IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), é o décimo chefe estadual a ser contaminado com o novo coronavírus. O teste positivo chegou às mãos do tucano por volta do meio-dia desta quarta (12).

“Eu estou me sentindo bem, estou assintomático. Vou trabalhar à distância”, disse o governador à reportagem. Ele ficará dez dias isolado em sua casa, despachando de forma remota. O vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), assumirá os eventos presenciais no Palácio dos Bandeirantes.

Ele afirmou que “não tem ideia” de onde possa ter contraído o patógeno, dado que, apesar de tomar cuidados como uso de máscara e distanciamento, participou de inúmeras reuniões nos últimos 14 dias -o tempo usual de incubação do vírus.

Doria também publicou um vídeo em suas redes sociais anunciando a doença. Nele, conta que este foi seu sexto teste e que, “infelizmente”, deu positivo. “Eu estou com o coronavírus”, disse. Como nas outras vezes que foi examinado, divulgou o resultado.

“Vou para casa, seguir o protocolo médico, a orientação do doutor David Uip [inegrante do comitê de combate à doença no estado]. De lá manterei minha relação com todos os setores do governo de São Paulo. Vou cumprir esse protocolo por dez dias. Tudo isso vai passar, a vacina vai chegar”, afirmou no vídeo.

“Ele não pedirá licença do cargo e da sua casa continuará dando as orientações”, disse Garcia, em entrevista no Bandeirantes.

Tanto o governador como membros de sua equipe fazem exames regulares para detecção do vírus da Covid-19. Agora, todos que tiveram contato com Doria nas duas últimas semanas no governo farão testes.

Patricia Ellen, secretária do Desenvolvimento Econômico, e Flavio Amary, secretário da Habitação, já estão isolados e aguardam o resultado do teste da Covid-19, segundo Marcos Vinholi (Desenvolvimento Regional).

No governo estadual, houve outras baixas. O secretário Rossieli Soares (Educação) chegou a ficar internado em estado grave, mas se recuperou, da Covid-19. E João Camilo Pires de Campos (Segurança Pública) foi contaminado.

O próprio Uip, que é médico infectologista e agora atenderá Doria, também ficou doente quando era o chefe do comitê de combate ao vírus. Está recuperado.

Até o diagnóstico de Doria, 9 dos 27 governadores de estado haviam contraído a doença, pelo menos 31 dos 513 deputados federais e uma série de autoridades -a começar por Bolsonaro e pelo menos quatro ministros de seu governo. Prefeitos de capital, como Bruno Covas (PSDB), de São Paulo, e Arthur Virgílio (PSDB), de Manaus, também ficaram doentes.

Não houve mortes entre essas autoridades. O primeiro caso conhecido no país entre autoridades foi o de Fábio Wajngarten, então secretário de Comunicação da Presidência, que estivera com Bolsonaro numa viagem para encontrar Donald Trump nos Estados Unidos.

Desde o começo da pandemia, o tucano emergiu como a principal liderança estadual a antagonizar-se com o negacionismo esposado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que desenvolveu uma forma leve da doença no mês passado.

Infectado, Bolsonaro seguiu com o proselitismo que faz em favor do uso da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Mostrou caixa do remédio para apoiadores e credita a seu uso só ter tido efeitos leves, semelhantes à “gripezinha” que notabilizou seu discurso sobre a doença.

Doria, por sua vez, sempre buscou colocar-se em oposição à atitude de Bolsonaro. Pressionado pela crise econômica crescente, decorrente das nove quarentenas pelas quais São Paulo passou desde março, ele teve de reabrir aos poucos o acesso a serviços e comércio.

Manteve a crítica ao presidente, que por sua vez continuou colecionando frases para minimizar a crise. Enquanto o país passava dos 100 mil mortos pela pandemia, Bolsonaro defendeu “tocar a vida”.