Direto da Espanha, onde mora desde de 2013, o jornalista Thiago Arantes trouxe detalhes sobre o caso Jenni Hermoso – jogadora da Espanha – e Luis Rubiales – presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) – que beijou a atleta à força na cerimônia de comemoração do título da Copa do Mundo Feminina de Futebol na Austrália/Nova Zelândia que aconteceu no mês passado.
“Desde que que aconteceu o caso, não se fala em outra coisa na Espanha. Você sai para tomar café em uma padaria, só se fala nisso. O que a gente vê ali, é uma cena, no mínimo, de abuso de poder. De um cara que está em uma posição superior e que se utiliza do cargo pra fazer algo sem consentimento”, disse Thiago Arantes.
Crime e histórico
De acordo com Thiago Arantes, na Espanha, esse tipo de crime é tipificado como agressão sexual. A partir disso foram feitas várias denuncias de entidades privadas, como da Federação dos Técnicos de Futebol da Espanha; partidos políticos; além do Ministério Público espanhol. Neste momento, Luis Rubiales está suspenso pela FIFA e disse que não renuncia ao cargo de presidente da Federação.
“O Conselho Superior de Esportes e o Ministério Público, podem definir os rumos do presidente da Federação Espanhola. A denúncia está sendo analisada por um tribunal especial e ele ainda pode ser retirado do cargo”, completou Thiago, que no bate-papo com Wendell Pasquetto e Charlie Pereira no Podcast Debates Esportivos, lembrou que Rubiales tem um histórico de polêmicas no futebol espanhol.
“Esse caso é só mais um de uma coletânea de casos em que ele está envolvido. Ele é um cara bem enrolado. Foi jogador de futebol, abandonou a carreira bem cedo, foi para o lado da gestão, passou a integrar a associação de jogadores, virou braço direito do antigo presidente da Federação e entra como presidente em 2018, quando na véspera da estreia da Espanha na Copa, demitiu o técnico Lopetegui porque tinha acertado com o Real Madrid”, descreveu Thiago Arantes.
Posicionamento
A atitude do dirigente contra a jogadora do Pachuca, do México, ganhou repercussão mundial. Entre os espanhóis, a conquista do título mundial dividiu atenções com o ocorrido. Jogadores menos famosos e estrelas do futebol, como Casillas, Xavi e Iniesta, se posicionaram a favor de Hermoso. Nesta segunda-feira (4), jogadores convocados para a seleção principal durante a data FIFA, também se posicionaram. Os capitães da seleção, como Morata, Azpilicueta, Asensio e Rodrigo cobraram a saída de Rubiales do cargo.
Segundo Thiago Arantes, o comportamento de Piqué, ex-zagueiro do Barça, chamou a atenção. Campeão do mundo em 2010, que sempre opina sobre questões extra futebol na Espanha, ficou à margem da discussão.
“Sobre o Piqué, vazaram áudios dele negociando com o Rubiales, os direitos da Super Copa da Espanha, já que a empresa dele, Piqué, é quem comanda o torneio juntos com os sauditas. Ele é um personagem bem polêmico”, destacou Thiago.
Comportamento
Em comparação com outro caso de repercussão mundial, quando o jogador brasileiro Vinícius júnior, do Real Madri, foi vítima de racismo em vários estádios do país, Thiago não vê divisão entre torcidas e enxerga evolução no entendimento da sociedade espanhola.
“Aqui na Espanha você o eixo direita e esquerda, mas também tem o eixo “espanholista” e o “independentista”, com movimentos em vários lugares. Sempre tem diferentes eixos de discussão. no caso do Vinícius, a gente via a divisão entre os progressistas, que têm capacidade de compreender a diversidade racial e que o país está mudando. Mas também tinha o outro lado, que achava o jogador provocador demais, consolidando dois eixos no futebol (de torcedores do Barcelona e do Real Madrid). Já no caso da Hermoso, não existe essa divisão, todos estão do lado dela”.
Futuro
Quanto ao futuro, é aguardada para os próximos dias uma decisão sobre o futuro de Luis Rubiales. Na opinião de Thiago Arantes, o polêmico dirigente logo deixará o cargo.
“A Federação espanhola ficou com a imagem muito desgastada com toda essa história. Imaginando que a Espanha tem uma candidatura pra ser sede da Copa do Mundo em 2030, em conjunto com Portugal e Marrocos, não vai querer de forma alguma um cara que hoje é um pária internacional sentado ali na maior cadeira da Federação”, finalizou.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 5 – Igualdade de gênero e ODS 16 – Paz, justiça e instituições eficazes
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