as pessoas que fazem parte da comunidade escolar. Encontrar soluções dialogadas e não punitivas para a solução e prevenção dos conflitos que são inevitáveis na sociedade”, disse o sociólogo, que também lembrou da ideologia do pânico existente hoje em dia na sociedade.

“Primeiramente é preciso analisar e averiguar o histórico de cada escola ou instituição de ensino infantil e fundamental. Saber se essa medida é realmente necessária ou apenas reforça a ideologia de pânico que toma conta das famílias e da sociedade neste momento. É importante salientar que o modo como educamos nossas crianças, adolescentes e jovens, produz consequências duradoras no âmbito da nossa vida comunitária e em sociedade”.

Consequências e aprendizado

Para o professor Cézar, controlar as crianças e suspeitar delas no ambiente escolar, também demonstra a incapacidade da sociedade de lidar com os conflitos por meios democráticos.

“Uma sociedade livre, democrática e plural, não pode ser educada com base na pedagogia do medo. Assim, toda forma de controle e suspeição que recai sobre crianças, adolescentes e jovens, demonstra a nossa incapacidade de lidar com nossos conflitos de outro modo, que não seja por meio de mecanismos que utilizam o medo e a desconfiança entre as pessoas. Isso é horrível”.

Junto com as medidas atuais de prevenção com os detectores de metais e outros itens de segurança nas escolas, o professor defende a prevenção. Então, ações sociais e educativas junto aos alunos e pais, que podem ajudar na normalização do ambiente escolar em breve.

“Nosso maior aprendizado é conhecer, experimentar e sociabilizar princípios socioeducativos que priorizem valores e abordagens não punitivas na solução dos nossos conflitos. Afinal, uma sociedade mais precavida não alimenta a cultura do medo”, concluiu.

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