Normalmente associada à terceira idade e mais comum em maiores de 65 anos, a Doença de Parkinson também pode afetar os jovens e até crianças. Pesquisas apontam que 20% dos diagnósticos da doença, que compromete os movimentos dos pacientes e causa tremores, ocorre entre jovens. Lentidão, rigidez muscular, desequilíbrio e alterações na fala e na escrita, são alguns exemplos.

Buscando chamar a atenção para a patologia, no último dia 4 de abril, terça-feira, foi o Dia Nacional do Portador da Doença de Parkinson. Além disso, a data também ressalta a importância do diagnóstico precoce e os tratamentos fundamentais para prevenir sequelas e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Sendo assim, o Sistema Sagres de Comunicação ouviu a médica neurocirurgiã, Ana Maria Moura. A especialista também é diretora de Relações Interinstitucionais da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

Entre os assuntos abordados, Ana Maria Moura destacou os principais sintomas, os efeitos da doença em homens e mulheres, prevenção, tratamento, cirurgia e cura.

Principais sintomas

A Doneça de Parkinson é uma condição neurodegenerativa causada por uma diminuição do neurotransmissor dopamina. Ela ajuda o indivíduo a realizar movimentos, atua no sistema de recompensa que dá aquela sensação de alegria, felicidade, movimento. Nesse sentido, falta exatamente a dopamina no parkinsoniano.

“O doente de Parkinson pode ter sintomas motores e não motores. Os primeiros são aqueles clássicos, que todas as pessoas pensam que todos com certeza vão ter, mas não necessariamente têm. É aquele tremor em repouso, ‘contando dinheiro’, geralmente assimétrico, porque o outro tremor, que é o essencial de diagnóstico diferencial, é bilateral, ou seja, nas duas mãos. O Parkinson tende a começar de um lado, para depois ir para o outro”, cita Ana Maria Moura.

Além disso, o parkinsoniano apresenta dificuldades na mobilidade, tanto em movimentos mais simples, quanto naqueles mais complexos. Por exemplo, o indivíduo com Doença de Parkinson enfrenta problema para guardar um objeto.

“Ele apresenta uma rigidez importante na musculatura, dificultando em fazer movimentos curtos e amplos. Até o simples gesto de colocar a mão dentro do bolso, ou para tirar carteira, ou para colocar. Também ao caminhar, então o paciente vai ter essa dificuldade nos passos, podendo cair, dar a meia volta para retornar. Esses são alguns dos sintomas motores e, juntamente com isso, uma postura com o tronco pra frente, que a gente chama de cifose”, explica a médica neurocirurgiã.

Neurocirurgiã Ana Maria Moura, professora do curso de Medicina da PUC Goiás e diretora de Relações Internacionais da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) | Foto: Arquivo pessoal

Sintomas não motores

Como disse Ana Maria Moura, os sintomas motores são aqueles clássicos, que incluem tremores, dificuldade em se mover, etc. Entretanto, o parkinsoniano também apresenta os sintomas não motores que, geralmente, começa com eles.

“Vai ser um sono agitado, então é comum os pacientes falarem no consultório que sonhou com guerra e acordam dando murro, chute. Uma dificuldade no olfato, às vezes a pessoa perde”, afirma.

“Também é comum constipação e sintomas relacionados a ansiedade e depressão são alguns não motores da Doença de Parkinson”, conclui a diretora de Relações Interinstitucionais da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

Efeitos em homens e mulheres

De acordo com Ana Maria Moura, o Parkinson acomete mais homens e mulheres. Apesar disso, a médica ressalta que não há estudos que comprovem essa prevalência maior na população masculina.

“Por exemplo, se a pessoa vai trabalhar arrumando casa, ela vai precisar muito do motor dela. Agora, se o indivíduo trabalha mais com cognição, também vai sentir, porque não falta só a dopamina. Tem uma proteína, a Corpúsculo de Lewy, que também está relacionada com Alzheimer. Por isso que vem a demência com o Parkinson e algumas outras inflamações em outras estruturas, como a mitocôndria”, pontua.

Na verdade, ainda conforme a especialista, o acometimento da doença está muito mais relacionado à atividade que a pessoa desempenha do que ao gênero do indivíduo.

“Então, depende da tarefa que essa pessoa está realizando. A mulher, em tempos de menstruação, ela fica mais frágil e isso pode acarretar em mais dores, com isso ela fica mais contraída, com rigidez maior. Agora, se for um homem com pressão arterial ou diabete associados, pode apresentar grandes repercussões”, ressalta.

Prevenção

Assim como outras doenças, o indivíduo também pode se prevenir do Parkinson com autocuidado. Sendo assim, uma dieta com a presença de ferro e magnésio pode ser importante para evitar o surgimento da patologia.

Doença de Parkinson não tem cura, mas existe muitos tipos de tratamento | Foto: Reprodução/Hospital Presidente)

“Evitar alimentação inflamatória, ou seja, doces, muitos carboidratos. Preferir uma alimentação com produtos orgânicos, que não tenha pesticida, porque isso também pode ser um sinal. Não necessariamente a Doença de Parkinson em si, mas outras doenças que podem provocar os mesmo sintomas, que chamamos de parkinsonismo. Dormindo bem, tendo um padrão de sono, evitando traumas, esporte de grande impacto por muito tempo, porque os microimpactos também geram Parkinson”, exemplifica Ana Maria Moura.

O parkinsonismo apresenta os mesmos sintomas da Doença de Parkinson, como tremor e rigidez, mas não é de fato ela. Por exemplo, um tumor cerebral em um circuito do cérebro que controla os movimentos, o paciente apresentará essas condições, mas não terá o Parkinson.

Tratamento

A Doença de Parkinson não tem cura, mas possui tratamento que pode amenizar os sintomas no paciente. Para isso, uma equipe multidisciplinar precisa acompanhar esse parkinsoniano, deixando-o mais relaxado possível.

“Musicoterapia, meditação, esporte, caminhada, oração e também fisioterapia. Nas medicações, como o cérebro falta dopamina, então medicamentos que tenham a substância, ou que faça a transformação de elementos nessa dopamina, e relaxantes musculares”, destaca.

Além disso, há a possibilidade ainda de um tratamento cirúrgico, com uma estimulação cerebral profunda, da sigla em inglês DBS, que quer dizer Deep Brain Stimulation.

“O paciente vai ser bem avaliado, para saber se é um candidato cirúrgico. Nós fazemos dois furinhos na calota craniana, descemos o eletrodo intracerebral, passamos a conexão debaixo da pele e ligamos a um marcapasso no tórax. Ele vai jogar energia para a pontinha desse eletrodo no cérebro, que vai restabelecer o circuito do movimento normal”, finaliza Ana Maria Moura.

Existem outros tratamentos cirúrgicos, como a neuroablação, que consiste basicamente na mesma técnica do DBS, e a radiocirurgia.

*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 03 – Saúde e Bem Estar

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