Uma carta endereçada ao Banco Mundial e assinada por empresários, economistas e intelectuais pede que países vetem a indicação do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub para assumir cargo na instituição financeira internacional.

A carta é assinada por 15 associações e mais de 130 personalidades de diversas áreas, que pedem a embaixadores de oito países no Brasil, sendo Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Filipinas, Suriname e Trinidad e Tobago, que se posicionem contra a indicação do ex-ministro.

“Enviamos esta carta para desaconselhar fortemente a indicação do Sr. Weintraub para este importante cargo e informá-lo sobre os possíveis danos irreparáveis que ele causaria à posição do seu país no Banco Mundial. Estamos convencidos de que o Sr. Abraham Weintraub não possui as qualificações éticas, profissionais e morais mínimas para ocupar o assento da 15ª Diretoria Executiva do Banco Mundial”, diz um trecho do documento.

Weintraub foi indicado ao cargo no banco pelo presidente Jair Bolsonaro, como uma espécie de prêmio de consolação depois que o então ministro passou a protagonizar quase que diariamente conflitos entre o Executivo e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Na reunião ministerial de 22 de abril, cuja divulgação foi autorizada pelo STF, Weintraub se dirige aos ministros como “vagabundos” e que os colocaria na cadeia, se pudesse.

A postura do então ministro também causou descontentamento no Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, comentou a saída de Weintraub do governo, com ironia.

“A gente espera que possa ficar melhor. Estava muito ruim o Ministério da Educação. Todo mundo sabe a minha posição, não adianta ficar aqui reafirmando. Não é isso que vai melhorar o diálogo com o Ministério da Educação. Esperamos que a gente possa ter no Ministério da Educação alguém de fato comprometido com a educação e com o futuro das nossas crianças”, frisou.

Quando soube que Weintraub foi indicado para um cargo no banco, desqualificou o ex-ministro. “No Banco Mundial? É…Porque não sabem que ele trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009 e ele [Weintraub] era um dos economistas do banco”.

Weintraub usou as redes sociais para responder Maia. “Trabalhei no Votorantim por 18 anos. O Banco existe até hoje. NUNCA QUEBROU! Atualmente invisto em títulos da dívida dessa instituição por acreditar em sua solidez e seriedade. Espalhar Fakenews sobre a solvência de uma instituição financeira é muito grave”, postou.

Abraham Weintraub anunciou a saída do Ministério da Educação na última quinta-feira (18), em vídeo ao lado do presidente Jair Bolsonaro, a quem disse que continuaria defendendo mesmo fora do governo.

O ex-chefe da Educação vinha dizendo que ele e sua família estavam sofrendo ameaças e ontem (19) pelo Twitter disse que pretendia deixar o país o mais rápido possível. O nome de quem assumirá a pasta da Educação ainda não foi divulgado.

A exoneração de Weintraub foi publicada nesta sexta (19) no Diário Oficial da União (DOU). Na mesma data, o ex-ministro publicou no Twitter: “Aviso à tigrada e aos gatos angorás (gov bem docinho). Estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). NÃO QUERO BRIGAR! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!”

Confira a seguir outro trecho da carta que desqualifica Weintraub

1) Ideologia acima da política baseada em evidências – Citam, como exemplo, seu último ato no cargo, o de revogar uma portaria para ações afirmativas voltadas a negros, indígenas e pessoas com deficiência para ingresso na pós-graduação de universidades pública. E dizem que ele está sendo investigado no STF por divulgar notícias falsas.

2) Fraca habilidade de gestão – Baseado em um relatório do Congresso Nacional, dizem que Ministério da Educação estava “paralisado” devido à “instabilidade e falta de continuidade na gestão atual”. E que a administração da pasta sob Weintraub tem o menor número de indivíduos com experiência em gestão pública e temas relacionados à educação, seja no setor público ou privado. Com exemplo de impacto disso, usa os problemas ocasionados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) quando, segundo a carta, milhares de estudantes foram pontuados incorretamente e tiveram que ser reavaliados.

3) Falta de entendimento e capacidade de lidar com injustiças sociais e econômicas por meio de políticas públicas – Tratando ainda do Enem, afirma que Weintraub não aceitou mudar a data de aplicação do exame neste ano, o que prejudicaria os estudantes mais pobres que não têm instrumentos para estudar durante a pandemia.

4) Desrespeito pelos valores do multilateralismo, como tolerância e respeito mútuo – A carta afirma que Weintraub está respondendo a cerca de 20 ações judiciais no Supremo Tribunal Federal, citando a investigação sobre racismo contra chineses, que teve uma dura resposta da Embaixada da China no Brasil.

5) Conduta incompatível com os padrões éticos e de integridade profissional – “Tendo em vista o histórico de declarações racistas, desrespeitosas e agressivas do Sr. Weintraub, bem como sua clara ineptidão como formulador de políticas e agente público, o Sr. Weintraub não atende a vários requisitos e princípios do Código de Conduta do Banco Mundial para funcionários do Conselho”, afirmam os autores do documento.