Neste sábado (20) é comemorado o Dia da Consciência Negra, data que representa a luta dos negros em prol da igualdade racial e debate sobre a importância de sua cultura na formação histórica do país. Além disso, o dia também é uma homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, considerado o maior símbolo de resistência à escravidão.

Entretanto, no futebol, por exemplo, podemos ver de forma recorrente casos de racismo no meio da torcida, nas redes sociais e até mesmo, dentro de campo.

Na última terça-feira, dia 16 de novembro, a atacante do Corinthians, Adriana, foi chamada de “macaca” por uma adversária do Nacional-URU após marcar o sexto gol do Timão na Libertadores Feminina. Até o momento, nada foi feito. A partida terminou 8 a 0 para o Corinthians e depois de cada um dos últimos dois gols, as jogadoras brasileiras protestaram levantando o punho fechado para cima.

Adriana, atacante do Corinthians (Foto: Divulgação/Acervo Pessoal)

Uma sequência de episódios aconteceu com o atleta Celsinho, do Londrina, em menos de três meses. A primeira se deu na partida contra o Goiás, na 12ª rodada da Série B. Na ocasião, um narrador e um comentarista de uma rádio da capital goiana proferiram termos racistas sobre o cabelo do meia-atacante: “bandeira de feijão”, “um negócio imundo” e “cabelo pesado”.

Depois, contra o Remo, um narrador do Pará também comentou sobre o cabelo do atleta, dizendo: “vai com seu cabelo meio ninho de cupim para bater na bola”. E o terceiro caso, foi contra o Brusque, quando, após o fim da partida, Celsinho relatou que alguém ligado ao time catarinense o havia chamado de “Macaco”. Na súmula, o árbitro destacou que a frase seria: “vai cortar esse cabelo de cachopa de abelha”.

Esse último, mais que os outros, chamou atenção nas redes sociais, por se tratar de um representante do clube, e o Londrina acionou o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e denunciou o Brusque por injúria racial. No dia 24 de setembro, a entidade desportiva julgou a equipe determinando a perda de três pontos na tabela e multa de 60 mil reais. Já o responsável pela fala, o conselheiro Júlio Antônio Petermann, foi suspenso por 360 dias e multado em 30 mil reais.

No entanto, o Brusque entrou com recurso e, em uma nova decisão na última quinta-feira (18), o STJD decidiu devolver os três pontos perdidos pelo time. A decisão gerou revolta por parte do atleta Celsinho. “É uma insatisfação, uma decepção. Este é um país em que precisamos de todas as forças para lutar contra este tipo de crime, mas estamos retrocedendo em uma instituição que tinha tudo para tomar uma decisão melhor. A punição já era branda”, afirmou o jogador em entrevista ao site Uol Esporte.

Para o Dia da Consciência Negra, o Sistema Sagres perguntou a três jogadores dos principais clubes do futebol goiano qual a importância da data e o que significa para cada um deles:

Moacir – volante do Vila Nova

“Pra mim é um dia diferente, porque representa a nossa luta. Não é só mais um dia de combate, mas um que muita gente respeita. Falando sobre o respeito, eu acho que temos buscado isso ao longo dos anos, mas nos últimos houve muitos descaso, então declinamos, para ser sincero. Eu acho que precisa ser colocado em escolas como matéria, assim como nas faculdades e, assim, eu creio que seremos mais respeitados.

O atleta também se abriu sobre o preconceito que ainda sofre dentro de sua profissão e na sociedade:

“Na profissão, particularmente, é até mais difícil por ser um jogador muito conhecido, respeitado por vários atletas, comissões. Houve um caso isolado, mas há muitos anos atrás, de uma arquibancada no Campeonato Cearense, mas passou. Eu não tinha a maturidade que eu tenho hoje para lidar com isso. Mas em meio à sociedade, na rua, nos supermercados, em shoppings já passei muito. Até passei um tempo da minha vida achando que isso era natural, levando isso como natural, mas não era. Era uma forma de me oprimir”.

Diego – atacante do Goiás

O atacante entende que a conscientização precisa ser trabalhada constantemente na sociedade e não apenas um dia do ano.

“Bom, eu nunca sofri esse tipo de preconceito racial, mas é uma coisa que está muito presente na nossa sociedade, no nosso dia a dia. Essa é um dia muito importante, mas eu creio que a data em si, se as pessoas não se conscientizarem, não vai levar a gente a um progresso, não vai levar a gente a nada porque o racismo ocorre todos os dias. Ou, se as pessoas se conscientizarem só nesse dia e depois voltarem a fazer os atos novamente, não vai valer de nada. É uma data importante para as pessoas se conscientizarem todos os dias”.

Wanderson – zagueiro do Atlético-GO

“Eu acho que é um dia muito importante. Não só essa data, mas todos os dias do ano tem que ter essa consciência e saber que a cor da pele não mostra qual é o ser humano. Eu acho que o caráter, o jeito que a pessoa vive, os exemplos que a pessoa dá que tem que distinguir e não a cor da pele. No meio do futebol eu nunca sofri preconceito, eu já sofri fora do mundo do futebol, até em alguns estados que joguei. Mas eu levo com muita tranquilidade, acabo até brincando, explicando melhor para a pessoa que acaba querendo me ofender de alguma forma. Muitas vezes também é má orientação”.

Os times goianos se manifestaram nas redes sociais sobre a data:

Atlético-GO

Goiás
Vila Nova

Mariana Tolentino é estagiária do Sistema Sagres de Comunicação, em parceria com o Iphac e a Unialfa sob supervisão do jornalista Denys de Freitas.